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quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Portugalex

Um ano. Um ano para fechar uma conta da qual o meu pai também era titular. Um ano e sempre a contar. Primeiro o melhor era deixar mesmo assim, tal como estava. A minha mãe não acedeu e exigiu fechar a conta. Veio um, dois funcionários. Que era necessária a assinatura do meu pai. Ora, se o meu pai pudesse assinar, talvez não fosse necessário fechar a conta ou ele próprio compareceria para o fazer, não lhe parece? Pois, nesse caso. A certidão de óbito, então. Certidão de óbito ali mesmo, presente na hora. Ah, afinal não, não dá, tecla aqui, tecla ali, um olhar de asno desconfiado para o ecrã e zero. Mais umas cacetadas no teclado, mais umas rosnadelas para o ecrã. Nada. Olhe, venha cá noutro dia. E as cartas a ameaçar cobrança de despesas de manutenção de uma conta que nem quer ser mantida e olhe pronto, não sei, não dá. Deixe lá. Neste campo até a PT lhes conseguiu ganhar, porque após uns oito ou dez meses de tentativas infrutíferas para alterar o nome de assinante, centenas de telefonemas para cá e para lá, sabe-se lá como e porquê a minha mãe conseguiu o feito de cessar a assinatura em nome do meu pai. Erga-se-lhes já uma estátua. Tamanha eficiência é rara nos dias que correm.
Agora um mês à espera de um mero orçamento para uma visita de estudo. Os e-mails não chegam, perderam o meu contacto, ah, ainda bem que ligou. Ainda não conseguiram, vão fazer, desculpas, muitas desculpas mas fique tranquila e os dias passam. A viagem é à Europa, sem nada de sofisticado e transcendente. Caso não fosse uma situação oficial, eu própria já o teria feito sem qualquer dificuldade.
Oito noites sem iluminação pública. Oito noites de reclamação, oito noites de desculpas e braços cruzados, cada reclamação como fosse a primeira e lá fora noite de breu. Primeiro o espanto, ah vou já registar, após oito dias de telefonemas e reclamações, cada vez como se fosse a primeira. Quando o piquete tiver tempo, virá resolver o problema, logo se o sr. Dr. Piquete estiver muito ocupado, assim ficaremos nas trevas sabe-se lá até quando. Isto para não falar da certidão de nascimento que pedi há seis anos para o meu casamento e que também se deve ter extraviado sem se saber como, porquê. De resto, nem interessa. Mas interessa a alguém quem faz o quê? É que se alguém souber, vai ter de chamar esse alguém à atenção e, como se sabe, isso é tarefa trabalhosa e, em nome dum corporativismo bacoco, ninguém chama ninguém à atenção de coisa alguma. Coisas mesquinhas estas, pequenas, comezinhas, ridículas, quase ofensivas, se e quando comparadas com a guerra e fome no mundo.
Os estrangeiros até acham isto giro e tal, é pitoresco, preservado da industrialização e aparentemente da destruição ambiental, o povo é tão simpaticozinho, ainda não fomos devorados e digeridos pelo turismo de massas, somos tão queridos e hospitaleiros, estendemos a roupa interior à porta de casa e tudo, a gastronomia um deleite e o clima ameno uma bênção dos deuses, pena é que as tarefas mais elementares se apresentem como feitos heróicos apenas comparáveis à passagem do cabo das Tormentas.

11 comentários:

  1. Ando eu há anos a tentar fechar uma conta que tem 0.01 cêntimos. Vem ainda da época dos escudos. Não me deixam fechar porque lá tenho dinheiro, mas tb n posso levantar porque é muito pouco.
    E a situação arrasta-se...
    O mais curioso é que de 3 em 3 meses recebo o extracto da conta a dizer exactamente o dinheiro que tenho. Gastam mais no selo, mas enfim... o problema é deles. :)

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  2. Também tenho histórias dessas sobre o meu pai. Seriam cómicas se não versassem sobre assunto tão doloroso!
    O nosso país é um espanto!
    Beijos

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  3. Oh L. adoro a maneira como escreves.
    ;)

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  4. Tenho de repetir o que a patxocas disse :)
    E infelizmente estas situações vão-se mantendo e repetindo e é assim que o nosso país (não) funciona...

    Uma colega quis acabar com a TvCabo. Mandou faxes e afins e eles não respondiam, não faziam nada. Ela deixou de pagar. Começou a receber cartas e telefonemas a ameaçar processo em tribunal, ao que ela respondeu que não queria o serviço, que já tinha avisado, venham cá desligar sff. Adivinhem. Nada foi feito, ela continuou sem pagar, eles continuaram a reclamar o pagamento, mas ninguém lá foi desligar o sinal...

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  5. Incompetência, é o que é.Abundante neste nosso querido pequeno país.

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  6. Será isto o famigerado SIMPLEX de que o governo fala?...
    O pior é que esta incompetência é comum a uma série de serviços públicos... infelizmente para nós que temos que recorrer a eles.
    Bjs

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  7. (Olhar estrangeiro) Of all the countries and societies I have known well, not one contains as much contradiction & paradox as Portugal. This is evident every single day, however we choose to look at, or listen to it. You can imagine that we fully understand and sympathise your predicament with the account, hacing seen similar, HURTFUL sagas over the past 16 years since the first death, particularly to do with BES.
    2 weeks ago, my mother-in-law received a bill from the hospital for the tests made on the day she was interned. The same hospital in which she had died 3 weeks before. She is not going to pay it. If they insist, she will present them with her bill, for what they owe her for the lamentable, execrable non-treatment they provided during her last 8 days.
    I'm wondering if you all make the same association/equation that I make, that the other side of the coin of all this gross, backward incompetence is an area that Portugal does excel in - corruption?

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  8. Na altura da morte da madrecita, exigiram que nós, os filhos, assinássemos um documento a dizer que a casa que foi construída com muitos anos de trabalho dos meus pais, continuava a ser pertença do meu...pai. Isto dez dias depois do sucedido, dá vontade de matar (leram bem) a pessoa que nos aparece à frente com um pedido desses. A sério que dá.

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  9. Desculpa...com a «neura», esqueci-me de te desejar.
    um grande fim de semana
    Bjokas

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  10. Well, dear S., I don´t think corruption is that biga a problem in Portugal, I mean not in these everyday life areas. The problem, as I see it, is incomptence. Nobody is ever held responsible for anything, so why bother?

    Carlos, que dizer mais? Bjs e bom fim-de-semana também.

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  11. Percebo-te.
    Como se não bastasse não ter a pessoa de quem tanto gostamos, ainda por cima temos de convencer os outros de que ela já não existe.
    Tive de tratar de tudo, tudo, tudo relacionado com os papeis do meu pai. Desde funeral, a finanças, bancos, etc... Foi horrivel.
    E de vez em quando ainda apanho umas pontas soltas.
    E eu, que nem o meu IRS entregava. Era o meu pai que me tratava de tudo. Tive alturas em que quase me "enfurecia" de ele já não estar cá, só por causa das voltas e burocracias que me fez tratar.

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