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domingo, 12 de março de 2006

Visitas intrometidas

A saudade é uma visita intrometida que chega sem avisar, sem tão pouco se anunciar, apenas um toque na campainha e a entrada de rompante pelo hall da nossa vida, pelo corredor da nossa existência, pela sala do nosso coração Olá! Vim cá passar uns tempos. Instala-se sem pedir licença, sem cortesia ou cerimónia, abandonando-se no sofá de pés descalços, com os dedos abanicando um a um, as pernas estendidas sobre a mesinha de apoio em frente da televisão, de comando na mão, fazendo zapping furioso à nossa vida passada que vemos então correr em séries no pequeno ecrã à nossa frente, sem podermos sequer mudar de canal, apagar os episódios e prosseguir com o que resta e nós ali a olhá-la e ela a acomodar-se Que bem estou aqui! dando um suspiro fundo, ajeitando-se mais uma vez, sem data de partida, impondo a sua presença sem qualquer delicadeza e, quando damos por ela, sentou-se à nossa mesa, estendeu-se pela casa e percorre-a familiarmente descalça como se não existíssemos, como se nada mais pudéssemos ser do que ela própria e mais não pudéssemos respirar e mais espaço não houvesse do que o halo cortante que espalha pelo ar à sua passagem.

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