A filha entra em casa. A filha cumprimenta a mãe. A mãe está na cozinha. A mãe cumprimenta a filha. A filha espreita para a marquise, mistérios insondáveis, logo a marquise. A filha vê estendida casualmente uma echarpe salmão. Em tempo de Primavera tudo sai à rua, intui a filha. Mãe e filha almoçam. A mãe está preocupada. O vestido preto. Sempre o vestido preto. Preto com preto não. Muito pesado. Credo. Pensei levar a echarpe. Diz a mãe. Qual echarpe? Aquela echarpe? Aquela na marquise? Pergunta a filha. A mãe responde. Sim, aquela. A filha inquieta-se. É tua? Pensei que fosse da Dinha com aquelas cores. Que ta tivesse emprestado. Não. Responde a mãe. É minha. Foste tu que ma deste. A filha encanita-se. Eu que ta dei? Mas algum dia eu te dava uma echarpe laranja?! A mãe responde. Quem mais me poderia dar aquela echarpe? Foste tu! A filha desespera-se. Eu? Mas eu, por acaso, ia dar-te uma coisa daquela cor? A mãe retorque. Foi antes do Papá morrer. A filha retorque. E então? Mesmo assim. Algum dia vestes aquelas cores? A mãe dá-lhe. Quem mais, se não tu, ia oferecer-me aquilo? Ainda estava embrulhado num papel de seda. A filha dá-lhe. Mas tens a certeza? A mãe contra ataca. Não tenho a certeza mas só podes ter sido tu. A filha vai à marquise. A filha olha desolada para o presente maldito. A filha abana a cabeça. A filha está desolada. A filha põe uma voz esganiçada. Eu? Eu é que te dei aquilo? A mãe reafirma. Não podia ter sido mais ninguém. A filha entra em desespero. A filha barafusta. A filha diz-se inocente, incapaz de oferecer à mãe algo que lhe assentaria desajustado, as cores estridentes. A filha conclui. Portanto, quando não sabes quem te ofereceu algo, fui eu? A mãe reincide. Foste tu, só podes ter sido tu. Quem mais? A filha responde. Sei lá eu. Eu é que não fui. A filha cogita e alvitra. A mãe reafirma. Foste tu. A filha vive em estado de ansiedade. A filha receia as arrumações sazonais ao guarda-roupa, cómodas e gaveta. A filha receia que a mãe se depare com peças de vestuário inusitado de tempos passados, esquecidos e ultrapassados, echarpes salmão, por exemplo. A quem acham que a mãe vai atribuir a existência de eventuais monos órfãos de presenteador? Teme-se o pior.
Olha outra com problemas com o cor-de-laranja!
ResponderEliminarOh, estou a adorar a série filha galinha. :)
ResponderEliminarContinua!
Mas o salmão é uma cor assim tão má? :)
ResponderEliminarE estou como a carlota!
Bjs
Não é nada cor má, eu até uso e gosto de cor de laranja mas a aquilo não é a cara da minha mãe, logo não fui eu! ;-)
ResponderEliminar:oP
ResponderEliminarA filha tem piada.
ResponderEliminar;)
A filha é uma sofredora ;-)
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