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segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Cheiro a Ipanema

Hoje cheiro a Ipanema, dei por mim a pensar, enquanto os alunos escreviam o sumário e eu olhava para o campo de jogos pela janela da sala. Um casal de alunos muito jovens namorava sofregamente sobre as escadas e o mar revolto do Atlântico deixava-se avistar lá bem no fundinho.
Sei porque me achei a cheirar a Ipanema. Não porque Ipanema se situasse do outro lado, um pouco mais abaixo contudo, daquela fresta de mar que se mostrava tímida no horizonte. Usava hoje o perfume que usei pela primeira vez no Brasil, enquanto ajeitava as bagagens para me poder esgueirar para a janela do quarto do hotel onde me esperava o calçadão de Ipanema, o mar e o Morro Dois Irmãos do lado direito. A caminho da janela abri o saco do duty-free do aeroporto de Lisboa e borrifei-me com o novo aroma. Não sei porque o fiz. Dizer que foi para que a Cidade Maravilhosa me sentisse perfumada é um absoluto disparate. Sei apenas que o momento mágico de avistar Ipanema e sentir que estava finalmente no Rio de Janeiro ficou indelevelmente conotado com a fragrância que usei nesses dias e que hoje escolhi de entre os vários frasquinhos em cima da cómoda.
A cidade acordava, cariocas de todas idades faziam jogging a seu ritmo no calçadão, o Toni dos Cocos recebia um carregamento dos mesmos, as cangas começavam a espreguiçar-se na areia, dando as boas-vindas aos gringos estremunhados nas janelas de hotel. Devíamos preparar-nos para tanta beleza. Também ela, como a tristeza, tem o poder incontrolável de nos assomar a alma, deixando-nos prostrados, indefesos, impotentes. Nestes momentos, e são muitos, ecoa-me mentalmente vou-te contar os olhos já não podem ver, coisas que só o coração pode entender... e ouço o mar da praia de Ipanema a lamber o areal. Esperei toda a minha vida para me encontrar com o Rio de Janeiro. O meu pai não foi alheio a isso. A sua mãe era brasileira tal como a tia, que tinha morado em Copacabana até aos anos 90, embora fossem paulistanas.
O Brasil não é apenas um país distante para onde os portugueses se deslocam em hordas histéricas nos meses de Verão. O Brasil não é só o tráfego das favelas, a violência urbana no imenso país. O Brasil é um linguajar doce, é uma pletora de sabores, um punhado de sorrisos abertos, uma cor de canela, uma anca bamboleante, um abraço do Cristo Redentor, o Deixa a vida me levar do Zeca Pagodinho cantado por um taxista com todos os tons do crepúsculo carioca abraçado pelos morros e lagoas. O Brasil é um pedaço de mim, um sentimento que trago comigo todos os dias da minha vida tal como trago o meu querido pai.

3 comentários:

  1. O Brasil e onde vive mais de metade da minha familia-os irmaos da minha avo materna emigraram para la nos anos 50 e parte da familia do meu pai veio do Brasil para Portugal no principio do sec XX(e depois tornaram a ir e vir)
    Tenho uma vontade imensa de conhecer esse pais

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  2. Para mim, o cheiro que me recorda o Brasil é o da goiaba :))

    E também quero voltar!!!

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