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sexta-feira, 14 de julho de 2006

Pregando aos peixes

Desde que começou este processo de revisão do Estatuto da Carreira Docente, ECD para os amigos, que ando por aqui caminhando nesses caminhos algo labirínticos da profissão docente. Pela primeira vez na minha vida não fiz greve no passado dia catorze de Junho, exactamente por não rever nem nas palavras da Ministra da Educação nem nas palavras dos Sindicatos e nem sequer concordar com o papel de virgens ofendidas com que a opinião pública foi tristemente presenteada por parte de alguns de nós e dos sindicatos aquando do aparecimento de um parâmetro, um apenas, que prevê a apreciação, não avaliação, do trabalho dos professores pelos Encarregados de Educação. Não ouvi levantarem-se vozes contra questões de fundo, graves, que vão impedir o professor de se formar convenientemente, condição absolutamente fundamental para um professor competente, ou de progredir para o escalão seguinte, mesmo tendo uma avaliação de excelente.
Na Escola instalou-se um clima quase fúnebre e desde já a cisão começou. Quando, a título de exemplo, digo que quando o novo ECD entrar em vigor, isto ou aquilo não se vai poder fazer ou vai ser possível, dizem-me que ainda não entrou em vigor, alimentando uma esperança vã de que algo vai mudar e de que hipoteticamente os sindicatos irão conseguir negociar não sei muito bem o quê. Ainda não os ouvi avançar com uma proposta concreta.
Um dia destes ao ler as orientações para o novo ano lectivo no Diário da República, despacho nº13 599/2006, deparei com o que já sabia que iria acontecer, não porque seja vidente, mas porque é por demais evidente que pé ante pé o ECD, antes de ser implementado, já está a chegar. Assim sendo, no fim do ano lectivo deve ser feita “uma análise da distribuição do serviço docente efectuada, avaliando os resultados obtidos com o planeamento realizado, tendo em conta, entre outros, os seguintes indicadores: a) resultados escolares dos alunos; b) ambiente de trabalho criado; c) cumprimento dos programas curriculares das diferentes disciplinas; d) condições de segurança da escola”. Eu ainda não ouvi alguém tecer seja que comentário for em relação a isto, nem tão-pouco alguém a dizer à Ministra que das duas uma: ou os programas estão errados, uma vez que a tónica é posta no processo de aprendizagem acima do produto final, vulgo resultados, ou é ela que está errada nesta obsessão que manifesta nos resultados, e mais, no caso das línguas estrangeiras abandone-se desde já o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas parido pelo Conselho da Europa e que alguns professores gostam de dizer, por desconhecimento do mesmo, que é só teoria. Esqueçam o ênfase no percurso de aprendizagem. Os exames são um belíssimo exemplo de como a opinião pública está a ser manipulada. Sendo mais fáceis, grosso modo, do que em anos anteriores não se entende que os resultados não tenham evidenciado essa aparente facilidade. Logo, segundo a Ministra, a culpa é dos professores, uma vez que a nós serão/são imputadas todas as responsabilidades dos resultados dos alunos, traduzidos num número resultante do exame, que como se sabe é apenas um e só um momento na vida dos estudantes e, como todos sabemos, pode ser um bom ou mau momento, de resto, como todos os outros. Os exames podem até ser fáceis mas se os critérios de classificação se excederem no Certo/Errado não há facilidade que resista. Ao que isto chegou... diria o meu querido pai e ainda não chegou tudo, digo eu.

2 comentários:

  1. Ah, não chegou mas há-de chegar!
    E se o problema da nossa querida ministra é a discrepância entre as notas das avalições e as notas dos exames, oh pá, então que me diga já. Se ela acha que só esses elementos de avaliação é que traduzem o desempenho dum aluno ao longo do ano não teria eu mais prazer que mandar as minhas tabelas de excel ao ar, onde tenho de ponderar trabalhos de casa, apresentação do caderno diário, participação na aula, assiduidade, pontualidade, comportamento, trabalhos escritos, apresentação de trabalhos, etc.
    Ora que bom que era: dois testes por período e nota final igual à média dos testes e pronto. E se ainda fosse demais o melhor mesmo era dara matéria ao longo do ano inteiro e eles irem só fazer o exame no final. Muito inteligente. Ainda não me tinha lembrado.

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  2. Nem me digas... Por isso é que isto me irrita tanto :(

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