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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Bibliófilos nossos amigos


Num ano longínquo e nesse tempo igualmente longínquo em que eu podia ir conhecer mundo e pôr pé e nariz além fronteiras perdi-me de amores por um livro. Nada de novo. Sempre que ia àquela livraria na Velha Albion, em pleno Piccadilly, era a perdição. Cinco andares, meus deuses, cinco andares de livrinhos novos à espera de serem folheados e lidos é o sonho de qualquer bibliófilo que se preze. Acalentei um dia a esperança de ficar lá dentro sem horas marcadas nem gente à minha espera, metendo o nariz em tudo, acariciando capas e inspirando o aroma libertador das páginas invictas. Há lá coisa melhor? Deve haver mas agora é mesmo o que me apetece dizer. Amanhã direi que é o cheiro a maresia na Ericeira, uma verdadeira dádiva de Neptuno, num outro dia o cheiro a Verão, quando na Primavera meto o nariz de fora e inspiro o perfume da Primavera, algo indefinido mesclado com o aroma as flores da nespereira aqui perto e outro o café acabado de fazer pela manhã. Mas os livros, ai os livros. O único problema do objecto do meu desejo ardente era o peso e o tamanho, impróprio para ser transportado Londres fora, transpor ares e chegar à minha modesta casinha mas a história acabou bem. Fui lá comprá-lo no último dia de manhã e o meu prestimoso consorte transportou-o com zelo. Agora mesmo enquanto vos escrevo vejo-o de relance, ao livro, a lombada meio desmaiada do sol aqui da sala e a memória de um pequeno episódio de que são feitas as existências felizes. E serve isto tudo para dizer e ilustrar que sim, eu também gosto muito de livros, ó como gosto de livros, mas gastar 12.000 euros em livros, ainda por cima do programa do Governo, numa altura em que se aponta a porta de saída como  umas das soluções de sobrevivência deste país e diariamente nos vão ao bolso não me parece um exagero, é um insulto a todos nós.

7 comentários:

  1. Claro que é!
    O Relvas é um parolo perigoso.

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  2. Que bom vê-lo por aqui, António! Estamos definitivamente perdidos.

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  3. Eu ainda sou do tempo em que a Waterstones era a Dillons, vê tu bem!!! E bookshops na Velha Albion... só não se perde quem for realmente insensível!

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  4. Ah, a Hatchards em Picadilly...Jesus, que perdição.
    Recomendo a pequenina e deliciosa livraria John Sandoe, em Blacklands Terrace,transversal de Kings Road, a 2ª à direita a partir do Peter Jones.
    Muito boa também.

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  5. Uma perdição mesmo, Blonde.
    Agora estou de pousio por razões óbvias e vou ler o que tenho cá por casa.

    Concordo, Fernando, a Waterstones é para os maluquinhos mas a Hatchards é apenas para apreciadores. Vou desenterrar um texto do baú que escrevi quando uma vez fui à Hatchards. A outra não conheço, ficará para uma próxima oportunidade.

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  6. Eu quero acreditar que a magia das livrarias não se vai perder tão cedo! beijocas

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