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domingo, 29 de outubro de 2006

Tempo sem horas

Ontem não me ligaste. Ontem não me ligaste a dizer Não te esqueças, amanhã muda a hora. Nem ligaste ontem para contar Olha, já mudei a hora aos relógios todos de cá de casa e relembrar-me Não se esqueçam! Ontem nem uma palavra acerca do relógio sobre a soleira da porta da sala. Uma apenas. Ontem a Mamã não me disse O Papá já mudou a hora aos relógios. Ontem senti que o tempo tinha mudado, longe das horas que mudam, desejando que não tivesse mudado ainda o tempo e me ligasses ainda a tempo de pararmos o tempo e não mudarmos as nossas horas.

8 comentários:

  1. Que lindo! Já me emocionei, aqui, com lembranças bem parecidas...
    bjs

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  2. Que saudade tenho tido do meu pai! Depois de resolvidos as questões de sobrevivência sem a presença dele, de relativa habituação ao seu não estar e de necessariamente "esquecidos" os momentos da sua dor física, fica esta dor imensa que silenciosamente me devasta. O meu pai trazia consigo o sangue brasileiro da sua mãe e, às vezes, sinto que isso o fazia diferente na relação comigo. Bjs grandes

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  3. Ainda custa, não é N.? Só atenua. Nas mais pequenas coisas a ausência doi.
    Bjinhos

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  4. Se dói! A ausência dói muito, bem cá dentro de nós e de uma maneira difícil de exteriorizar. Também eu, mudando a hora nos diversos relógios da casa, agora mais vazia, me lembrei que era ele que o fazia todos oa anos, meticulosamente, relógio após relógio, umas horas antes, não fôssemos esquecer... e a saudade bateu mais forte!
    Bjs grandes

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  5. Que dor, Papalagui. O tempo e inimigo em tantas coisas. Por mais que passe, a dor nao vai embora.

    Um beijo.

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  6. Exactamente o que eu penso. Depois da dor da perda, parece que doi mais a que nos consome nestes pequenos momentos.

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  7. O meu também não ligou... nem se queixou "tenho fome... ontem, a esta hora já tínhamos almoçado!!!"
    :o) temos de nos habituar a isso minha querida Amiga! beijos!

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