Enquanto peço uma bica sentada n’ A Brasileira ocorrem-me as linhas de António Lobo Antunes. O escritor íntimo de Lisboa declara o seu ódio aos semáforos “a principal razão que me leva odiar os semáforos é porque de cada vez que paro me surgem no vidro da janela criaturas inverosímeis: vendedores de jornais, vendedores de pensos rápidos, as senhoras virtuosas com uma caixa de metal ao peito que nos colam autoritariamente sobre o coração o caranguejo do Cancro”. Embora me encontre tranquilamente sentada com a estátua corcovada do poeta Chiado à minha frente, longe de semáforos, a abordagem imediata, mal me havia sentado, de um homem reclamando uma contribuição para os doentes com SIDA, retornou-me as palavras do escritor. Dou-lhe uns trocos para que me deixe em paz, pouco convicta da sua sinceridade, ele esboça uma expressão insatisfeita. Nos dias que correm também Lisboa se rendeu a uma procissão de personagens características, em nada comparável ao sucedido décadas antes. Esta não é a Lisboa de António Lobo Antunes mais uma vez, um desfile de “microencefálicos, macroencefálicos, coxos, marrecos, estrábicos divergentes e convergentes, bócios, braços mirrados, mãos com seis dedos, mãos sem dedo nenhum, mongolóides, dirigentes políticos, etc.”, mas é suficientemente incomodativa, contudo. O Chiado também é feito disto.
(continua)
Leonor, estou a acompanhar com muito interesse a reportagem. É um gosto reconhecer Lisboa nas suas palavras e nas suas fotografias (apesar do desgosto que é enfrentar certas realidades). :-)
ResponderEliminarÉ mesmo um desgosto, Luísa. A propósito desta reportagem e desta passagem, lembrei-me muito da Lisboa dos anos 70 que guardo na memória. Era um desfile de desgraças: aleijados, cegos e deficientes. Felizmente já não é assim tanto mas às vezes parece que estamos a regressar. Obrigada pelas suas palavras :)
ResponderEliminarEsta Lisboa que eu amo
ResponderEliminarNesta Lisboa que eu amo
Vejo o mar a cada esquina
Esta Lisboa tem ondas
No andar de uma varina
Cidade tão antiga, cidade amiga,
Modesta e bela,
Varia com as marés
e tem o Tejo a seus pés a chorar de amor por ela
Cidade de mil cantigas
Nasce a canção como a flor
Na boca das raparigas
Andam cantigas de amor
Cidade tão antiga, cidade amiga,
Modesta e bela,
Varia com as marés
e tem o Tejo a seus pés a chorar de amor por ela
Ai a chorar de amor por ela…
:))
A Ana é poeta. ;D
ResponderEliminarMas esta reportagem da Leonor puxa ao sentimento. ;) ... para quem tem uma enorme paixão por Lisboa, que não é meu caso. :/
Tenho uma paixao muito grande por Lisboa...Ainda ontem a lágrima quase me saltou do olho... Há vinte anos que não andava no cacilheiro...e ontem atravessei o Tejo no velhinho cacilheiro...e ver Lisboa do meio do Tejo, foi algo que me emocionou...
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