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segunda-feira, 31 de março de 2008
At the end of a school day you leave with a head filled with adolescent noises, their worries, their dreams. They follow you to dinner, to the movies, to the bathroom, to the bed.
You try to put them out of your mind. Go away. Go away. I´m reading a book, the paper, the writing on the wall. Go away.
Frank McCourt, Teacher Man.
You try to put them out of your mind. Go away. Go away. I´m reading a book, the paper, the writing on the wall. Go away.
Frank McCourt, Teacher Man.
quarta-feira, 26 de março de 2008
domingo, 16 de março de 2008
sexta-feira, 14 de março de 2008
quarta-feira, 12 de março de 2008
Felinos, canídeos e humanos
Canídeos, felinos e humanos não partilham o mesmo gosto gastronómico. Os felinos têm um gosto requintado, um faro que lhes faz detectar à distância um alimento menos fresco. Caso a latinha gourmet tenha sido aberta pela manhã e os pedacinhos de atum com molho suculento repousem na baixela felina desde então e nos encontremos pela hora de almoço, o requintado nariz felino de tal dará conta: uma farejadela, um olhar para o dono e chamem a ASAE, se faz favor. Os felinos de cá de casa, todos os que tive, sempre foram distintos, selectivos e apurados nos gostos. Restos, seja do que for, não é com eles, carne esporadicamente, queijo fresco com reservas, já no camarão e sapateira jamais se fizeram rogados. Do meu lado direito há sempre uma pata que se estica até à anca, por vezes, com a unhita a marcar as carnes, e o olhar fixo, determinado e irresistível. Os felinos desprezam os meus dotes culinários. Não interessa quanto tempo, quais os ingredientes e o grau de proficiência e eficiência na cozinha, indiferença é tudo o que obtenho dos meus estimados bichanos, a menos que coza uma gambinhas, já se sabe, nada que exija dedicação de qualquer cozinheira. Os humanos frequentadores e residentes têm um gosto menos selectivo do que os felinos. Dispensam os pedacinhos de atum, ficam felizes não apenas com o camarão cozido e deleitam-se com iguarias várias: paella, amêijoas à Bulhão Pato, feijão tropeiro, cogumelos gratinados e outras comezainas carregadas de calorias. Os humanos não torcem o nariz e nunca chamaram a ASAE. Os canídeos raramente protestam. Se o osso for deixado de véspera, o que obtenho em troca são uns saltos pujantes, umas abanadelas de rabo e umas lambedelas até onde e se me deixo alcançar. Os ossos pequenos do entrecosto são deglutidos ao ritmo que os adultos saboreiam as tiras de milho, os ossos do cabrito levam um pouco mais de tempo, o que já não extensível aos pedaços de frango desossado, os responsáveis por uns saltos ainda maiores, mais abanadelas de rabo, tudo mais. Os canídeos, ao contrário dos felinos e na extensão dos humanos são apreciadores dos meus dotes culinários. Pude comprová-lo quando dei ao cãozinho meu vizinho as sobras de cordon bleu. Mesmo depois de ter sido aquecido no micro-ondas e de ter passado a noite num prato em cima do fogão, o cãozinho não chamou a ASAE, não torceu o nariz e parecia ter comido o manjar dos manjares, meu rico cãozinho, à velocidade da luz, mordiscadelas nos meus dedos incluídas, de modo que para a próxima que me abeirar dos tachos e panelas vou ter em conta tamanha consideração, cãozinho lindo, que é lá isso, cordon bleu retardado?
