Na aula de Alemão só entram
filmes em alemão. Quando os meus alunos resmungam e refilam atiro-lhes que
chega de americanadas, como se entre o cinema americano e o cinema alemão nada
mais houvesse e tudo o resto fosse um enorme deserto, um cemitério abandonado lá
onde repousam fitas velhas e cenários abandonados. Depois de um breve
refilanço, mais para afirmar a voz adolescente do que para asseverar uma
vontade genuína, entram filme adentro e lá vão caminhando lado a lado com a
professora por um trilho de línguas e mundo desconhecidos. Secretamente observo as expressões e deixo-os comentar dentro dos limites. Às vezes
lançam-me um olhar, à procura da segurança e da certeza de que vai correr tudo
bem e os maus serão castigados e os bons serão recompensados. Da última vez,
perante a surpresa das cenas finais do filme, viraram-se para trás e gritaram-me revoltados O velho
denunciou-os, stora? Calma, atirei-lhes, eu sou só a vossa professora. Assumo tudo, menos pôr o velho a denunciá-los. Onde já se viu? Acresce dizer que o 'velho' é um milionário no início dos quarenta, a carcaça. Outras
vezes dizem coisas cómicas Stora, as raparigas são bué da simples. E isto
porque até à data só apareceram raparigas de roupa interior simples, nada de rendas e cetins naturalmente que a minha aula de alemão é séria e limpinha, mas para eles aquele pequeno
instante da tela brilhante à sua frente é a Alemanha e a Alemanha são raparigas
de cuecas brancas de algodão e camisolas pueris. E depois a paisagem Aquilo é
bue da lindo, stora! Mas o pior aconteceu mesmo no fim do filme quando me
começam a cantarolar Halleluiah. Ora se há cantor de que não gosto é o Leonard Cohen. Já sei que vou contra a corrente mas aquela languidez irrita-me, soa-me a um longo Inverno de frio e nevoeiro onde não se passa nada e eu odeio Inverno e que não se passe nada. Perguntei-lhes incrédula Mas vocês conhecem isto? Não podiam ser mais afirmativos Sim, stora, é bue da lindo, mas este é o Jeff Buckley e
vá de cantarolar Hallelujah, Hallelujah. Hallelujah, Hallelujah. Que achem que a Alemanha é uma rapariga de cuecas
de algodão ainda vá, que gostem do Leonard Cohen é de mais para este coração sensível. O pior é que quase me fizeram gostar do Hallelujah. Mais dez minutos e tinham-me convertido. Anda uma pessoa a criar alunos para isto.
Taditos... Filmes em alemão... Eu só me lembro do meu sofrer com Die Besuch der alten Dame para uma cadeira qualquer no curso de Experimentelle Literatur e como aquilo foi do mais penoso à face da Terra e eu já era adulta. Taditos dos pequenos...:)
ResponderEliminarGrande filme, esse!
ResponderEliminarMas eles entendem tanto alemão? Fantástico!
É uma pena os filmes alemães não chegarem a Portugal. Por exemplo, o Sophie Scholl: devia ser visto por todos.
Há filmes alemães muito giros, Blonde. Eles gostam :)
ResponderEliminarMuito bom, Helena! Eles vêem o filme com legendas ou em português ou em inglês. Este foi o terceiro que viram com legendas em inglês. É uma pena que tantos filmes não tenham legendas de todo. Queria passar-lhes o Almanya, Willkommen in Deutschland, que vi este ano aí em Berlim, mas não encontro com legendas :(
Sophie Scholl há cá, julgo, mas eu queria mostrar-lhes outros filmes, filmes que não versem sobre o Holocausto e aos quais não tenham acesso sem mim (ó pra mim a fazer-me importante :))))))
Vou andar mais atenta a vídeos que por aqui me apareçam, a ver se têm as legendas como precisas.
ResponderEliminarE ainda bem que falas no Almanya: esqueci-me de ir ver!
Eu gostei tanto mas sem legendas nada feito :(
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