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sábado, 11 de fevereiro de 2006

O país e o mundo

Isto devia ser pela uma da tarde quando o serviço noticioso abriu com a novidade de que Sharon podia morrer a qualquer instante, facto importantíssimo, não estivessem os incautos a pensar que fosse imortal. Se Sharon ou qualquer outro chefe de Estado, primeiro-ministro ou Zé-Maria-Pincel não pudesse morrer a qualquer momento é que seria notícia. Logo a seguir a mega peregrinação de Felgueiras, essa bela localidade, a Fátima, essa bela localidade também, com a Fátima Felgueiras, a primeira exilada da democracia portuguesa, segundo disse a pobre mulher, escorraçada durante uns tempos para Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil. A pena que me fez. Vida dura a de certos autarcas nestes país… Cinquenta e cinco autocarros, dois mil fiéis a Fátima e a recusa da causa da peregrinação. Que não, que não tinha nada a ver, que era mais barato do que vir em veículo próprio, Fátima, a própria Fátima, uma das, bem entendido, da outra não se soube mais o paradeiro e agora já cá nem está ninguém para contar a história, visto que a última testemunha se finou, o que é, de resto, insignificante se tivermos em conta o silêncio e isolamento que lhe foi inflingido por ter tido semelhante visão, mas, então, a Fátima também negou o facto e eu ali fiquei incrédula, sim, ainda há coisas que surpreendem, vendo o povão. Se não foram a Fátima por causa de Fátima, foram por causa de quem? Entretanto vejo o advogado de Carlos Silvino a ser empurrado pelo proprietário de um prédio em Lisboa para fora do dito prédio e ele agarrando-se com unhas e dentes à porta, a barriga proeminente a ressaltar da camisa branca, a porta a encolher-se, mais um ou outro empurrão e zás, o homem cá fora. Muito sinceramente, há figuras que nenhum advogado deve fazer, nem mesmo o de um pedófilo confesso. Esta frase ficou-me na cabeça desde que li a crónica do Ricardo Araújo Pereira falando da marquise do recém-eleito Presidente da República, há determinadas partes da casa que um Presidente da República não devia frequentar. A marquise é uma delas. Assim é, como diria Saramago. Agora pela tarde veio a notícia de que o Vaticano irá limitar o acesso ao Santuário de Fátima, permitindo-o apenas aos católicos, logo agora que a tolerância religiosa se esbanja por esse mundo fora. Prevejo a criação de mais um cartão com direito a desconto nos vendilhões do templo, banda magnética e torniquete na entrada. Decididamente vou deixar de ver notícias ao fim-de-semana.
imagem: Gerhard Haderer, Das Leben des Jesus

3 comentários:

  1. "Agora pela tarde veio a notícia de que o Vaticano irá limitar o acesso ao Santuário de Fátima, permitindo-o apenas aos católicos"
    Uóti????? Mas está tudo parvo???
    Agora é que é caso para dizer: Ó valha-me a santa!!!

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  2. Eu não vejo noticiários há meses. E não tenciono voltar a ver. Não consigo deixar de ler jornais todos os dias, mas fico infinitamente menos mal disposta...

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  3. Ao que parece Fátima vai estar sob a alçada directa do Vaticano e o que está em causa foram celebrações ecuménicas no Santuário assim como a visita de representantes de outras confissões religiosas. Não sou devota de Fátima, aliás, detesto o ambiente, a histeria e obviamente o negócio mas um pouco mais de abertura não ficaria nada mal ao Vaticano.
    Quanto às notícias, acabei agora mesmo de ver as imagens do espancamento aos iraquianos pelos soldados britânicos e fiquei revoltada e enojada.

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