Requiem
Há mortos que demoram a morrer
é inútil sepultá-los eles voltam
demoram-se por vezes numa sombra
num braço de cadeira ou no rebordo partido
de uma chávena. Ou então escondem-se
em pequenas caixas sobre as mesas.
Há objectos que ficam cheios deles
são como o rosto transmudado dos ausentes
sua marca na casa e no efémero.
Por isso custa tanto retirar o prato e o talher
arrumar os fatos desfazer
a cama. Há mortos
que nunca mais se vão embora.
Há mortos que não param de doer.
Manuel Alegre
Não resisti a colocar aquele do Pessoa que te disse que também adoro:
ResponderEliminarA Morte é a curva da Estrada. Morrer é só deixar de ser visto.
Fernando Pessoa
Um beijo e um abraço apertado, L.
Este é um bocdinho triste e aflige-me pensar no meu pai como morto...
ResponderEliminarBeijinhos e bem-vinda!
Alvaro de Campos tem um poema sobre morrer. Não me recordo verso algum, nem mesmo o título...mas que tem, tem. Memória!
ResponderEliminarHá mortos que persistem e mortos que insistem. Já dizia o outro: Não morre quem não consente em morrer.
E quem nós não queremos que morra ou não deixamos morrer... O Álvaro de Campos tem, que me lembre, pelo menos dois poemas sobre a morte, um é A Tabacaria e outro Se te queres matar porque não te queres matar. Será algum desses?
ResponderEliminarQueria só partilhar a coincidência infeliz que nos une.
ResponderEliminarEm 2000, quando o meu pai morreu, ao confrontar-me com o que colocar no seu epitáfio, escolhi a frase de Pessoa que a Leonor escolheu, anos mais tarde, para dar nome ao seu blogue. Ainda hoje recordo com uma pitada de raiva a dificuldade do agente funerário em compreender o significado de uma frase que saía do estereótipo do "Eterna saudade".
(pergunto: o original não é "[...]a curva NA estrada"?)