Setembro. Mês nove, mês de transição efectiva entre a vida estival, os dias de nada fazer para a maior parte dos portugueses e os dias em que o dever laboral soa que nem uma sirene enfurecida movida pelas obrigações e responsabilidades. A minha sirene começou a tocar levemente, ouço um silvo fininho algo longínquo, porém bem mais perto do que ontem e claramente menos distante do que na semana passada. Aproxima-se lesta. Paulatinamente a vida retoma o ritmo que ocupará com mais ou menos intensidade nos próximos onze meses, a estação pateta e atoleimada arrumou as sandálias e chinelas, as calças de linho e os vestidos esvoaçantes no sótão das memórias artificialmente felizes que os meses fugazes de estio comportam.
Setembro é mês de transição entre o Verão e o início de Outono, estação das folhas caídas que cobrem o chão como um tapete acobreado e ruidoso nos parques e caminhos. Em Setembro, os dias tornam-se mais frios, menos longos, os pores-do-sol vestem-se de cores avermelhadas e são mais belos do que no pico do Verão. E Setembro é um dos mais duros meses que me conheço, crepuscular e sombrio, dia dois marca assim o calendário, dia dois, dia segundo de um mês que o tempo dita belo, a estação menos exuberante e mais comedida, as castanhas que se anunciarão lá para frente, o aconchego das roupas menos translúcidas prenhes de conforto.
Dia dois. O dia que apagaria de todo do calendário, caso apagar me fosse possível e caso apagar me devolvesse a luminosidade perdida nesse pedaço de mim que num dia dois de Setembro vi definitivamente partir e a quem vou dedicando as letras e palavras, lê-las-á?
Dia dois então. O dia a partir do qual a vida se dividiu em dois, antes e depois, e no depois as memórias saltam em catadupa, memórias apenas, lembranças, recordações que comigo estão para onde quer que vá e que se me impõem em instantes díspares e improváveis. Um momento que gostaria de partilhar, uma notícia a comentar, um livro para ler e a conversa de sempre em torno da língua de Camões, discussões que se advinham intensas e aguerridas.
Dia dois portanto. O dia em que entendi que a ordem natural das coisas é apenas a convenção, somente a crença irracional de que se socorrem os aflitos para que o dia-a-dia se torne suportável na ausência definitiva, a ordem natural das coisas -quem se lembrou de tal?- mais não é do que a mezinha possível para as dores da alma, a resignação perante os factos consumados. Ordem natural das coisas, dizem-me, que assim é: os pais partem primeiro do que os filhos, diz que é por isso que agora apenas posso dedicar estas palavras ao meu pai.
Dia dois pela tarde. Era Setembro.
Setembro é mês de transição entre o Verão e o início de Outono, estação das folhas caídas que cobrem o chão como um tapete acobreado e ruidoso nos parques e caminhos. Em Setembro, os dias tornam-se mais frios, menos longos, os pores-do-sol vestem-se de cores avermelhadas e são mais belos do que no pico do Verão. E Setembro é um dos mais duros meses que me conheço, crepuscular e sombrio, dia dois marca assim o calendário, dia dois, dia segundo de um mês que o tempo dita belo, a estação menos exuberante e mais comedida, as castanhas que se anunciarão lá para frente, o aconchego das roupas menos translúcidas prenhes de conforto.
Dia dois. O dia que apagaria de todo do calendário, caso apagar me fosse possível e caso apagar me devolvesse a luminosidade perdida nesse pedaço de mim que num dia dois de Setembro vi definitivamente partir e a quem vou dedicando as letras e palavras, lê-las-á?
Dia dois então. O dia a partir do qual a vida se dividiu em dois, antes e depois, e no depois as memórias saltam em catadupa, memórias apenas, lembranças, recordações que comigo estão para onde quer que vá e que se me impõem em instantes díspares e improváveis. Um momento que gostaria de partilhar, uma notícia a comentar, um livro para ler e a conversa de sempre em torno da língua de Camões, discussões que se advinham intensas e aguerridas.
Dia dois portanto. O dia em que entendi que a ordem natural das coisas é apenas a convenção, somente a crença irracional de que se socorrem os aflitos para que o dia-a-dia se torne suportável na ausência definitiva, a ordem natural das coisas -quem se lembrou de tal?- mais não é do que a mezinha possível para as dores da alma, a resignação perante os factos consumados. Ordem natural das coisas, dizem-me, que assim é: os pais partem primeiro do que os filhos, diz que é por isso que agora apenas posso dedicar estas palavras ao meu pai.
Dia dois pela tarde. Era Setembro.
Lê. Ele sabe :) Bjos
ResponderEliminarUm beijo, Leonor.
ResponderEliminarP.S.: Uma triste reflexão num magnífico «post».
Beijos às duas :)
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