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domingo, 19 de março de 2006

Dia do Pai

A língua é uma floresta densa e labiríntica que tanto nos acolhe como nos responde com ciladas ardilosamente dissimuladas nas suas profundezas. Vem isto a propósito do Dia do Pai, não o primeiro que passo sem estar com o meu querido pai mas o primeiro que não posso fisicamente partilhar com ele. Quando num destes dias de bombardeio intenso de publicidade ao dito dia dei por mim a pensar lamuriosamente Dia do Pai… do Pai que já não tenho, recuei de imediato perante a falta de acuidade linguística, a minha própria falta e por ter caído numa das armadilhas da língua. Recompus-me e dei-lhe para trás, à língua, que me impunha esta premissa falsa. Na verdade, não creio que pai ou mãe se possam deixar de ter apenas por terem partido. Ter pai ou mãe situa-se além da condição efémera encerrada no verbo e das contingências da sua autoria biológica. Gente há que não teve nunca pai, não porque se lhes ausentasse, apenas porque mais não foi do que procriador, obedecendo às leis básicas da natureza para de seguida procurar uma outra fêmea que desse continuidade à espécie, votando ao abandono os filhos, primeiros, segundos, terceiros, ignorando, desprezando a sua existência e continuando por essa vida, cheios com o seu próprio vazio.
Hoje, portanto, apenas não poderei abraçar o meu querido pai,
tê-lo-ei para sempre, não obstante.

5 comentários:

  1. Tens razao L., O pai e a mae, sao sempre nossos e nunca deixamos de os ter. So nao os vemos e lamentamos terrivelmente esse facto, mas sempre SEMPRE nossos. Ninguem os substitui.

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  2. Ninguém mesmo. Esse é outro dos grandes enganos, andar constantemente e dizer-se que ninguém é insubstituível. Apenas os cargos e papéis que ocupamos socialmente o são, no mundo dos afectos todos somos insubstituíveis e é também isso que faz valer a pena. Bjs grandes

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  3. Sempre, querida L.
    E quem dera a muita gente ter o pai que tu tiveste e tens.
    Montes de beijos.

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  4. Concordo contigo, fantasminha, sou uma sortuda por ter essa memórias e esse afecto tão grande e acima de tudo por ter tido e continuar a ter um pai assim. Mil beijocas

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  5. E, sobretudo, ele estará sempre em ti. E em ti o terás como ninguém mais. É em ti que ele se arrasta para fora do tempo vivido, inaugurando esse tempo novo, de ser no amor, de permanecer pelo amor. Beijos.

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