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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Livros com cidades

E de regresso à estante está Perseguido de Luiz Alfredo Garcia-Roza, após uma passagem breve pela minha mesa-de-cabeceira. Finda a última página de mais um romance policial, termina também um périplo pela Cidade Maravilhosa. Há quem defenda que o delegado Espinosa da 12º DP do Rio de Janeiro, bibliófilo que não dispensa uma ida ocasional aos sebos, a personagem central em torno da qual se desenvolvem seis dos seus sete policiais, não é um grande detective na senda dos clássicos, que os policiais de Garcia-Roza carecem de mais densidade e suspense, que é óbvio o desfecho e que o criminoso, assim é nos policiais, se torna evidente desde muito cedo na trama. Que seja.
Na verdade, há algo inscrito naquelas páginas que perdurará muito após a leitura da última palavra, algo que deixa o leitor inquieto, ofegante, tranquilo, descontraído ou deleitado, consoante percorra, nos passos das várias personagens, os trajectos descritos com exactidão extrema, passíveis de serem localizados em qualquer mapa do Rio de Janeiro.
Ruas, praças e morros, Copacabana e o Bairro Peixoto, o Calçadão e o mar de Ipanema, Zona Sul e Zona Norte, fundem-se no momento em que o livro se abre como o Atlântico e as personagens nos carregam, nos levam lado a lado, secretamente sussurrando-nos para embarcar na viagem encetada. Há uns dias, por exemplo, fiquei extenuada depois da corrida no Parque do Flamengo com Berenice, nada que a vista da Baía de Guanabara não consiga compensar. Certo é que Augustão me cansara também nas ladeiras de Salvador e me deixara expectante nos terreiros de candomblé. Intrépidos e incansáveis, estes detectives...
Nos livros com cidades existem roteiros ocultos emergentes do calcorrear das personagens pelos recantos mais recônditos das urbes, respeitando os seus ritmos únicos, e que, ora fugindo, ora flanando nos revelam a alma e a intimidade ausente nos áridos guias de viagens.
foto: minha

4 comentários:

  1. Já fui levado a conhecer cidades depois de ler livros em que elas fazem parte da narrativa: Oxford, Heidelberg, Londres (e Mafra!). E tenho muitas outras na lista To be visited.
    Gostastes do livro do Nelson Motta? Dele eu só li "Noites Tropicais", suas memórias musicais, além de suas crônicas nos jornais.

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  2. Quanto mais leio, mais tenho a certeza uqe pertenço a uma pequena cidade nas highland's...
    E porque esta é a época em que o teu brasil mostra todo o seu esplendor, um excelente carnaval para ti. Beijocas

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  3. É verdade, sim senhor, não há melhor convite a uma visita a um lugar, do que um bom livro sobre esse lugar.

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  4. O que ainda não entendi é se são as cidades que me levam ao livros ou vice-versa. Começo a achar que não existem uns sem os outros na minha cabeça.

    Aventino, também li o Noites Tropicais e também gostei. O Canto da Sereia é muito interessante porque à parte da intriga, descreve bem Salvador e a identidade afro da própria cidade. Tenho Bandidos e Mocinhas para ler e sei que agora saiu outro livro dele. Obrigada por me ter dado a conhecer o delegado Espinosa :-)

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