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A D. é uma pessoa muito especial também porque apenas quem a conhece bem, sabe como é, não apregoa, não diz que fez, não se tem como boa e generosa. Ela e o meu pai tinham contendas longas em torno do português, às vezes encontrava-os de dicionário em punho, um contradizendo o outro, a D. dizendo-lhe Mas também se pode dizer assim..., facto que dificilmente aceitaria. O meu querido pai lá andava em torno dos seus canhenhos para lhes esclarecer as dúvidas ou simplesmente para alimentar mais um pequena discussão. Não concordavam facilmente ou não fossem ambos detentores de feitios especiais, ambos teimosos, ambos respondões e impulsivos, se necessário fosse. No aniversário do meu pai, porém, não faltava nunca pão-de-ló, feito com todo o carinho pela D. e isto não porque o meu pai tivesse trazido consigo esta tradição da casa de sua mãe, mas porque o meu pai adorava pão-de-ló com queijo da Serra e porque a D. o sabia, brindava-o sempre com esse bocadinho de amor.
Levava-me para a praia em criança como o seu A., também ele uma pessoa tão especial, ambos se lançaram pelos campos para me oferecerem um enorme bouquet de alcachofras no meu aniversário, ambos me fizeram assim como hoje sou e me ajudaram a crescer, a ambos devo experiências únicas, carinhos indizíveis, e ambos são capazes de tudo guiados por esse coração tão grande mas que ambos escondem tão bem, mesmo um do outro. Foi com enorme emoção, portanto, que me foram padrinhos nesse dia escaldante de Setembro. A D. cobre-se de cuidados e carinhos para com os outros, sem lamechice, não se agarra a nós aos beijos, não diz que nos ama, não se debulha em lágrimas ou se derrama em prantos. A sua linguagem é a dos gestos e o seu caminho o do coração. Para que são necessárias palavras quando os gestos falam assim?
E um beijo para a D...
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