Foi hoje. Dois momentos fugazes de felicidade. Dois instantes de um suspiro bem fundo e a sensação de leveza nos pés, no rosto teria aquele sorriso dos tontos. E para nada disto foi necessário nada mais do que o cheiro da madeira a arder quando saí da escola pela noite, o regresso inevitável ao território roubado das infâncias felizes e o sol a bater na cara quando conduzia na direcção do ocaso, com um mar imenso à minha frente e o sol de inverno ameno, a bênção de que precisávamos para aguentar o mundo lá fora. Dois momentos num mesmo dia. Gosto de dias assim.
:-)
ResponderEliminarO mais engraçado é que essa infância existe sobretudo na nossa cabeça. Em miúdos não parávamos para cheirar a lenha a arder, não nos apercebíamos da perfeição desses momentos. Essas coisas ficam no fundo de nós, latentes, à espera de um curto-circuito décadas mais tarde que as faça a posteriori uma recordação de felicidade.
Lembro-me do cheiro da canja e do arroz branco com cidreira apanhada de fresco no jardim. Um dia destes alguém me vai pôr à frente um prato com esse aroma, e eu sei que me vou sentir muito mais feliz (quase eufórica!) do que me senti naquele verão dos meus nove anos quando na casa grande de Lousada a criada Adelaide me dava dessa canja para jantar - e eu chorava, porque o fim do dia me deixava nostálgica e morria de saudades dos meus pais.
(ai, o cheiro da madeira a arder! ai, o sol na cara em frente ao mar!)
ResponderEliminarÉ mesmo, Helena, é um território mítico cada vez mais mítico à medida que envelhecemos.
ResponderEliminarFoi engraçado, porque me senti revigorar por breves minutos.
Um dos meus cheiros de infância é o cheiro a Norte. Não sei explicar. É que não é do madeiro a arder. É um cheiro de frio e de uma mistura de outras coisas. Os meus pais são de Viseu e para mim Viseu sempre foi Norte. Outro é o leite-creme a ser queimado. E por último, o açúcar e canela dos sonhos no Natal que me faz ter tantas saudades do meu pai.
Bom fim-de-semana, Helena :)