A vida é uma pilha de pratos a caírem no chão. Vai a gente muito devagar da sala à cozinha, com aquela loiça toda de dias, de semanas, de meses em equilíbrio uns sobre os outros a tilintarem e a tremerem, mais dúzias de garfos e facas escorregando lá em cima, no meio dos restos de comida e dos restos de infância, de espinhas de peixe de pequenas mentiras e de folhas de alface de domingos felizes, e nisto, sabe-se lá porquê os anos entortam-se, uma saudade escorrega (…), os dias, as semanas, os meses deslizam uns a seguir aos outros, devagar primeiro, depressa depois, tudo junto por fim, e eis a vida em cacos no linóleo.
António Lobo Antunes in Segundo Livro de Crónicas
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comments are welcome :-)