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quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Silêncio

Há alturas em que preciso de escrever. Há momentos em que gosto de escrever e há momentos em que não sei escrever. Será por isto?

Com os anos a morte vai-se tornando familiar. Quero dizer não a ideia da morte, não o medo da morte: a realidade dela. As pessoas de quem gostámos e partiram amputam-nos cruelmente de partes vivas nossas, e a sua falta obriga-nos a coxear por dentro. Parece que sobrevivemos não aos outros mas a nós mesmos, e observamos o nosso passado como uma coisa alheia: os episódios dissolvem-se a pouco e pouco, as memórias esbatem-se, o que fomos não nos diz respeito, o que somos estreita-se. A amplidão do futuro de outrora resume-se a um presente acanhado.

António Lobo Antunes in Segundo Livro de Crónicas

3 comentários:

  1. Isto e tao verdadeiro e tao triste tambem....
    Esta entao:
    A amplidão do futuro de outrora resume-se a um presente acanhado.
    deixa-me apertada por dentro.
    Beijos

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  2. Parece que tenho de ler o ALA... Muito bonito, e verdade...
    Jinhosss

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  3. O ALA tem textos muito bonitos. Costumo até guardar as crónicas da "Visão". Levo muito tempo lê-lo, especialmente os romances, por isso é que tem ficado para trás.
    Beijinhos

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