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segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Não mesmo

É sabido que estou em rota de colisão com a Igreja Católica de algum tempo a esta parte. Não me lembro sequer de quando foi a última vez em que entrei numa igreja e ouvi uma homilia interessante, cordata e verdadeiramente cristã. Tenho dias em que me arrependo de me ter casado pela igreja, não que me tenha causado mossa, mas, na verdade, não me revejo no que fazem.
Devia ter desconfiado quando o padre proibiu flores vermelhas e roupa que não fosse imaculada. Tivesse eu dado ouvidos ao diabinho que em mim habita e teria ido vestida de vermelho da cabeça aos pés, mas porque acredito que há gente que não vale a pena, mantive-me fiel a mim mesma, ao meu ainda namorado e pais. Divertido foi mesmo o CPM, Centro de Preparação para o Matrimónio, obrigatório para quem quer ser abençoado por Deus. Nesse tempo longínquo, eu e o Hélder aprendemos ensinamentos valiosíssimos. Sábados à noite, que isto da fé não se faz sem sofrer, e sermões de casais sobre a dificuldade da vida em comum. Sim, porque só se falou das dificuldades. E já agora, será que para aquelas mentes o casamento é uma coisa BOA? Difícil é certo mas que vale a pena, assim se amem e respeitem duas pessoas. Um desses serões foi passado com um casal a dar o seu testemunho. Tinham tido muitos problemas, porque o marido chegava à noite à cama e adormecia e a mulher, coitada, depois não tinha com quem falar e ficava amuada e ele tinha de a namorar muito, até um dia ela ter percebido algo verdadeiramente inaudito: o sono é biológico, não era de propósito que o homem se resvalava nos braços de Morfeu. O homem sorria-se e ela, como boa beata, matinha o ar seráfico. Foi digno de se ouvir, a intimidade da alcova assim desvelada. Acredito que quase tudo o que é descontextualizado soa a falso, ridículo e desajustado, logo, o casal não teria feito figuras tristes, se estivesse caladinho, uma vez que tal episódio só interessa a eles mesmos e, dado que não houve ironia nem comicidade, ficaram expostos ao ridículo com a soneira inveterada. Nem sei como o meu casamento teria sobrevivido, se não fosse tal pérola.
Saí uma vez de um casamento quando o padre advertiu que, quem só vai à missa ao Domingo, não podia comungar, isto com o ar castigador e acusador de sempre. Nem tal me passou pela cabeça. Ao contrário de muitas pessoas que por lá andam, tento respeitar os ensinamentos e, portanto, não comungo desde os meus dez anos de idade talvez, nem tenciono voltar a fazê-lo nunca mais. No funeral do meu pai, o diácono verborreou até mais não contra os meios de comunicação social. Muito a propósito, de resto, ainda mais se tivermos em conta que o Hélder é jornalista. Na missa do sexto mês, foi-nos pedido dinheiro para financiar os seminaristas, coitadinhos, assim como uns meses antes num baptizado. A última aventura foi quando em Dezembro fomos a um funeral e, vindo do nada, começou uma campanha descarada contra o aborto. Que tal respeitar a família enlutada e as restantes pessoas que acompanharam a pobre D. Silvina? E a D. Silvina? Umas palavrinhas sobre a senhora seriam simpáticas, não? Aproveitar uma ocasião para fazer uma outra coisa em proveito próprio é oportunismo e, portanto, muito duvidoso do ponto de vista de carácter e moral. Incomoda-me profundamente que todas as ocasiões sejam aproveitadas para falar do mesmo. Assim ninguém consegue decidir, mas afinal, assim percebo mais uma vez quem são, afinal, e decido.

13 comentários:

  1. Eu estou na igreja católica, intervindo com um olhar crítico, como tento fazer noutras áreas sociais.Aliás, já o meu pai assim fez, ao optar pelo casamento com a minha mãe em vez do sacerdócio a que o família queria destiná-lo. Mas,ao mudar o rumo, não deixou de ter fé e de praticar, de uma forma muito pessoal e reflectida.
    Em 1975, quando casámos, fomos dispensados da tal Preparação para o Matrimónio, porque o padre que escolhemos era amigo pessoal do meu sogro e achava que já nos tinha sido dada, pelas famílias e pela nossa vivência de 25 e 32 anos, preparação suficiente para o passo que íamos dar...Tivemos sorte!Conheci padres muito sensatos e atentos ao mundo que nos rodeia, outros completamente fora da realidade e com falta de bom senso.Homilias a despropósito também já ouvi um cento...
    Enfim,acho que temos de pensar pela própria cabeça, mas acredito que a fé me faz falta e estrutura a minha vida.Isso nunca pus em causa.Em relação à Igreja, mantenho-me atenta e crítica.Acho que importante é pautar a vida por valores seguros de tolerância, justiça e amor ao próximo.
    Estes temas não são abordados nos blogues que visito habitualmente. Foi bom vê-los aqui.
    Um beijo.

