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terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Mudez

Acho uma certa piada, sinto um misto de desconfiança e admiração pelas pessoas que dizem que quando querem, escrevem sempre alguma coisa. Pois eu ando por aqui há dois dias a pensar, a dar a volta à cabeça, afagando o teclado e fazendo olhinhos ao monitor e nada, rigorosamente nada. Nem uma palavrinha, uma frase completa ou uma ideia de jeito. Ontem deitei-me também com o Bernardo Soares, além do H., para ver se me inspirava, descubro entretanto que António Lobo Antunes escreveu a letra da coladera cantada pelo Tito Paris Criolo ca tem patron, dei umas voltas na poesia do Alberto Caeiro, espreitei Vinícius de Moraes, mas palavras e textos rigorosamente nada. Continuava muda. Julgo que esta mudez de escrita terá a ver com o meu Natal: diferente, tranquilo e silenciosamente triste sem que nenhum de nós em momento algum deixasse que essa melancolia ensombrasse a noite e a data. Houve presentes, doces e fritas e da ausência física do meu pai criámos um elo forte indivisível, uma aura intransponível de cumplicidade e intimidade, lutando permanentemente contra esta falta tão funda em nós.

4 comentários:

  1. O teu silêncio vale muito mais que 1000 palavras da maioria das pessoas!

    E isso de te deitares com o H. e com o Bernardo, e ainda o vires admitir publicamente, não me parece nada bem... ;o)

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  2. Oh, mas não é dessas pequenas promiscuidades que é feita a vida a dois?

    Fiquei feliz pelo teu Natal! *

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