Domingo. Enquanto me entrego pela manhã na preparação do almoço tranquilo sem pressas nem balizas de tempo castradoras, espreito a tarja de mar lá no fundo, a companhia apaziguante em dias de acalmia, o bálsamo de esperança em dias sombrios de alma decaída. Verifico ingredientes e vou delineando planos com a rapidez da execução multifuncional. Morreria de tédio de mim própria se assim não fosse. A morrinha irritante de esperar a cada momento sua coisa, como se a vida fosse uma infindável fila de momentos e objectos de senhas de atendimento em riste, aguardando enfim a sua vez. Ouço os cães agitados. O ladrar que indicia alguém novo na rua. Pela janela da cozinha vejo duas mulheres jovens a tocar à campainha dos vizinhos. Azar, penso, os vizinhos não abrem a porta a estranhos, sejam eles hordas de crianças em dia de Pão-por-Deus ou a mulher dos alperces que a espaços cá passa, quando é o tempo dos alperces ou o das uvas também. As mulheres abandonam o portão do vizinho resignadas à sorte da porta fechada, metáfora tão provável de outros momentos da vida. Verifico o almoço e a campainha toca. Dirijo-me à porta. Pergunto-lhes ao que vêm. Solicitas e de sorriso cândido largam a prosápia Vimos convidá-la para um evento. Muito bem. E qual é o evento pergunto. Atiram-me É um evento a nível mundial que vai acontecer a 17 de Abril: o enterro de Cristo Jesus. Agradeci cordata. Não estou interessada, obrigada e recolhi-me. Estranho convite a um Domingo de manhã.
Querida Leonor,
ResponderEliminarque dizer da Religião do Bispo Edir Macedo, que convida para uma "Semana da Humilhação", assim ao jeito de purgante?
Beijinho
Essa é mesmo impressionante, Paulo. Raio de coisa...
ResponderEliminarBeijinhos
Ué, mas a procissão do Senhor morto, este ano, não é na sexta-feira santa, 22 de abril?
ResponderEliminarPois, também fiquei confusa, Aventino.
ResponderEliminarBeijinho