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  2. Nada mais me resta que não seja concordar contigo, L. É que é mesmo isso que dizes
    Eu, felizmente, não vou casar pela igreja e não tenho de passar pelo CPM nem ninguém me vai proibir de usar as cores que quiser, vá lá! ;o)

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  3. Qauanto ao meu comentário anterior, no post de ontem, quis dizer, hoje, dia 8! :-)

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  4. Milucha, felicito-a pela atitude de tolerância e abertura para debatermos este assunto. Se mais pessoas pensassem assim a Igreja Católica ter-se-ia aberto e actualizado mais, de forma a que servisse todos. Aqui em Mafra é particularmente fechada e absolutamente desajustada da realidade. O CPM foi uma dor, sinceramente, não aprendi rigorosamente nada e foi um verdadeiro frete. Era bem melhor deixar cada um decidir por si. No fundo, o que nos prepara para o casamento (ou não) é quem nós somos e não acredito que seja com CPMs que se combata o divórcio ou, ainda mais importante, as famílias disfuncionais e desestruturadas, essas a minha verdadeira preocupação por ser professora. Beijinhos

    Fantasminha, vais de vermelhão? ;-)

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  5. Com respeito por todos os outros que pensam diferente de mim, eu já não acredito em religiões, ou em ideologias. "Salva-me" a arte (mormente a literatura), as pessoas e a Natureza.

    beijocas

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  6. Tanmbém não tenho uma relação muito estreita com a Igreja, mas acho que tu tens tido muito azar.
    Adoro o padre que nos casou, é da nossa familia e em dias especiais dá missa na Ericeira. Conservador, sim, mas sensato.
    Fui para o CPM com ar de frete e gostei mesmo muito das 4 reuniões a que assistimos. Acho que tivémos muita sorte com o casal e o grupo que nos calhou. Não se tratou de aprender coisas novas, até porque já vivia com o meu marido há uns anos, mas tratou-se de partilha opiniões. Confesso que saíamos das reuniões a falar sobre temas lá tratados.
    No funeral do meu pai...nem me lembro do que disseram. Acho que estava noutra dimensão.

    Já ouvi coisas que me desagradaram, e assisti a cerimónias bonitas.
    Há de tudo... como na tua mercearia ;)

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  7. Não vou de vermelhão com pena minha, mas parece que nesta altura não estão na moda os vermelhos em vestidos ;) Os que vi não eram nada de especial. Mas vingo-me no bouquet!!! :o)
    Pensei fazer o mesmo que tu em relação aos sapatos, mas nesta altura encontrar sapatos vermelhos não é fácil... veremos ^_^

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  8. Compreendo-te, Carlos, e partilho esse teu desacreditar.

    Mãe babada, não sei se é só a minha experiência que é má. Quando olho naquilo que vai sendo apregoado na TV, continuo a não me identificar minimamente e percebo porque é que não há padres, é apenas uma consequência do que têm feito. A experiência directa tem sido aqui mas vou a casamentos quase de Norte a Sul e ainda não ouvi nada inovador.
    Em relação ao CPM acho ridículo e patético. Que utilidade pode ter ouvir a leitura de testemunhos num Sábado à noite, sem o menor interesse para a vida dos restantes?
    Quanto ao funeral do meu pai, enfim, estou certa de que lá onde estiver ainda está a dar nas orelhas do padre ;-)

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  9. Ah malandra! O vermelho já deve estar um bocadito gasto. Ainda estou em choque só de pensar como era a minha cinturinha e na balseira, a minha avó é que utilizava esta palavra ;-), em que me tornei. Se precisares de ajuda, já sabes. Espera até vir a nova estação de sapatos. Os meus foram comprados na Malveira e não eram de casamento.
    Beijocas, super-noiva ;-)

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  10. Eu censuro-me para não abrir (quase) nunca a boca para dizer o que penso acerca da maioria dos membros do clero. É a única maneira que tenho de evitar discussões que não me levam a lado nenhum.
    Mas só para teres uma ideia acerca da gravidade da coisa, conto-te o seguinte: quando casei, pela igreja (mistura de concessão ao noivo com deslumbramento pessoal pela beleza física do evento, mas pronto!), o padre, logo que começou a falar, disse a toda a gente que ele e eu tinhamos feito um pacto de não agressão. Conseguiu pôr toda a gente de sobreaviso quanto ao meu carácter. O que vale é que nunca me ralei com esse tipo de coisas!
    :)
    Beijola.

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  11. Vá, mas tu ainda podes pensar na cinturinha que já tiveste, eu nem olho para a minha que já vai em cinturão negro ;o)
    O problema com os sapatos é que preciso deles já para a 1ª prova do vestido (que me marcaram para a semana mas vou ter de desmarcar lá para Fevereiro porque não tenho tempo), e sendo assim não dá para esperar pelo Verão...

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  12. Ah, e beijos também para ti!! :o)

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  13. Ora, ora, fantasminha... cinturão negro?

    Carlota, essa do pacto de não-agressão é linda... ;-)

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