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quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Animal policiado

Aqueles que nunca saíram das ruas direitas e monótonas das cidades da Europa, não podem conceber a colorida e luminosa originalidade das cidades do Oriente. Aí, as ruas são direitas, ladeadas de largas fachadas, caiadas, inexpressivas como rostos idiotas. As figuras são triviais; as fisionomias vulgares, esbatidas, uniformizadas pelo tédio e as dificuldades da vida; os vestuários são escuros, estreitos, económicos. O gás, à noite, perfila a sua linha bocejante; o rodar das carruagens e das carroças abala o chão com uma brutalidade ruidosa. Tudo é correcto, alinhado, perfilado, medido e policiado.
É decerto excelente para a segurança, para a justiça, para a propriedade, para a ordem: é mesmo indispensável. A algibeira aplaude; a epiderme, protegida, dilata-se de alegria; o espírito de lucro, garantido e patrulhado, desenvolve-se com segurança, e as gavetas podem bocejar sem risco. Tudo está contente no animal policiado - excepto a imaginação.
Eça de Queirós, De Alexandria ao Cairo

Cairo
Foto: minha

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