Sala de directores de turma. Final de tarde. Esventro o dossier que ajudei a engordar ao longo do ano e folha a folha vou estirpando a pasta obesa de papéis incómodos, vãos agora, horas e horas perdidas ao longo do ano. Vejo-a chegar na penumbra. O estio espreita pelas frestas das janelas em réstias de luz ténues de fim de tarde. Cumprimentamo-nos. Pergunto-lhe E novidades? Não há, responde-me, não sei onde fico. Recolhemo-nos na arrumação da papelada com perguntas pelo meio E isto? Deito fora ou é para o arquivo? Isso aí é o dossier das actas? Resmungo como sempre contra burocracia e trabalho que não dá frutos. Resmungo muito. Resmungo sempre. Rasgo papéis com vigor, ausento-me na senda de um dossier perdido. Regresso. Ela está ao telefone. Empato por uns minutos a minha saída na esperança de que acabe o telefonema e me possa também despedir. Aproximo-me da secretária onde a ouço despedir-se longamente. A conversa vai longa sem prenúncio de um final. Chego perto, toco-lhe no braço e aceno com a mão. Interrompe o telefonema e pede um instante Espera só um bocadinho. Está aqui a Leonor para se despedir. Abraçamo-nos. Dou-lhe um beijo e digo, quando lhe ouço os primeiros soluços, Vá, não fiques assim! Engulo o primeiro soluço, engulo as lágrimas teimosas e digo-lhe Tenho esperança. Nada está perdido! Toco-lhe na mão, um consolo inútil. Digo-lhe ainda Não fiques assim. Lanço-lhe um sorriso desajeitado.
E saio.
É muito triste uma situação destas. Com certeza alguém há muito professora, possivelmente já do quadro. Não consegui reprimir uma lágrima. Fico desesperada com a insensiblidade deste governo. Tal como os outros, vai fazendo o que quer dos professores, sem respeito nenhum por a sua carreira, pelos anos que já deram ao ensino, por toda a sua dedicação. Diz o povo que Deus não dorme. Será que não? Será que vão continuar impunes,sempre a tramar-nos ?
ResponderEliminarSim, esta colega é do quadro. Esteve destacada na escola. Gosto muito dela e ontem fiquei destroçada, mas tal como lhe disse ainda tenho esperança. Este governo está-se nas tintas para as pessoas.
EliminarBeijoca :)
EliminarNão sou professora, mas estou completamente solidária com os professores nestes tempos horríveis. É uma vergonha a forma como este governo vos tem vindo a tratar. Completamente inaceitável. Um beijo e força para o que infelizmente ainda há-de vir.
ResponderEliminarObrigada pela solidariedade. Estão a ser momentos muito difíceis na educação e prevejo um ano muito complicado.
EliminarBeijinhos
Queria comentar mas não consigo...
ResponderEliminarNem dá para comentar :(
Eliminarè muito triste.
ResponderEliminarCada dia que passa, vai desvanecendo em mim a esperança.
Não quero ser fatalista mas, Portugal já não é nosso.
Abraço apertadinho, Loca.
ResponderEliminarNão está nada fácil continuarmos a ser optimistas infelizmente.
ResponderEliminarA vida dos "não professores" também não está fácil... Aliás, tirando os malandros dos políticos e afins, mais os grandes escritórios de advogados que com eles conluiam, os bancos e as grandes empresas, particularmente as das PPP, a vida está mais ou menos difícil para todos. Nem vale a pena dizer que alguém pôs esta gente no poder, porque é óbvio e também se não fossem estes seriam os que lá estavam antes. A questão é se há ou não alguma diferença substancial entre os dois...
ResponderEliminarA diferença é que estes ainda conseguem ser piores. Sócrates eram um desmiolado megalómano mas estes estão-se nas tintas para as pessoas e revelam uma total insensibilidade. Não vejo o dia em que acorde e já se tenham ido.
EliminarNenhuma vida está fácil Leonor, mas realmente a precaridade da vossa e o "aguentar" certas situações levam-me a dar graças por não ter seguido a sugestão da minha mãe
ResponderEliminarBeijinho
Está muito difícil par todos nós. Quem me dera conseguir dar uma outra volta à minha vida, Mané. Entretanto vou recomeçar a escrever no Palato :)
Eliminar