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sábado, 3 de julho de 2010

Ai não vais não

Se entrar numa livraria não tenho este problema. A certeza de que só vou encontrar livros prepara-me para o que vou encontrar e quase intuitivamente separo os títulos e autores e corro ao encontro do desejado, pode ser apenas um desejo súbito e arrebatador, se o autor me agradar, a capa for apelativa e o título sugestivo. Contudo se me encontrar com os livros num hipermercado, no que desgraçadamente frequento encontram-se na entrada logo à direita, nutro por eles um sentimento diferente. É claro que não resisto a um olhar cirúrgico à procura de novidades, dão cabo de mim as novidades, mas de seguida separo a Nora Roberts, a Jodi Picoult e o Nicholas Sparks, às vezes tenho até vontade de os rearrumar nas estantes e os separar da Toni Morrison e da Doris Lessing, não sei porquê, mas acho que não ficam bem ao lado uns dos outros. Hoje, por exemplo, havia uma biografia no meio dos livros do Mia Couto e não me pareceu bem aquela intromissão. Também já estive para chamar a assistente e explicar-lhe que não, que Em Busca da Felicidade, um dos livros que mais me arrependo de ter comprado, não é um livro de auto-ajuda, ouviu? E que o Nagib Mahfouz também não tem nada que ombrear com as espiritualidades, ainda não entendi porque o colocam sempre ali. Outros dias embirro com as celebridades que deram em escritores e escritoras. Toda a gente sabe, muita pelo menos, que nada daquilo interessa ao mais pintado, mas também toda a gente sabe que o autor vende e não há quem resista aos esgares da Fátima Lopes perante os pobrezinhos e desvalidos do mundo que se adivinham entre as páginas. Mas hoje foi diferente. Hoje aconteceu-me ter vontade de esbofetear um livro. Sim, é verdade, insólito e até um pouco embaraçoso para quem tem os livros nos genes, outra mania com que vim equipada de origem, mas nada como admiti-lo. Ocupava um lugar de destaque, o parvalhão, e gritou-me Desculpa, mas vou chamar-te amor. Ai não vais, não. AMOR? Virei-lhe as costas e fui irritada aos deliciosos biscoitos crocantes de coelho, aves e legumes que fazem as delícias da população felina cá da casa. Que título mais ridículo. Parvalhão.

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