Adentrando a alma
E para melhor conhecer o Chiado há que deixar a Rua Garrett e adentrar as ruelas estreitas coroadas de vida entre estendais, flores e grinaldas alegres dos santos populares, coloridas com conversas inconsequentes à porta de casa, um pé na estrada, outro no passeio. Em três meses estava operada à barriga atira uma mulher rotunda a um homem com quem cruzava palavras. O tema tão comum neste fado lusitano, há sempre um achaque que nos consome a alma e apoquenta o corpo. Há quem lhe chame fado. E Lisboa assemelha-se então a uma aldeia longínqua divorciada do cosmopolitismo da urbe.
Num passeio fugaz pelo Largo do Carmo, lugar obrigatório e palco primordial da metamorfose política e social de Portugal a 25 de Abril de 1974, confirmo a idiossincrasia do largo. Relativamente pequeno, protegido pelos jacarandás e coroado por um chafariz, o Largo do Carmo oferece simultaneamente lazer e interesse turístico: anciãos jogam xadrez numa mesa de pedra enquanto turistas louros e alvos se deixam retratar por um pintor de ocasião com as obras penduradas pelo quiosque a um canto da praça. Do lado lateral o caminho estreito para mais uma vista sublime de Lisboa. Vale a pena. E continuo rua acima. O perfume a libertar-se dos fogareiros artesanais, agora mais intenso com o aroma da sardinha assada, não há Lisboa nem Chiado sem elas, e o odor carregado dos alfarrabistas.
Do outro lado da rua, o Solar do Vinho do Porto, a hora propícia para o néctar dos néctares, viscoso e aromático, mais abaixo o Cine Theatro Gymnasio oferece Fado aos turistas, obrigatório neste ou noutro lugar para quem quiser experimentar a alma lusa.
(continua)
Que vontade de voltar a Lisboa! Por ora vou te seguindo nessas deliciosas descrições e fotografias. Por enquanto, só me resta acompanhar o teu percurso com o homenzinho amarelo do Google Maps.
ResponderEliminarOlho-te a ti Lisboa, amiga
ResponderEliminarSob um sol translúcido, brilhando
No capot de um carro ou mesmo
Naquele velho carrinho de compras
Onde alguém dorme
Lisboa, a minha casa, a
Mãe de poetas, actores, pensadores, revoluções,
Revolucionários, a mãe de sonhadores
Solitários.
Mas não deixas de ser tu, Lisboa,
A mãe extremosa que embala os
Filhos e depois parte com os céus
Nos olhos para a vida boémia do
Bairro Alto
Mas não deixas de ser tu, Lisboa
Dos ricos e dos pobres, dos ignorantes e
Dos Doutos em coisa nenhuma.
A Lisboa que voa, qual gaivota errante,
A Lisboa que grita, por mil vozes:
“Senhora, que os salários são baixos...”
A Lisboa sobre o Tejo, sobre os barcos
Sobre os boémios à deriva nas Docas
Mas és, sobretudo, os barcos de pescadores, que Em vez
Da faina de outras eras, trazem apenas a brisa marítima.
E tristeza nos olhos.
A Lisboa do Camões (Ah Sim!
Aquele que em vez de se perder em ti, Lisboa,
resolveu ficar zarolho em Ceuta! Acreditas nisto, Lisboa? Acreditas?)
A Lisboa do Pessoa (ou do Álvaro de Campos, ou do Alberto Caeiro,
Ou do Ricardo Reis, ou de quem quer que fosse que o Pessoa criasse...)
A Lisboa de uma infinita peça que intercala epopeias monumentais
E momentos mortos ( a estrear no Politeama, dia de S.Nunca à tarde,
Com um elenco Invejável – não faço a mais pequena ideia quem são
Os actores, mas se assim o dizem- o elenco é invejável)
A Lisboa da vida, da morte,
Do amor dos apaixonados
Do ódio dos artistas incompreendidos que, em ti,
Lisboa, tentam vingar uma arte
Que não vinga (Será que eles não sabem que o mar de oportunidades raras,
Mas que existem, é notros países? Espanha, Estados Unidos da América, Inglaterra...)
Mas serás sempre tu, Lisboa,
Uma identidade própria que inebria o
Menos sensível dos corações.
Serás sempre Lisboa,
A terra dos Sonhos
E das ilusões.
Toda a cidade flutua
ResponderEliminarNo mar da minha canção
Passeiam na rua, retalhos de lua
Que caem do meu balão
Deixei Lisboa folgar
Não há mal que me arrefeça
A rir, a cantar, cabeça no ar
Que eu hoje perco a cabeça
Lisboa nasceu, pertinho do céu
Toda embalada na fé
Lavou-se no rio, ai ai ai menina
Foi baptizada na Sé !
Já se fez mulher e hoje o que ela quer
É bailar e dar ao pé
Vaidosa varina, ai ai ai menina
Mas que linda que ela é!
Dizem que eu velhinha sou
Há oito séculos nascida
Nessa é que eu não vou, por mim não passou
Nem a morte nem a vida
O Pagem me fez um fado
De novo ali me leu a sina
Não ter namorado, amor nem cuidado
E ficar sempre menina!
Assim, sim. :D
ResponderEliminarPerfumadas são estas crónicas, Leonor. :)
É um aperitivo para voltar, Aventino, esperemos que desta vez o tempo seja seu amigo, que esse tempo português tem sido muito ingrato :-)
ResponderEliminarDevia publicar estes seus poemas, Ana.
Your wish is my command, Mike :)