Sou uma alma solar, embirro com
dias cinzentos e convenço-me que esses estados de alma sombrios são uma
extensão de dias infelizes sem sol. Se me levantasse da cama e ficasse em casa
de portadas fechadas, protegendo-me do sol e do calor, já teria saído de faca em
punho para dizimar o que se me cruzasse neste ímpeto devastador. Não porque não
goste do coxo e do cego que cruzam a rua ou odeie a Frida Kahlo das carcaças, a dona da padaria ou o Jesus Cristo da aldeia que
também faz ruas mesmo em dias de frio. Nada disso. O frio e a falta de luz
trazem ao de cima a fera que há em mim, a medusa hedionda, sim, o cabelo ajuda
muito, o golum aterrador e nesse território medonho, nas catacumbas da alma,
nada há que possa cheirar o dia ou ser acariciado por um raio de sol. Acontece
que hoje apanhei muito frio. Está frio, dir-me-ão, é Inverno, já se sabe. Pois
sabe. Neste meu humor solar até tolero dias cinzentos e frio, mas se e apenas
se for na rua. Um cachecol, umas luvas, mais uma camisola e um casaco quente e
posso até ser feliz. Se por um acaso estiver além fronteiras onde o frio é mais
generoso, serei até muito feliz porque a libertação de um sítio diferente e a
janela aberta sobre um outro mundo e linguajar são por si só condição
suficiente para que arrume os demónios nas profundezas. Hoje não estive na rua.
Tudo teria sido mais fácil e este texto sem sentido. Estive cinco horas num
frigorífico, de cachecol, uma camisola extra, um casaco quente e um frio
descomunal. Às terças-feiras é sempre di de casaco extra, o mais quente que
tenho e que me faz parecer o abominável homem das neves em versão fêmea e
morena de um metro e sessenta. E onde andei, perguntarão? Ora, pois claro na
minha moderníssima escola azul-cueca, lá onde é tudo moderno, tão moderno que
hoje até tinha uma mulher descascada no ambiente de trabalho do computador.
Isso sim, mas aquecimento central a funcionar, zero. Diz que há por lá um
berbicacho. Pois há, há sempre um berbicacho desconhecido que nos atormenta os
dias. E pronto, era só isto. Logo agora que o Primeiro-ministro disse que o povo tinha de ser menos piegas nada como este texto para o comprovar. Ninguém disse que eu era
obediente. Se disserem que eu sou desobediente provavelmente obedecerei com
mais um post. Piegas é a tua tia, ó Passos Coelho. Não digas asneiras, porra!
Leonor,
ResponderEliminarpessoas com ordenados pagos por mim que se sentem no direito de insultar a minha pouca inteligência sem respeito nem pudor ou qualquer noção do ridículo tiram-me do sério...
Nem sei que lhe diga, André. Até posso compreender que tudo o que Pedro Passos Coelho é empolado mas ele devia ter mais cuidado. Mostrou total insensibilidade. Por outro lado, está a instalar-se esta ideia de que só temos o que merecemos e que só temos de nos fazer à vida. Impressionante e triste.
ResponderEliminarRegistei, com repúdio, porque também sei o que é, o frio descomunal que rapamos nas escolas. Afinal não é só a norte...
ResponderEliminarEm relação ao Passos, digo apenas aqui que achei piada uma vez a um post que apareceu no FB:
procura-se COELHO para lhe acertar os PASSOS.
:::)))
E hoje estou com dores de garganta, e eu nem sou muito sensível, Fátima.
ResponderEliminarNão é só o Passos. Hoje nas notícias vieram a lume as recomendações de uma política francesa a propósito do frio. Dizia ele que os sem-abrigo deviam evitar sair. Andam todos na mesma escola, é o que é :)