Diz Wladimir Kaminer no seu último livro Meine russischen Nachbarn, ‘Os meus vizinhos russos’, infelizmente não traduzido para Português, que eles, os moscovitas, podem ser simpáticos, educados e inteligentes. Só não podem sê-lo todos os dias. Naquele dia não era o dia. Talvez no dia seguinte ou no anterior. Aquele não. Quando me dirigi ao balcão que indicava em parangonas, também em Inglês Turismo da Cidade de Moscovo, a russa do lado de lá, loura e de olhos cristalinos, espetou-mos como uma farpa. Arranhando um inglês bárbaro, mostrou-se indisponível assim que lhe estendi o mapa para que me indicasse algo. Não podia, agora não. Irritada perguntei-lhe se não era o turismo da cidade de Moscovo. Que sim, blá blá blá. Que eu fosse à recepção. Enquanto isto e depois dos episódios anteriores arranquei-lhe o mapa das mãos, furiosa quase irada, e fui à minha vida assustada. Estaria a ficar como eles do convívio? Nem eu me reconhecia. Kaminer também diz que queixar-se de Moscovo tem uma grande tradição e que entretanto se tornou numa evidência. Ele lá saberá. O escritor entretanto de nacionalidade alemã mas russo de nascimento, foi para Berlim no início dos anos 90 e lá ficou a contar as suas histórias na cidade alemã. Sabe bem do que fala.
A vida moscovita também é feita de prazeres. Passear no GUM é um prazer. Aos fins-de-semana, os moscovitas, neste aspecto tão parecidinhos com uma certa camada de lisboetas, rumam ao Centro Comercial. Não que não o frequentem durante a semana mas ao fim-de-semana é muito concorrido. O GUM não é apenas um centro comercial, dir-me-ão. Certo. Centro comercial fica numa outra praça ali bem perto num espaço subterrâneo e tem detector de metais à porta. Que encorajador. Construído nos anos vinte do século passado, o GUM é deslumbrante e luminoso. Faz lembrar uma estação de comboios com os tectos abobados e translúcidos. Surpreendente que num país que se queria comunista houvesse a preocupação deste fausto, sendo o mesmo válido para o Metro. O povo merecia o melhor. Pena que o ideal se tivesse desvanecido com o tempo. Os moscovitas aproveitam o GUM para várias coisas, fazer compras é uma delas, assim haja rublos que aguentem, a outra tirar fotografias ao lado de um carro de alta cilindrada ou lá o que era que estava em exposição lá dentro, coisa mais disparatada, e a outra deixar-se fotografar em poses várias, de preferência nas pontes que unem os vários corredores quase em mezanine. Muitos levam fotógrafo, par, ramos de flores e desabrocham em caras e carinhas, sorrisos não, as mulheres exibem as suas poses mais sensuais como se quisessem seduzir a máquina fotográfica e em qualquer momento lhes lambessem a lente. Tudo devidamente registado para mais tarde recordar. E casamentos. Depois de um breve périplo pela Praça Vermelha para a fotografia da praxe há que rumar ao GUM para se deixar fotografar, noivo, noiva e convidados num número nunca superior a cinco, com a Dior lá no fundo, a Furla, ajudem-me que sou pouco entendida nessas marcas da moda. Sim, os russos gostam da moda, do fausto, da afirmação e da ostentação. Quem diria que poderiam afinal ser parecidos com os portugueses.
fotografia minha
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