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Um dos primeiros pensamentos que me atravessou a mente naquela terça-feira à porta do hospital, quando se confirmou que nada mais havia a fazer senão esperar que a senhora da gadanha desse a mão ao meu pai e o libertasse daquela cama a que estava aprisionado, foi que ele iria ficar sozinhito e as lágrimas soltaram-se também pela solidão do meu pai sem nós. Aninhei-me no H., as mãos a esconder os olhos, o corpo a corcovar-se pela dor, o peito tresloucado aos solavancos, as palavras perdidas nos soluços.
Estou certa, portanto, que o meu pai jamais seria capaz de escrever, pensar sequer, como Alberto Caeiro, Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia/ Não há nada mais simples/ Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte./ Entre uma e outra cousa todos os dias são meus. Entre as duas datas, que detêm a simplicidade com que acredito que o meu pai gostaria de ser lembrado, todos os dias foram dele e da minha mãe; dele, da minha mãe e de mim; dele, da minha mãe, de mim e do H. Sozinhito teria desistido de existir.
Muito bonito, este teu post. Fez-me lembrar uma situação parecida. Hà 3 anos, a minha mãe teve de ser operada para colocar uma prótese do joelho. Acompanhei o meu pai durante esses longos dias e noites e só então me dei conta da sua tremenda dependência, sobretudo emocional, da presença da minha mãe. É profundamente comovente.
ResponderEliminarlágrima ao canto do olho...
ResponderEliminarAcho que devemos ficar orgulhosas de nascer de um amor assim :)
ResponderEliminarCompletamente!!
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ResponderEliminarMeu pai também amava minha mãe assim, com esses olhos que encontram o infinito no rosto da amada. É mesmo lindo lembrar...Teu texto está comovente.
ResponderEliminarTens textos tão bonitos!
ResponderEliminarObrigada, super-mãe :))
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