Pela fresca. Primeiro tempo.
Vinte e sete almas entram-me sala dentro. Sacodem a névoa das noites
adolescentes cheias de sonhos e pesadelos. Arrastam o corpo e trazem a alma ainda
nos braços de Morfeu. Vejo-me neles. Revejo-me há três décadas atrás. O sacrifício, o
suplício, o degredo de horas sem fim de Inverno pela manhã. Como os odiava.
Como odiava frio e dias cinzentos, a regra neste sítio de onde os dias amenos
emigraram e sol e calor eram referências passadas de um lugar ermo e distante.
Entram mais. Uns agitados e instala-se o burburinho da arrumação das almas e
dos corpos desengonçados. São muitos. Muitos sonhos, muitas vidas que vejo
despontar nas afirmações convictas de quem tudo sabe. Vinte e sete. Falta um.
Um rosto comprido e moreno num corpo magro aproxima-se com a rapidez habitual.
O ar meio aflito Stora, a Mafalda chega mais tarde. Ela pede desculpa mas está
atrasada. e a justificação quase a sair antes que a professora vocifere Atrasada? e dê
conselhos Têm de se levantar mais cedo, meninos, a ameaça Para a próxima marco falta, a
impaciência Estou farta de vos dizer e a constatação Não podem chegar
atrasados. Franzo o sobrolho e justificação salta-me para o colo Stora, o cão da Mafalda fugiu. Ela foi à procura. A
professora arruma os recados, conselhos e relambórios, por esta altura um bocado puídos de
tanto uso, inúteis agora, e pensa Fugiu? Tadinho. A aula começa. Onde andará o malvado?
:)
ResponderEliminarEntretanto o canito apareceu :)
ResponderEliminarAh, ah...gosto tanto deles e de a ouvor falar assim deles.Acho que é tão bom sentir isto depois de 23 anos de ensino.
ResponderEliminar~CC~
É muito bom mas há alturas em que tenho medo do futuro e de não aguentar o ritmo deles. Até lá folgam as costas :)
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