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quarta-feira, 30 de maio de 2007

O meu é maior que o teu

Foi isto ontem pelo fim da tarde. O padrão começa a repetir-se: todos os incidentes que têm o condão de me dar vontade de responder torto acontecem pelo fim da tarde, certamente não será alheio o facto de estar já cansada, saturada e de sentir que precisaria de força de Adamastor para me sobrepor aos picos enérgicos dos meus alunos, que, regra geral, não observam minguamento ao final da tarde com os da sua professora. E pronto, no sítio do costume, cada uma dava conta do que tinha ainda a fazer. Mencionei em ar de queixume o trabalho para a oficina de formação que frequento. A resposta foi lesta com um laivo de acusação no ar Ai se tivesses filhos não conseguias fazer isso. Ora aí está um dos argumentos que agradecia que não me esfregassem na cara e isto porque eu não esfrego na cara de ninguém que tem filhos, não porque os tenha ou porque eu não os tenha, mas porque respeito inteiramente as opções de vida de cada um. Vá que eu tinha o oveiro seco – como gosto desta expressão, querida Zélia Gattai- ou as miudezas encarquilhadas e não conseguia ocupar como diz o povo, vá que eu era fraquinha dos nervos e me largava em prantos sobre as torradas, os queijos frescos, os chás e os pãezinhos, vá que eu tinha um desgosto de morte por não ter desovado? Quando se queixam que não fazem isto, aquilo ou aqueloutro porque são mães, não vejo como não respeitar a situação de cada um. Cada um é como é, tem o que tem, ponto final. A sorte é sermos todas mulheres se não andaríamos de fita métrica em punho a medir qual era maior que qual.

10 comentários:

  1. Tens toda a razão.
    Só que é uma coisa que, tenho de confessar (glup!), eu também seria capaz de dizer a alguém que não tivesse filhos.
    Não leves a mal.
    É uma coisa que as mães dizem não por desrespeito a quem não tem filhos, mas mais para se vitimizarem e/ou chamarem a atenção sobre si próprias.
    Não quero com isto dizer que se trate de uma atitute correcta, mas apenas que acontece (e com mais frequência do que seria aceitável).
    Beijola.

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  2. Ai como te entendo... tão bem.
    Também eu sinto a mostarda a subir-me ao nariz quando oiço isso, e é tão comum. Porque não se pode respeitar as opções de cada um, ou porque se querem vitimizar ou fazer de "melhores" só por terem filhos?....

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  3. Eu odeio esse tipo de paleio, odeio. Ha mulheres que parece que acham que devem receber uma medalha no 10 de Junho so por terem tido filhos! E complicado, da trabalho e obriga a prescindir de uma serie de coisas-mas nao e uma facanha heroica. Nao ligues e deixa falar

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  4. E porque e que essas senhoras, que presumo na maioria tenham parceiro,nao pedem ao pai/companheiro/conjuge que se ocupe das criancas de vez em quando?

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  5. Meninas, é que é mesmo irritante, acima de tudo, porque parece que quem não tem filhos é um previligiado. São situações de vida, acho eu, e ninguém deve acusar ninguém.

    E como está o teu Filipe, Joana? Já veste casaquinhos?

    Beijinhos a todas

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  6. privilegiado
    Que nervos! Com os professores a darem erros, o que é que se pode esperar dos alunos? ;-)

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  7. Como eu concordo contigo.
    Eu já começo a ouvir demasiadas vezes "está na hora de teres filhos" e "porque é que não tens filhos?" Como se disso dependesse a minha felicidade :-P
    E, como dizes e muito bem, eu até posso muito querer e não poder, verdade?

    Ah! E outra muito frequente é eu estar a queixar-me com dores de cabeça ou outro tipo de dor e ouvir a frase "Vê-se mesmo que nunca deste à luz". Sim, porque se tivesse a minha dor seria muito menor :-P Qual aspirina qual quê, 'bora ter filhos :p

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  8. Soa-me mais a desabafo de quem não tem todo o tempo do mundo para fazer o que quer.
    Mas também serve como desculpa para não fazer o que não apetece.

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  9. Eu penso muitas vezes em como deve ser difícil conciliar a vida profissional com a familiar, de resto, mesmo sem dar fruto, tenho família, mas o que me aborrece é a "acusação" subliminar.

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  10. eu tambem fico possessa quando oiço isso!
    Não só nunca pensam que pode ser uma ferida, porque raio hão de ser superiores só por terem tido filhos?!
    Tambem me irritou quando uma das minhas colegas disse a outro cujo filho tinha acabado de nascer:
    agora tens outro estatuto

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