Páginas

sábado, 14 de janeiro de 2012

Querer e poder

Vida de professor é feita de papéis, papelinhos, destacáveis, comprovativos e tudo o que tenha a ver com papeladas, burocracia sem fim. Nos intervalos de tudo isto sou professora e faço aquilo devia fazer e que o tempo em volta dos papéis me rouba. Entro na sala com um lembrete na cabeça, uma campainha que toca para que não me esqueça, não me posso esquecer, e mesmo antes da aula começar digo-lhes, Meninos, preciso dos destacáveis para a reunião com os Encarregados de Educação. Ergue-se uma pletora de respostas. Ai stora, esqueci-me! Trago-lhe amanhã ou Não trouxe o papel mas a minha mãe vem, O meu pai pode vir mesmo sem o papel? A minha mãe não sabe se pode vir. Alguns levantam-se entretanto e entregam-me o rectângulo branco. Recolho a papelada, organizo-me na secretária, ligo o computador e de lá do fundo ergue-se uma voz  Stora, eu já disse à minha mãe e ao meu irmão. E depois a voz descaída como um ramo despencado Mas nenhum quer vir. Arrumou-se ao fundo da sala e manteve-se estranhamente silenciosa. Não que o dia ou a hora fossem inconvenientes. Um qualquer outro dia e hora seriam igualmente maçadores. Substituíra-se querer por poder e talvez o mundo fosse outro. A diferença que um verbo faz.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Comments are welcome :-)