Há textos que nos pedem para ser escritos. Foi o caso deste. Quem escreve sabe disso. Não garanto até que não tenha ouvido esta frase antes. E há textos que ganham vida própria empertigando-se perante o seu autor “Obrigada sim, mas agora tenho de ir andando. Tenho os leitores lá fora à minha espera…” Esta segunda premissa não se aplica a este, embora se tenha também mostrado caprichoso e voluntarioso e seguido um caminho não previsto antes.
Esta parece uma frase lapidar muito bonita e composta, pronta a ser debitada numa qualquer situação adequada de preferência com assistência para ter mais impacto e mais sucesso como toda a gente hoje em dia quer: um carro maior, uma casa melhor, por vezes também palavras mais cheias de uma douta sonoridade e vãs no significado. Acho que isto me ocorreu porque também na educação chegou esta onda de sucesso e algures ao abrir um mail ou ao chegar à sala de professores me terei cruzado com esta palavra sucesso e o texto, este mesmo, de imediato a pedinchar-me escreves-me? O que importa é educar para o sucesso. Será que alguém se terá questionado, se para além desses sinais exteriores de sucesso, existem equivalentes interiores de satisfação e plenitude? O meu pai sim.
O sucesso nunca constou na sua lista de preocupações. Pouco lhe interessavam os estigmas exteriores dessa coisa chamada sucesso. Marcas, carros, casas passavam-lhe literal e metaforicamente ao lado. O que lhe ocupava todos os seus dias não se media numa escala de mensuráveis bens exteriores. Cultivava os gestos pequenos do quotidiano, a doçura ou aspereza das palavras, a companhia da minha mãe sempre, 51 dos seus 69 anos de vida, e a nossa logo a seguir. Acredito por exemplo que a “Tarde em Itapuã” de Vinícius e Toquinho só poderia ter ocorrido aos seus criadores decorrente da capacidade imensa de apenas conseguir sentir e captar os momentos, a languidez e a beleza de uma tarde despreocupada, passeando à beira-mar, tal como o próprio Vinícius conta. O mesmo se aplica a outros sucessos da música brasileira. Sem pensar no sucesso, ele surge, batendo primeiro mansinho à porta de trás.
Não me interessa que o meu pai não me tenha educado para o sucesso, não me interessa que o meu pai no seu espólio não tenha incluído bens quantitativos perecíveis ao tempo, carros, casas, dinheiro. Do que mais gosto naquilo que o meu pai me legou é a capacidade de admirar os pequenos gestos do dia-a-dia, o sol e mar da janela da cozinha, as bolinhas vermelhas que começam a despontar no azevinho, a capacidade de sentir as palavras e as coisas fantásticas que elas podem fazer acontecer e a capacidade de ser feliz apenas com isso.
Esta parece uma frase lapidar muito bonita e composta, pronta a ser debitada numa qualquer situação adequada de preferência com assistência para ter mais impacto e mais sucesso como toda a gente hoje em dia quer: um carro maior, uma casa melhor, por vezes também palavras mais cheias de uma douta sonoridade e vãs no significado. Acho que isto me ocorreu porque também na educação chegou esta onda de sucesso e algures ao abrir um mail ou ao chegar à sala de professores me terei cruzado com esta palavra sucesso e o texto, este mesmo, de imediato a pedinchar-me escreves-me? O que importa é educar para o sucesso. Será que alguém se terá questionado, se para além desses sinais exteriores de sucesso, existem equivalentes interiores de satisfação e plenitude? O meu pai sim.
O sucesso nunca constou na sua lista de preocupações. Pouco lhe interessavam os estigmas exteriores dessa coisa chamada sucesso. Marcas, carros, casas passavam-lhe literal e metaforicamente ao lado. O que lhe ocupava todos os seus dias não se media numa escala de mensuráveis bens exteriores. Cultivava os gestos pequenos do quotidiano, a doçura ou aspereza das palavras, a companhia da minha mãe sempre, 51 dos seus 69 anos de vida, e a nossa logo a seguir. Acredito por exemplo que a “Tarde em Itapuã” de Vinícius e Toquinho só poderia ter ocorrido aos seus criadores decorrente da capacidade imensa de apenas conseguir sentir e captar os momentos, a languidez e a beleza de uma tarde despreocupada, passeando à beira-mar, tal como o próprio Vinícius conta. O mesmo se aplica a outros sucessos da música brasileira. Sem pensar no sucesso, ele surge, batendo primeiro mansinho à porta de trás.
Não me interessa que o meu pai não me tenha educado para o sucesso, não me interessa que o meu pai no seu espólio não tenha incluído bens quantitativos perecíveis ao tempo, carros, casas, dinheiro. Do que mais gosto naquilo que o meu pai me legou é a capacidade de admirar os pequenos gestos do dia-a-dia, o sol e mar da janela da cozinha, as bolinhas vermelhas que começam a despontar no azevinho, a capacidade de sentir as palavras e as coisas fantásticas que elas podem fazer acontecer e a capacidade de ser feliz apenas com isso.
O titulo de uma historia do Ray Bradbury descreve exactamente aquilo que o teu pai te deixou: a melhor parte da sabedoria
ResponderEliminar:-)
Muito bonito, fiquei comovida :')
ResponderEliminarBem-vinda, flor!!!! E obrigada. Tento que este blogue não seja um muro das lamentações nem caia na lamechice, ainda bem que gostaste.
ResponderEliminarNão consigo decidir se foste tu a ser feita para as palavras, ou as palavras para ti...
ResponderEliminarSeja como for, obrigada por partilhares, TE partilhares conosco!
Quanto a mim, o teu pai deixou-te o que de melhor te podia ter deixado. O amor pelas coisas bonitas da vida!
ResponderEliminarBeijocas