segunda-feira, 10 de março de 2008
Entre eles a história
A ela não interessava aquela parte da história. A ela interessava a estória da história. A história em que o rei tinha pegado nele e na corte, dez mil almas, estima-se, e com o tesouro, o ouro, a tralha e a traquitana atravessado o Atlântico para se instalar na mais rica colónia do Império. A ele não. Qual Brasil, qual calor, qual corte? A ela interessava a ideia romântica e divertida de ver a corte de Dom João VI passear-se nas farpelas circunspectas da Europa, desajustadas à canícula tropical, Rio de Janeiro afora. Disparates. Efabulações da mente feminina prenhe com vestidos de princesa. A ele interessava a guerra. A guerra era o que lhe interessava. Napoleão e o Império. Ela imaginava o Paço Real no Centro e o burburinho que se foi instalando na Rua do Ouvidor, porquê nem sabia, a mania da Rua do Ouvidor, mas essa era a parte que lhe interessava. A ele não. A ele interessava o Junot e o Massena, como vieram desenfreados Europa abaixo na conquista do Império. A ela interessava o Jardim Botânico, criado com enlevo pelo monarca, o beija-mão colorido com as paletas da diversidade brasileira, negros e brancos e mulatos e índios, o que restava deles. A ele interessavam as fardas e uniformes, os torços cobertos com alamares criando ziguezagues no peito e, enquanto vibrava com a progressão no terreno e a pompa dos uniformes, ela ria-se com Carlota Joaquina careca, despojada de trunfa e qualquer pilosidade capilar em virtude dos piolhos que lhe atacaram a cabeleira na travessia do Atlântico. A parte interessante da história dele acabava quando começava a dela e a dela não tinha uniformes nem guerra, a dele não tinha Brasil nem novos mundos. Dois caminhos paralelos sem nunca se tocarem. Quando ele chegou esbaforido com Junot ela aportava refeita da travessia tormentosa na baía de Guanabara. Não há estória com tanta história pelo meio.
domingo, 9 de março de 2008
Ruiva domingueira (2)
sábado, 8 de março de 2008
Olho grande
Deve ter sido por ter deixado em casa o meu patuá, vindo directamente do Bonfim da Cidade do Salvador desse meu Brasil brasileiro, que alguém viu uma aberta e zás, trás, pás, brindou-me com olho grande que me fez estar aqui em casa a braços com uma faringite, impossibilitada de ir à manifestação de professores.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Momento Houaiss (2)
- Olhem meninos, já sabem que não podem levar líquidos convosco...
- Sim
- Nem objectos contundentes.
- QUÉ ISSO, Setora?
- Objectos pontiagudos e potencialmente perigosos, por exemplo, tesouras, limas, corta-unhas...
-Ah!!!! Cortundentes, que cortam...
- Sim
- Nem objectos contundentes.
- QUÉ ISSO, Setora?
- Objectos pontiagudos e potencialmente perigosos, por exemplo, tesouras, limas, corta-unhas...
-Ah!!!! Cortundentes, que cortam...
quarta-feira, 5 de março de 2008
You effing animal
What I think marks out the Universal Eff-Off Reflex is contained in the name: it´s a reflex. It´s as if you touch someone lightly on the shoulder and snick snack, the next thing you know, your hand has been severed at the wrist. It is startling partly because it´s so primitive, so animal.
Lynne Truss, (2005), Talk to the Hand.
Lynne Truss, (2005), Talk to the Hand.
Diz a autora neste livrinho delicioso sobre os (des)hábitos de cortesia dos súbditos de sua Majestade que o Eff-Off se tornou num reflexo, ou seja, em momentos de crise, stress, contrariedade, dislate e desgoverno toca a sacar da eloquência que todas as línguas conhecem e zás, trás, pás, EFF OFF! E é isso mesmo, mesmo, mesmo, mesmo que me tem apetecido fazer aqui e ali, saturada do país e do mundo: atirar Effs-Offs por esse mundo afora e a quem me importuna. Isto a mulher, claro, porque a professora foi para o ginásio fazer umas passadeiras para se aguentar na caminhada de sábado.
