A segunda e principal razão que me leva a odiar os semáforos é porque de cada vez que paro me surgem no vidro da janela criaturas inverosímeis: vendedores de jornais, vendedores de pensos rápidos, as senhoras virtuosas com uma caixa de metal ao peito que nos colam autoritariamente sobre o coração o caranguejo do Cancro, os matulões da Liga dos Cegos João de Deus nas vizinhanças de um altifalante sobre uma camioneta com um espadalhão novo em folha em cima, o sujeito digno a quem roubaram a carteira e que precisa de dinheiro para o comboio do Porto, o tuberculoso com o seu atestado comprovativo, toda a casta de aleijões
(microencefálicos, macroencefálicos, coxos, marrecos, estrábicos divergentes e convergentes, bócios, braços mirrados, mãos com seis dedos, mãos sem dedo nenhum, mongolóides, dirigentes políticos, etc)
António Lobo Antunes, "A consequência dos semáforos" in Livro de Crónicas
(microencefálicos, macroencefálicos, coxos, marrecos, estrábicos divergentes e convergentes, bócios, braços mirrados, mãos com seis dedos, mãos sem dedo nenhum, mongolóides, dirigentes políticos, etc)
António Lobo Antunes, "A consequência dos semáforos" in Livro de Crónicas
Se ele fizesse como eu, não tinha que passar por tudo isso. É que eu não páro nos semáforos, Leonor. (risos) Um hábito que me ficou de São Paulo. ;)
ResponderEliminarMike mau...se o meu instrutor de condução souber disto..heheh ;)
ResponderEliminarnunca li António Lobo, estou me devendo essa leitura.
ResponderEliminarbeijo
Apesar das descrições ultra realistas, que saboroso naco! Boa ideia colocar aqui este excerto. (Aliás, por aqui, saboreiam-se coisas bem interessantes.) Chamo só a atenção para o facto de, nos dias que correm, não ser sequer preciso parar nos semáforos para nos aparecerem imensos exemplares da última casta de aleijões referida! Eles estão, mesmo que só em fotografias, em todo o lado: estradas, rotundas, ruas mais ou menos movimentadas. E, esses sim, pedem-nos o impossível: a nossa confiança!
ResponderEliminarMike, mas olhe que estamos em Lisboa. São Paulo é lá do outro lado do Atlântico, um bocdinho abaixo... ;-)
ResponderEliminarNem é bom pensar, Ana :-)
Eu lhe envio um, Martha, vamos confiar no correios para que chegue e não aconteça como o outro :(
Este texto é do primeiro livro de crónicas, já lá vão uns dez anos, Ana. Pelo que diz, e confirmo, nada melhorou. Bem-vinda :)
Genial na crónica, o ALA.
ResponderEliminarConcordo, Ana, então este primeiro livro é mesmo muito bom.
ResponderEliminarLeonor, realmente o livro não chegou, que pena! Ainda tenho esperança que ele volte pra você já que não chegou aqui no Brasil. Beijo
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