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sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Entretanto em Miami

Um pequeno comboio aberto estacionou na berma do passeio. À frente, de pé, vinha um jovem louro, talvez na casa dos trinta, com um microfone na mão. Vestia uma guayabera. Máximo desviou logo o olhar.
- Ora aqui temos o
Domino Park - disse a voz amplificada, primeiro em inglês, depois em espanhol. - Atenção, amigos: quem tiver menos de cinquenta e cinco anos não pode entrar aqui. Mas é claro que toda a gente pode vê-los a jogar.
Máximo ouviu os diques das máquinas fotográficas e, um instante depois, convenceu-se de que não poderia ter ouvido. Não, no sítio onde estava era impossível.
- A maior parte destes homens são cubanos - prosseguiu a voz amplificada, ecoando contra o fundo do parque. Mantêm viva a tradição do seu país natal. É que, em Cuba, era muito comum as pessoas jogarem dominó depois duma boa refeição. Era uma maneira de manter a comunidade unida, de reforçar os laços comunitários. O que aqui estamos a presenciar, meus amigos, é um fragmento do passado. De uma época mais simples do que a nossa, de uma época de grandes amizades e em que as pessoas não andavam todo o dia a correr de um lado para o outro. (...)
Quando o feedback do microfone trespassou como uma espada o Domino Park, Máximo já não conseguia continuar sentado e quieto, já não conseguia aceitar as coisas tal qual elas eram. E isso era algo que há muito não acontecia na sua vida.
Ergueu-se e ergueu para os turistas um punho fechado.
- Mierda! - gritou. - Mierda! Nunca ouvi uma treta tão grande em toda a minha vida!

Ana Menéndez, Em Cuba eu era um pastor-alemão.
foto aqui

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