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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mês Saramago

Um afazer profissional que me está a dar um imenso prazer e quase a começar aqui.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Decisões

Tentar não pensar no futuro. Não fazer contas e esquecer que Janeiro é já ali no fim da curva de Dezembro.

sábado, 16 de outubro de 2010

Conclusões

País de merda.

A gula da banca

Começou ontem lá pelas quatro da tarde. Inesperadamente e sem que nada o fizesse prever repetiu-se lá pelas seis da tarde. Hoje pela manhã, enquanto acabava o duche matinal idem e hoje pela tardinha quando rumava ao lar tocou outra vez o telemóvel e consegui finalmente atender aquele incansável anónimo que desde ontem me perturbava com a insistência. Do lado de lá a conversa de banha da cobra Sr. D. Maria Leonor Barros? A mesma, um bocado para o acabadote, de alma pouco luminosa, um ódio mortal ao Sócrates e respectiva comandita, desiludida e defraudada com a escola azul cueca, mas sim, era eu. Primeiro se eu tinha recebido o cartão de crédito. Afirmativo. O que tinha caducara em Setembro e lá para os fins de Agosto recebera o novo aqui no lar da província, a meio caminho do mar. E depois a pergunta curiosa, se havia alguma razão para não o ter utilizado entretanto. Ainda contra-argumentei, inquirindo se era obrigatório usá-lo, ao que a simpática voz respondeu que obviamente que não, blá blá blá. Com o bom humor que tenho ainda estive para lhe perguntar se ele achava que esta era altura da malta estoirar o cartão de crédito, logo agora, precisamente agorinha, mas decidi engolir o responso. O pobre homem não tem culpa mas adivinho um assédio cerrado dos bancos nestes tempos que se avizinham. Já não era a primeira vez que me mandavam cartões de crédito para casa sem nunca os ter solicitado e até o meu pobre pai, morto e enterrado faz cinco anos, foi o feliz proprietário de uma dessas tarjetas douradas. Ninguém está a salvo da gula da banca.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Outono

Faz Outono em mim. Um manto plúmbeo e pesado que arrasto aos ombros agrilhoada a dias sem sol. Tão cedo contudo. Da janela umas réstias de sol rompem o céu e seguem oblíquas no mar que ouço agora alterado. A luz que se esconde tímida e a alma que se afoga no cair da noite. Outono.

sábado, 9 de outubro de 2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Aviso

Amigos, leitores, comentadores e curiosos, entrei numa daquelas fases de humor canídeo, de raiva furiosa contra este Governo e sabem os deuses o esforço que faço para não começar a encher o blogue de impropérios e insultos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A selva azul-cueca

Quando planeei a minha primeira viagem ao Brasil e decidi começar pela cidade que tinha no coração, o Rio de Janeiro, fui avisada dos mais variados perigos. De todos os possíveis e imagináveis, um dos quais incluía corte de cabelo. Ou seja, lá ia eu com a minha farta cabeleira no Calçadão e, eis senão quando, seria atacada por bandidos ou pivetes que me iriam à trunfa. Se ainda tomei cuidado com o resto, tanto que de tão despojada só podia mesmo ser turista, mantive-me calma quanto à trunfa e decidi usá-la farta como sempre foi. Obviamente. Uma vez no Rio, e em conversa com uma amiga carioca muito familiarizada com os turistas etnocêntricos, ela confirmou o leque abrangente de perguntas e questões que lhe são colocadas sempre que os gringos decidem pisar solo carioca. Dessa conversa, ficou-me sempre a resposta que ele terá dado a alguma perua portuguesa, Minha senhora, isso aqui não é a selva!
E vem isto porque antes mesmo da inauguração da escola e depois da visita do reconhecimento do local pelas altas individualidades de dentro e de fora, e que suponho que tenha incluído um périplo pelas várias divisões do edifico, uma das individualidades de dentro do concelho concluiu ufana perante a obra bela que a Escola estava muito bem conservada. É claro que aqui a da trunfa respondeu que mal seria se assim não fosse, pois a escola é NOVA, e nova de ter sido aberta em Setembro, assim há coisa de um mês, ora portanto, uns insignificantes trinta dias, menos se tirarmos os fins-de-semana e se tivermos em conta que as aulas começaram lá para dia treze. A individualidade não desistiu e atirou Mas mesmo assim, podia estar já… e acrescentou Os laboratórios, todos muito bem… a da gadelha (sim, guedelha, eu sei) encrespou-se, que raio pensaria a mulher? Que ali se havia travado alguma batalha, algum conflito étnico sangrento? Um duelo trágico na conquista de território? Saberia do AzulCuecaGate?, e respondeu Os nossos alunos não são nenhuns selvagens. Só faltou acrescentar Minha senhora alta individualidade, isso aqui não é a selva.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Convidados assíduos

