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Uma gota de suor escorria agora da testa de Nefertiti. Lentamente tirei o lenço do bolso das calças e limpei-a. Não sabia que as estátuas transpiravam. Imaginava-as frias e suaves na sua placidez de pedra e ónix. Mas nunca vira o Cairo em Abril, quando o sufoco quieto do ar traz apenas uma leve, longínqua lembrança, do restolhar líquido do Nilo.
O Nilo – o rio mais longo e mais belo do mundo. Tudo começa e acaba neste nome de duas sílabas.
Miguel Sousa Tavares, (2004), Sul, Lisboa, Oficina do Livro.
Composição
Sul é uma compilação de crónicas de viagem de Miguel Sousa Tavares coligidas num só volume. Longe dos roteiros habituais e do estilo dos guias de viagem comuns, Sul leva-nos por paragens aquém e além fronteiras, sempre com a escrita escorreita do escritor e a sua forma única de ver o mundo.
Indicações
Sul está recomendado para os amantes de paragens longe da porta de sua casa, e para os apreciadores de uma boa prosa. É muito bem tolerado por todo o tipo de viajantes: os de mochila às costas, os sofisticados que não passam sem o hotel de cinco estrelas, os amantes de aventuras, os curiosos de culturas diferentes e os que sentados no sofá viajam através de imagens e leituras diversas sobre o mundo lá fora.
Precauções
Não se aconselha a leitura de Sul a indivíduos inquietos e com vontade acentuada de partir mundo afora. Caso tenha episódios recorrentes de tédio perante o quotidiano e seja acometido com frequência do ímpeto de galgar fronteiras e países, deve ler o livro com algumas reservas. Se der consigo à procura de folhetos de viagens e informações sobre os locais a visitar ou num estado absorto a banhar-se no Índico ou contemplando Nefertiti no Museu do Cairo deve abrandar a leitura para evitar danos maiores.
Posologia
Deve ser lido ao rimo de cada leitor, não obstante, recomenda-se uma leitura tranquila e pausada para melhor saborear cada viagem.
Outras apresentações
Se experimentou bons resultados com Sul, recomenda-se a leitura de outros relatos de viagens ou a continuação da escrita de Miguel Sousa Tavares com Equador.
Devo dizer que ... adorei viajar com o MST!!!!
ResponderEliminarE recomenda-se também ignorar completamente a arrogância já demasiado conhecida do autor, e apreciar a obra só por ela. Porque este é um daqueles casos em que não convém confundir o autor com a sua obra.
ResponderEliminarGostei muito desse livro porque sou fascinado por memórias de viagem. E também porque já percorri parte do roteiro do Nordeste.
ResponderEliminarAinda bem que a syrin disse o que disse, porque eu ia dizer que nunca li nada do MST porque não posso com o tipo. Preconceito, eu sei...
ResponderEliminarBem, o Equador também me recusei porque para além de geralmente não gostar de romances históricos fiz finca pé que se toda a gente lia, eu não ia ser toda a gente :op
Parece que o Sul se recomenda mesmo... Excepto: "Não se aconselha a leitura de Sul a indivíduos inquietos e com vontade acentuada de partir mundo afora." É que corro o risco de mandar tudo às urtigas e fugir :)
Para mim, as crónicas de viagem são o formato em que o MST melhor se enquadra e mais brilha. Este livro SUL é um bom exemplo disso. Adorei lê-lo, talvez porque também sou um espírito inquieto e meio ave de arribação. Mas também gostei do Equador. Este último ainda não li e, talvez pelo que tenho ouvido, estou com preguiça de abri-lo.
ResponderEliminarUm beijo
Ah, e já tinha saudades destas tuas "receitas de leitura", Leonor.
ResponderEliminarBela fórmula!
Obrigada a todos, também gosto do MST cronista, embora ache que ele escreve sempre bem. Quanto à arrogância nada a fazer, por enquanto ainda não é impeditiva de me embrenhar nos livros dele. Quem sabe se não vem o dia... ;-)
ResponderEliminarAs receitas de leitura são trabalho para escola, Ana, esta já é a quinta. São publicadas em papel e no blogue da escola.
Li no Verão de 2006 e adorei.
ResponderEliminarInspira-nos e de que maneira!