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sábado, 17 de novembro de 2012

A vida num prato


Não gosto de gente branda. Não gosto de sabores insossos. Não gosto de apertos de mão moles. Não gosto de sorrisos amarelos ou de desviar de conversas. Não gosto de gente que se escusa a tomadas de posição, que não consegue dizer uma coisa desabrida se for necessário ou que vive existências beatíficas de ausência de palavras. E não gosto de conversa chocha. E de gente manipuladora. É que a manipulação é a arte de dissimular, contornar, dominar o outro até que ele ceda aos nossos intentos sem que o tenhamos afirmado assertivamente. Acontece que esta forma de vida já foi mais turbulenta do que é agora, afinal a idade madura, chamemos-lhe assim, não é só sentir o corpo a ceder implacável à força da gravidade e trouxe-me alguma sensatez com a qual não me tenho dado mal. Esta verborreia serve para dizer que também na comida gosto de sabores fortes, daqueles que nos fazem sentir, beber um vinho intenso ou proclamar as qualidades orgásticas daquilo que ingerimos e gargalhar a seguir com os comensais à nossa frente. Acontece também que por isto que acabei de dizer não gosto de gente que torce o nariz à comida e se resume a uma garfada de nariz torcido, proclamando que estão cheios, como fêmeas em véspera de parir. Terão noção da vida que passa a seu lado? E pronto, agora que já desabafei, aqui  fica uma receita que é uma extensão da intensidade com que a vida deve ser vivida. Ou como eu acho que deve ser vivida.

12 comentários:

  1. Leonor...tenho-te a dizer que tenho fome :)

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  2. Também não gosto de muitas dessas coisas mas não lhes dou grande atenção, afinal tenho de viver com elas no dia-a-dia. "Não gostar" não diz muito, e não admiti-las implicaria partir para outro planeta. Essa declaração assemelha-se às das misses beleza, a quem nunca ouvi dizer que admitem a mentira, ao invés todas se apressam a declarar que a abominam. Mas vivem num mundo de mentiras onde toda a gente mente, nem que seja produzindo quotidianamente aquelas mentiras piedosas que se dizem para evitar magoar o outro ou para fugir a mais discussão. Vivemos entre hipocrisia e ingenuidade mas o resultado é o mesmo.
    Saúde.

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  3. Olá Francisco,

    É como diz(es), não gostar é uma coisa, a outra é ter de viver com elas e a espaços ser um bocadinho assim, quando a sensatez sugere uma maior contenção. Ninguém no seu perfeito juízo pode viver a denunciar tudo o que não gosta, mas podemos seleccionar quem se cruza connosco e acaba por ficar e rejeitar o que nos faz mal.

    Bom Domingo

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  4. É o meu prato preferido e faço-o muitas vezes, é certo nos dias de festa em família.
    E comungo da ideia de que comer é um dos prazeres que não devemos perder se queremos que a vida tenha sabor.
    ~CC~

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    1. Não faço muitas vezes mas adoro também. A vida com sabor é outra coisa ;-)

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  5. Comer é um dos prazeres da vida. Sinto-me uma sortuda por viver num País de sabores fortes. Em comida e em bebida. Sorrisos, Leonor:)

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    1. Sorrisos, CF :) Resta-nos a boa mesa neste Portugal tão entristecido.

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  6. Também não gosto nada dessas coisas todas e os meus 50 quilitos de gente são capazes d eumas boas garfadas:)

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  7. Olá Leonor,
    mais forte do que eu :)
    na minha curiosidade em ler mais daquilo que escreves, só agora (imagina) descobri o teu outro (este) blogue :)
    Revi-me no teu texto, também gosto de sabores fortes, de bom vinho, de sensações que nos tiram o ar, do calor de um abraço apertado, de pessoas verdadeiras... e de camarão com caril :)
    Costumo dizer que a minha idade já me dá o direito de dizer o que quero e principalmente o que não quero, mesmo com a sensatez que os anos depositaram em mim.
    Deixo aqui um beijinho e voltarei sempre que puder
    Isabel

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