As doze menos
Valha-me deus, alá e jah, Sinapse, nem eu sabia que me era tão difícil encontrar as doze menos, as que se não existissem falta alguma me fariam. Aqui ficam as famigeradas:
aleijar
chulé
cu
enervar/enervado
esposa
matrimónio
mormente
novamente
peúgas
realizar (no sentido de compreender)
retrete
vagina
Agora, com licença, vou ali ao lado vomitar...
aleijar
chulé
cu
enervar/enervado
esposa
matrimónio
mormente
novamente
peúgas
realizar (no sentido de compreender)
retrete
vagina
Agora, com licença, vou ali ao lado vomitar...
segunda-feira, 3 de março de 2008
Como os dias da semana
Se o contar não lhe falhava eram seis. Seis pares. Seis pares e mais um que tinha ido buscar aos cafundós da gaveta. Havia tempo que não lhe punha a vista em cima, e depois as meias, as normais, nem mais nem menos um par. Seis eram então, seis mais uma e, se a memória não a atraiçoava também, tal como o contar, a última vez que tinha feito uma máquina de roupa interior teria sido lá pelo início da semana, ora sete dias, sete pares. O sol aquecia-lhe as costas, contou de novo -detestava sol- na esperança de que estivesse um ou outro a menos, nunca a mais e muito menos em número exacto com os dias da semana. Nada ficara igual depois do fim-de-semana em que o filho trouxera os nórdicos para casa, a nórdica especialmente, com olhos azuis que nem farpas cravadas em tudo para onde dirigia o olhar. Nunca se deve ter olhos tão claros. A nórdica fazia jus ao estereótipo: alta, louríssima, de pernas infinitas, os olhos límpidos através dos quais se julgava ver os fiordes lá longe, o azul que parecia o céu, e o apetite de algo mais descontraído sem ser o trejeito maljeitoso de corpo hirto dos escandinavos quando se aproximam para um beijo. Além de cumprir o estereótipo tinha algo que a trazia mais a sul: as nádegas salientes sob as calças de ganga, indício de que o exercício físico era uma constante na sua vida e de que os glúteos faziam parte integrante dessa constante. Andaria talvez de patins pelos lagos gelados nas paisagens pintalgadas de branco e azul quando o sol escandinavo brilhava para acender a neve. Apanhara-o a olhar para a nórdica. Nada de mal, a nórdica era o pólo de exotismo à mesa, a cabeça como uma tocha que iluminava as restantes melenas acastanhadas, os olhos como pedras cristalinas. Também ela olhara para a nórdica e para o nórdico. Esperava, contudo, que o olhar não a tivesse atraiçoado e que não tivesse fulminado o pobre rapaz com o olhar com que o consorte brindara a nórdica quando se levantaram na mesa: o olhar de desejo que ela julgara até então estar-lhe reservado. Enganara-se pois. Depois daquele dia nada foi igual.
O sol não a largava, agudo como os olhos da nórdica, enquanto pendurava a restante roupa no estendal: camisas, toalhas, uma ou outra peça pequena e a soma regressou-lhe como uma facada: sete, como os dias da semana. A evidência que precisava para comprovar a tese de que depois da nórdica nada ficara igual e que além da nórdica, regressada ao seu país natal, havia uma, uma outra, a outra, já se vê, que o obrigava a mudar a roupa interior todos os dias. Não era ela. Não era a nórdica. Quem seria?
O sol não a largava, agudo como os olhos da nórdica, enquanto pendurava a restante roupa no estendal: camisas, toalhas, uma ou outra peça pequena e a soma regressou-lhe como uma facada: sete, como os dias da semana. A evidência que precisava para comprovar a tese de que depois da nórdica nada ficara igual e que além da nórdica, regressada ao seu país natal, havia uma, uma outra, a outra, já se vê, que o obrigava a mudar a roupa interior todos os dias. Não era ela. Não era a nórdica. Quem seria?
domingo, 2 de março de 2008
Ruiva domingueira (1)
sábado, 1 de março de 2008
Momento sitemeter (5)
A quem procurou barrigas femininas devo informar que no singular temos e que uminha chega.
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