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quarta-feira, 7 de março de 2007

Never make a saint of me

Agosto escaldante, ainda mais pela hora em que o sol olhava ufano bem lá do alto. Saltos altos e farpela a preceito, assim exigia o enlace matrimonial de uma colega de profissão. O noivo fez-se esperar para quebrar a tradição e desesperar os convidados. Da noiva não se ouviu queixume. Quando ela finalmente entrou na capela decorada com pequenos bouquets de rosas vermelhas e caminhou tranquila, os passos calculados e femininos, sobre a passadeira vermelha com centenas de pares de olhos, humedecidos alguns, todos focados e centrados na entrada da noiva, contudo, senti que não, assim não. Repeti a mim própria e avisei a minha progenitora a meu lado que jamais seria capaz de fazer semelhante. Não o casamento, ou talvez ele também, mas a atenção subitamente concentrada em mim, imaginando-me, pois, no lugar da noiva. O desconforto fazia antever que a única saída plausível, estivera eu naquela situação, seria mesmo a porta dos fundos, a da sacristia certamente. E a música, a música de igreja, talvez a marcha nupcial ou algo semelhante ao que habitualmente condiz com a situação. Foi aí, julgo, que terei ouvido Mick Jagger a sussurrar-me ao ouvido, com os lábios que se lhe conhece, como uma brisa entre o pescoço e o cabelo caído em cachos pelos ombros desnudados, um arrepio leve na espinha contrariando a canícula do zénite de Agosto. Os desígnios ocultos e misteriosos raramente são audíveis e perceptíveis a todos. E pelo ouvido, o sussurro, agora evidente, saint of me, you´ll never make a Saint of me. A melhor das opções desenhava-se à minha frente. Entrar pela basílica e, bem ao fundo, junto ao altar-mor, em vez das avé-marias e marchas nupciais no esplendor barroco do órgão bento, as pedras rolantes a esgalharem em todo o seu poder Saint of me com Jagger cantando-me por trás do vigário, surgindo de um lado e do outro da beatífica personagem they´ll never make a saint of you. Assim, sim.

2 comentários:

  1. :o) Também penso nisso. Não vou casar na igreja mas imagino toda a gente a olhar para mim e eu sem ter para onde fugir, e não tenho portas de trás ou laterais da quinta! ;oP
    Bem, há a hipótese de o conservador não ter livre a hora que nós marcámos e então tem de se fazer o cocktail de boas vindas antes de cerimónia, já que é tudo na quinta. Assim estou no meio das outras pessoas e depois é só sair um bocadinho para ir dizer sim e assinar a papelada ;)

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  2. Mas isto foi antes de o Cupido me ter atingido. Depois fiquei sem este medo. Acho que era mais a ideia de casamento mesmo. O Noiva em Fuga foi durante anos e continua a ser um dos meus filmes preferidos.
    Vai correr tudo bem, vais ver. Nem dei pela falta do Mick Jagger ;-)

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