O Salazar e o Rei eram convidados assíduos de lá de casa, pela hora de jantar, em tempo de vida da minha avó. O meu pai não gostava nem de um nem de outro, menos do Salazar, é certo, que arrumava a um canto ou pedia para sair, de forma a que pudéssemos ter uma refeição descansada, sem lápis azul nem a carranca austera. Acresce a isto o facto de a voz aflautada do Botas nunca ter sido do agrado de ninguém lá por casa. Por fim, o Botas arrastava-se, a queda da cadeira deu-lhe cabo das cruzes, e quando o meu pai lhe atirava com Fátima e a Irmã Lúcia e ia buscar Fátima Desmascarada à estante do corredor, vinham-lhe umas tosses cavernosas e a imagem a preto e branco contrastava ainda mais com a nossa vida a cores de meados dos anos 70. A minha avó tolerava o Botas e tinha dias de elogios rasgados. Era ela quem o convidava amiúde e as discussões mantinham-se sempre por causa das estradas que o Botas construíra, a virtude máxima encontrada e citada pela minha avó, e que, não sendo novidade para ninguém em pleno século XX, constituíam o foco de admiração profunda que nutria pelo ditador.
O Rei aparecia mais vezes do que o Salazar. O Rei aparecia quase a qualquer momento, mesmo sem o meu pai em casa, já o Botas só aparecia quando o meu pai lá estava. Acho que o Botas gostava do confronto, porque quando não era o Fátima Desmascarada, o meu pai citava-lhe trechos d´ A Velhice do Padre Eterno do Guerra Junqueiro. Também me lembrei dele, quando um destes dias assisti a uma romaria na vila Olhem ali o nosso Padre Cura... Mas não sei o que era pior. Sei que num desses duelos, Fátima Desmascarada de um lado e A Velhice do Padre Eterno do outro, o Botas começou a empalidecer até se tornar transparente e desaparecer pela janela do hall como uma serpentina de fumo. Foi um descanso o resto do jantar. O Rei aparecia, por exemplo, a meio da tarde, vindo do nada Coitado do rei! Admite-se fazer uma coisa daquelas ao rei! Coitada da rainha! Via-o lá por casa algumas vezes em amena cavaqueira com a minha avó, sempre pesarosa com a crueldade do regicídio. O meu pai não se incomodava muito com o Rei, embora o irritasse aquela mania de tratar todos por tu. O ar bonacheirão, contudo, devia inspirar-lhe confiança e como era dado aos prazeres da vida e às artes, o Sr. Dom Carlos, o meu pai achava-lhe piada e deixava-o contemplar os quadros a óleo da sala de jantar com mares e naturezas mortas. De modo que havia dias lá em casa em que a alternância entre a monarquia, - a desgraça que se abatera sobre a casa real, coitado do Rei, a rainha D. Amélia viúva e o filho assassinado- e a república na pessoa do Botas, o grande mentor das auto-estradas portuguesas, um Ferreira do Amaral dos tempos da ditadura, operava-se com uma rapidez estonteante, assim a minha avó se lembrasse de ambos. E lembrava-se muito.
Texto reeditado e repescado da memória.

