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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Vêm aí os russos (2)

A manhã estava agradável. Céu azul, não muito frio, nada que um cachecol e umas luvas não resolvessem, mas os russos não são rapazes que se deixem impressionar pelo sol e céu azul. Colhi esta impressão logo pela fresca, quando decidi dar um salto à Praça Vermelha. Não era longe, tinha lido, umas três ou quatro estações de metro, uns quinze minutos de viagem. A Partizanskaya não é a mais bela das estações de metro, uns dias à frente perceberia na plenitude por que é que o Metro de Moscovo é tão famoso, mas era monumental e grandiosa e reparei, quando desci pelas escadas, que tinham deixado cravos vermelhos nas estátuas erigidas aos soviéticos que resistiram aos nazis. Afinal têm coração, os russos. Terão sorrido? A mulher que estava a vender bilhetes nesta estação não sorria. Era cedo e estava uma manhã bonita, mas ela permanecia carrancuda lá no casinhoto escondido e quando os três espanhóis à minha frente, duas mulheres e um homem, pediram bilhetes, ela desabou em ira. Gritos, raiva, esbracejar. Os pobres espanhóis pareciam cada vez mais pequenos e atarracados perante a explosão de fúria da mulher que usava uma bata de empregada doméstica. Atrás de mim, alguém se impacientava e depois de vociferar algo, fugiu para outro guichet. Bem-dispostos e pacientes. Quando chegou a minha vez, usei da táctica já usada no dia anterior no restaurante e com os dedos indiquei o número de bilhetes. Nem bom dia nem sorriso. Nem obrigada nem por favor, das poucas palavra em russo que tinha treinado em casa. Conseguimos. Há que ser bruto portanto. Quando cheguei à Ploshchad Revolyutsii ia cansada do episódio matinal, tanta ira e impaciência, e pensei que raio de gente, sim que raio de gente aquela.
Pensei isto outra vez numa outra manhã. Desta vez não foi no metro. Desta vez meteu-se-me na cabeça que para vencer distâncias talvez não fosse má ideia ir de autocarro. Saquei do inefável Top10 Moscow e confirmei, sim, ali, na parte de baixo da Catedral de São Basílio, antes da ponte, passava o autocarro que nos levaria ao destino, desta vez sem estação de metro perto. Chega o autocarro. Uma carripana velha com um homem magro e seco de cabelo grisalho ao volante. Estendemos-lhe o dinheiro e eis que irrompe num episódio de ódio sem precedentes. Mais vociferar, mais berrar, mais esbracejar. Uma verdadeira sorte não perceber russo, o que não sabemos não nos pode magoar, mas pressenti que não nos estivesse a elogiar, sim, que manias tinham os estrangeiros de visitar Moscovo. Depois de lhe darmos mais dinheiro, o ser vociferante e irado calou-se. Quanto ódio. Tanta ira até lhe faz mal. Os russos não gostam de estrangeiros. Nem de manhãs.

 Partizansakaya.

fotografia minha

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