Sala de directores de turma. Final de tarde. Esventro o dossier que ajudei a engordar ao longo do ano e folha a folha vou estirpando a pasta obesa de papéis incómodos, vãos agora, horas e horas perdidas ao longo do ano. Vejo-a chegar na penumbra. O estio espreita pelas frestas das janelas em réstias de luz ténues de fim de tarde. Cumprimentamo-nos. Pergunto-lhe E novidades? Não há, responde-me, não sei onde fico. Recolhemo-nos na arrumação da papelada com perguntas pelo meio E isto? Deito fora ou é para o arquivo? Isso aí é o dossier das actas? Resmungo como sempre contra burocracia e trabalho que não dá frutos. Resmungo muito. Resmungo sempre. Rasgo papéis com vigor, ausento-me na senda de um dossier perdido. Regresso. Ela está ao telefone. Empato por uns minutos a minha saída na esperança de que acabe o telefonema e me possa também despedir. Aproximo-me da secretária onde a ouço despedir-se longamente. A conversa vai longa sem prenúncio de um final. Chego perto, toco-lhe no braço e aceno com a mão. Interrompe o telefonema e pede um instante Espera só um bocadinho. Está aqui a Leonor para se despedir. Abraçamo-nos. Dou-lhe um beijo e digo, quando lhe ouço os primeiros soluços, Vá, não fiques assim! Engulo o primeiro soluço, engulo as lágrimas teimosas e digo-lhe Tenho esperança. Nada está perdido! Toco-lhe na mão, um consolo inútil. Digo-lhe ainda Não fiques assim. Lanço-lhe um sorriso desajeitado.
E saio.