Pormenores

Adoro. Sem qualquer ironia.

Escola Secundária José Saramago
Quadros de Nuno Medeiros
fotografia minha

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os velhos que paguem a crise

Desconheço o nome da criatura. Apanhei-a pela manhã durante o pequeno-almoço, enquanto cumpria o vício e o ritual de me actualizar sobre o estado do país e do mundo. Dever-me-ei assustar com este gosto masoquista? Dizia então a criatura, e foi logo após as novas medidas do governo Sócrates, que os reformados deviam sofrer mais cortes e isto, segundo a dita comentadora, porque já não tinham encargos com a educação dos filhos e tinham uma redução de despesas. Portanto, e assim sendo, os reformados que não vivem declaradamente pobres ou no limiar da pobreza devem pagar a crise. Já que não têm filhos para alimentar nem para comprar livros nem gadgets nem roupa de marca nem saídas à noite, só têm é que pagar mais do que os restantes cidadãos. Argumento curioso, tão curioso quanto inane e injusto. Não interessa se os reformados, pensionistas ou como lhes queiram chamar, descontaram já uma vida inteira para a sua reforma, ou se já contribuíram com o melhor dos seus anos para este país. Nem todos vivem à custa de reformas chorudas de lugares ao sol por via de amigos, amiguinhos e amigalhaços. Há quem tenha trabalhado honestamente e muito, com dedicação e empenho, e cumprido a sua missão.
O que mais me encanitou, e se encanitou, foi, por um lado, o preconceito de que os velhos são mesmo velhos, seres a quem a força da gravidade foi lesta e os deixou de carnes dependuradas, desgraçadamente sem plásticas, e mentes toldadas pela neblina da memória embaciada, e que não têm vida própria nem o direito de, se lhes apetecer, ir a banhos para as Caraíbas ou ficar em casa a devorar os livros que não conseguiram durante a vida activa ou ainda fazer rigorosamente o que lhes der na gana. Por outro lado, esta ingerência na vida privada dos cidadãos não me deixou a mais calma das criaturas. E que temos nós a ver como e em quê os reformados gastam o dinheiro e que direito se tem de fazer inferências sobre a vida alheia apenas porque são velhos? E se não forem saudáveis e se precisarem de cuidados ou de pagar um lar? Nada disso interessa para a jovem e enxuta criatura, ainda com as carnes no lugar e a boca rápida em cuspir disparates. Neste país ser velho é igual a não ter qualquer dignidade. Pobre, destituído de tudo. Além de serem abandonados nos hospitais, vítimas de maus-tratos e de abusos têm também de pagar a crise. E por que não exterminá-los? Raio de gente.

Notícias da escola azul cueca

Os estores pifaram com a ventania de ontem.

domingo, 3 de outubro de 2010

E queria sempre que voltasses. Quando está sol, penso, Se ele tivesse visto dias destes nunca tinha feito aquilo. Às vezes queria ouvir-te chamar Ó Tio!, naquele jeito tão beirão e tão genuíno que tinhas. Queria o teu jeito arisco a chamar-me nomes na cozinha da vovó, lembras-te? Puta de merda e eu a responder-te no mesmo jeito arisco e intempestivo Puta é tua avó! E a vovó a entrar pela cozinha, coisas de pré adolescentes tolos e desbocados. Às vezes queria ver-te de novo a fazer birras, birras enormes à beira da água na Figueira, e que fria, que gelo, Né. Quatro ou cinco anos teríamos na altura. E queria sempre que voltasses, igual se continuaríamos a ser crianças ou adultos reconhecendo a passagem do tempo. Terias cabelos brancos também? Notar-se-iam as rugas de expressão? Queria sempre que voltasses. Queria sempre que nunca tivesses querido partir. Queria sempre que nunca o tivesses feito. E talvez nem te telefonasse hoje a dar-te os parabéns. Saber-te-ia contudo em celebração. Nada mais precisaria. Bastar-me-ia saber-te vivo.

Para o meu primo que faria hoje 44 anos.