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quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Fiat lux

E pronto. Ainda não foi desta que me acorrentei aos portões da Basílica do Palácio. Deviam ser umas oito horas quando o Hélder me chamou Anda cá! anda ver isto! Quando cheguei à porta da rua, o inacreditável aconteceu. Luz. Tínhamos luz! Tínhamos luz na rua! A esta hora estarão a pensar que tem isso de extraordinário. No Portugal contemporâneo poucos serão os lugarejos que não tenham iluminação pública. Ele há a insularidade, ele há o profundistão, ele há o isolamento e a interioridade, mas aqui, a um terço do caminho entre o mar e a cidade de Ulisses, a iluminação pública não deu sinal de si durante quase três semanas, a segunda vez este Inverno. Temi pela vida das minhas bichanas. A vizinha do lado bem poderia ter aproveitado para inadvertidamente passar a ferro um dos seis gatos que possuímos, nós e os restantes vizinhos. Informou apenas que ia atropelando uma pessoa, o que ninguém estranhou, uma vez que conduz com a velocidade da Michelle Mouton pelas ruas da aldeia. Os telefonemas à EDP não se fizeram esperar, estou certa que ao ritmo de mais do que um por dia e, semana após semana, nada, nadica de nada, cada telefonema como se fosse o primeiro e não faltou uma certa dose de sobranceria e arrogância por parte de quem atendeu. No meu derradeiro telefonema, informei a senhora que me atendeu que percebia finalmente por que é que as pessoas se esganiçavam perante as câmaras de televisão, isto por outras palavras, e pelo meio informei-a que seguidamente iria apresentar queixa na DECO, o bicho-papão dos incompetentes deste país e a segurança dos consumidores. Não sei se foi pela visão assustadora de me ver aos gritos na TV, a solução plausível para o regresso da luz esgotadas todas as reclamações, ou acorrentada aos portões da Basílica, outra solução possível, apenas pelo medo da DECO ou pura coincidência, a verdade é que finalmente nos nasceu um sol na rua causador de estranheza e outros incómodos oftálmicos mediante as três semanas de trevas. Lux facta esd.
foto: Viseu
minha

4 comentários:

  1. A falha de luz por essas bandas é habitual :)
    Ainda bem que não te vemos por aí aos gritos acorrentada a alguma coisa! :op

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  2. Já nem me lembrava desse nosso episódio ;-)
    Mas dessa vez foi uma avaria em Lisboa acho eu. A sensação de impotência é incrível: ninguém sabe, ninguém foi e ninguém faz nada...

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  3. Quase me apetece dizer que valeram a pena as trevas da iluminação pública, para a N.nos iluminar com a descrição do episódio:D

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  4. Obrigada, Milucha! E que 2007 nos ilumine :-)

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