Vida de professor é feita de
papéis, papelinhos, destacáveis, comprovativos e tudo o que tenha a ver com
papeladas, burocracia sem fim. Nos intervalos de tudo isto sou professora e
faço aquilo devia fazer e que o tempo em volta dos papéis me rouba. Entro na
sala com um lembrete na cabeça, uma campainha que toca para que não me esqueça,
não me posso esquecer, e mesmo antes da aula começar digo-lhes, Meninos, preciso dos destacáveis para a
reunião com os Encarregados de Educação. Ergue-se uma pletora de respostas.
Ai stora, esqueci-me! Trago-lhe amanhã ou
Não trouxe o papel mas a minha mãe vem,
O meu pai pode vir mesmo sem o papel? A
minha mãe não sabe se pode vir. Alguns levantam-se entretanto e entregam-me
o rectângulo branco. Recolho a papelada, organizo-me na secretária, ligo o
computador e de lá do fundo ergue-se uma voz Stora,
eu já disse à minha mãe e ao meu irmão. E depois a voz descaída como um
ramo despencado Mas nenhum quer vir. Arrumou-se
ao fundo da sala e manteve-se estranhamente silenciosa. Não que o dia ou a hora
fossem inconvenientes. Um qualquer outro dia e hora seriam igualmente maçadores.
Substituíra-se querer por poder e talvez o mundo fosse outro. A
diferença que um verbo faz.
Também no Delito de Opinião.
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