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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Woof


Pela fresca. Primeiro tempo. Vinte e sete almas entram-me sala dentro. Sacodem a névoa das noites adolescentes cheias de sonhos e pesadelos. Arrastam o corpo e trazem a alma ainda nos braços de Morfeu. Vejo-me neles. Revejo-me há três décadas atrás. O sacrifício, o suplício, o degredo de horas sem fim de Inverno pela manhã. Como os odiava. Como odiava frio e dias cinzentos, a regra neste sítio de onde os dias amenos emigraram e sol e calor eram referências passadas de um lugar ermo e distante. Entram mais. Uns agitados e instala-se o burburinho da arrumação das almas e dos corpos desengonçados. São muitos. Muitos sonhos, muitas vidas que vejo despontar nas afirmações convictas de quem tudo sabe. Vinte e sete. Falta um. Um rosto comprido e moreno num corpo magro aproxima-se com a rapidez habitual. O ar meio aflito Stora, a Mafalda chega mais tarde. Ela pede desculpa mas está atrasada. e a justificação quase a sair antes que a professora vocifere Atrasada? e dê conselhos Têm de se levantar mais cedo, meninos, a ameaça Para a próxima marco falta, a impaciência Estou farta de vos dizer e a constatação Não podem chegar atrasados. Franzo o sobrolho e justificação salta-me para o colo Stora, o cão da Mafalda fugiu. Ela foi à procura. A professora arruma os recados, conselhos e relambórios, por esta altura um bocado puídos de tanto uso, inúteis agora, e pensa Fugiu? Tadinho. A aula começa. Onde andará o malvado?

4 comentários:

  1. Entretanto o canito apareceu :)

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  2. Ah, ah...gosto tanto deles e de a ouvor falar assim deles.Acho que é tão bom sentir isto depois de 23 anos de ensino.
    ~CC~

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  3. É muito bom mas há alturas em que tenho medo do futuro e de não aguentar o ritmo deles. Até lá folgam as costas :)

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