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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Às vezes

Às vezes quando me vêm com a conversa de que os jovens hoje são uns mimados, eu digo que sim, que são, não estão habituados a ser contrariados, amuam quando se lhes diz que não e resistem pouco à frustração. Não há paciência, vocifero.
Mas há vezes outras.
Nas vezes outras eu vejo filhos a preocupar-se com os pais mais do que deviam, assumir a educação dos irmãos, a trabalhar aos fins-de-semana e em part-time para se aguentarem e para ainda ajudar os pais. E isto não é autonomia nem responsabilidade. São valores invertidos numa ampulheta de sentido único. E vejo professores intolerantes pelos atrasos, faltas de atenção, os livros que nem existem pela falta de dinheiro. Nessas vezes outras em que por acaso se descobre que por trás daquele rosto sorridente se esconde uma adolescência interrompida, eu já não sou a primeira e de coração comprimido sento-me quieta em luto pelas adolescências perdidas.


Para o R. que nunca virá aqui nem conhece a existência deste blogue.

14 comentários:

  1. Leonor, concordo muito com o que dizes e é bom de vez em quando alguém conseguir ter um olhar mais objectivo sobre o assunto em vez de assumir o que "se diz por ai" e repeti-lo até há exaustãocomo chavão de critica à nossa sociedade. É que se muitos jovens são mimados, outros, não têm mimo nenhum,

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    1. Vive-se de clichés nos dias que correm. Ninguém pára para pensar: os professores são todos umas bestas, funcionário públicos idem, e os alunos do público uns animais à solta. Não é verdade, ou não o é totalmente. Há adolescentes que têm vidas muito complicadas, é-lhes exigido mais do que era no meu tempo mas só se fala dos mimados. Generalizações são sempre abusivas. Quem é professor conhece muito bem o desequilíbrio em que se vive.

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  2. :) Uma realidade que sinto muito, e que poucos parecem compreender...

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    1. Porque desconhecem este tipo de realidade. É mais fácil atirar pedras e repetir coisas que ouviram já nem sabem onde até à exaustão.

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  3. E em que luto vivo por uma série de adolescentes a quem dou aulas. Quantas vezes chego a casa e choro, choro mesmo. Há histórias inacreditáveis. Há pais que não deviam ser pais, há professores que não deviam ser professores... E eu choro, pois não posso fazer nada. Ainda ontem disse à minha mãe: "quem me dera pegar na I. e trazê-la para minha casa!"
    Enfim...

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    1. O pior que podemos sentir, e sei porque choras, é a nossa impotência, a certeza de que podemos fazer pouco, além de ouvir, acarinhar, dar um ombro. E fazemo-lo muitas vezes. Podemos dar-lhe um pouco de conforto nos 90 minutos que estamos com eles. E depois?

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  4. Generalizar, empacotar é sempre mais fácil do que parar para observar. Ter uma postura critica, cheia de certezas e lugares comuns é uma espécie de defesa contra um realidade que dá muito trabalho enfrentar. Gostei imenso deste seu desabafo.

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    1. Mas as generalizações são tão cansativas e tão injustas, Cristina. Hoje em dia há demasiadas certezas e pouco espaço para um debate aberto de ideias sem permanentes acusações e às vezes ofensas. Acontece-me muito no Delito de Opinião.

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  5. Há-os insuportáveis e há-os formidáveis, como em tudo e em todas as classes e grupos. É preciso é ver para além do óbvio... Bj

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    1. Sim, claro, Fátima. A questão nem são tanto os professores, é a diabolização que se faz de tudo.
      Beijinhos

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  6. Oh...cada vez é mais verdade o que diz Leonor...existem crianças, porque no fundo ainda são crianças a assumir um papel que não é o delas....

    Fiquei comovida, porque o meu mano teve esse papel há 27 anos atrás.

    Beijinhos

    Ana

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    1. Nas há 27 anos, Ana, as condições de vida das pessoas eram piores. Era esperado que em pleno 2012 tivéssemos avançado e também que houvesse mais inteligência e lucidez para encarar a realidade. Não é o caso infelizmente.
      Beijinhos

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  7. Tal e qual o que eu sinto :) E com alunos crescidos - ensino superior. Metade dos meus alunos trabalham para suportar as propinas, alguns à noite.
    ~CC~

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    1. Pois, cada vez mais. E cada vez mais tenho alunos que me dizem que não vão para o Superior porque os pais não têm dinheiro. Triste estado, este ao que chegámos.
      Beijinhos

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