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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Eles

E o que fazem os homens quando as mulheres se perdem por compras num aeroporto cheio de lojas? Espreitem aqui para revelações surpreendentes.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Momento sitemeter (6)

A quem vinha à procura da resposta para o que são adiposidades temos a desdita de informar que não só sabemos o que são, como também possuímos evidências inegáveis das ditas.

Vistas


foto: minha

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Uma questão de gratidão

Sobre o corpo apenas o necessário. Nos pés a liberdade imensa que as sandálias estivais permitem. Do corpo o aroma do protector solar mesclado com o banho de mar, água fria estava naquele dia de Julho menino. O dia que se aconchega no regaço da tarde, a praia lentamente para trás, o mar mais distante, a areia que sem sucesso se sacode e uma nova etapa do dia que se inicia com o périplo necessário para as mais comezinhas tarefas algures na cidade a Sul. Os olhos focam com mais acuidade e, de entre as lojas em fila, salienta-se aquela. Uma livraria? Uma livraria. Entro ávida, não sem antes de espreitar a montra. Os livros podem ser um vício incurável, uma fome súbita de saciedade difícil.
A livraria era, na verdade, uma livraria. De corredores estreitos, quase a lembrar uma biblioteca, com estantes recheadas até ao tecto, um pequeno labirinto, onde quase se podia jogar às escondidas entre Hemingway e Saramago, Teolinda Gersão e Philip Roth, os olhos a encontrarem-se de permeio pelas lombadas ordeiras. Não fora o espaço tão exíguo e assim poderia ser. Ao que ia, perguntaram-me. A resposta saiu desajeitada, apenas o vício me levara ao lugar, que de livros para a semana a Sul estava bem servida. E porque de uma livraria se tratava, não uma loja de livros, a empregada solícita não desistiu em mostrar as últimas novidades, o que haviam recebido bem visível nos caixotes abertos pela livraria, uma deferência esquecida para quem frequenta espaços onde os livros são apenas deixados à mercê do leitor sem a menor dedicação dos empregados desse ofício moribundo de bem vender livros e bem os tratar. Apareceu o dono, entretanto. A conversa estendeu-se a outros autores, ao que bem se vendia, ao que recomendava, ao que acabara de sair e que me foi obrigando a passeios sucessivos entre as estantes e caixotes, o perfume que se soltava dos livros acabados de chegar. Lá fora a tarde descia serena, não há como os fins de tarde estivais para harmonizar corpo e espírito. E mesmo com a mesa-de-cabeceira suficientemente preenchida para a semana de remanso, ainda antes da enxurrada de turistas atabalhoados, a dedicação aos livros, a conversa conhecedora e a deferência com que fui recebida entraram-me certeiros no coração. Não é assim nas lojas de livros. Um livro seria, claro. Com o coração atingido seria incapaz de abandonar o local apenas com uma despedida de circunstância. Percorro o expositor da entrada com o olhar e decido-me: Kafka à beira-mar. A ingratidão é das mais execráveis faltas, um risco impensável perante tão enternecedor acolhimento.


No Dia do Livro

Esta crónica foi escrita para a PNetMulher a convite da Teresa C. a quem agradeço o convite e esta referência elogiosa.

terça-feira, 22 de abril de 2008

O seu a seu dono

A filha entra em casa. A filha cumprimenta a mãe. A mãe está na cozinha. A mãe cumprimenta a filha. A filha espreita para a marquise, mistérios insondáveis, logo a marquise. A filha vê estendida casualmente uma echarpe salmão. Em tempo de Primavera tudo sai à rua, intui a filha. Mãe e filha almoçam. A mãe está preocupada. O vestido preto. Sempre o vestido preto. Preto com preto não. Muito pesado. Credo. Pensei levar a echarpe. Diz a mãe. Qual echarpe? Aquela echarpe? Aquela na marquise? Pergunta a filha. A mãe responde. Sim, aquela. A filha inquieta-se. É tua? Pensei que fosse da Dinha com aquelas cores. Que ta tivesse emprestado. Não. Responde a mãe. É minha. Foste tu que ma deste. A filha encanita-se. Eu que ta dei? Mas algum dia eu te dava uma echarpe laranja?! A mãe responde. Quem mais me poderia dar aquela echarpe? Foste tu! A filha desespera-se. Eu? Mas eu, por acaso, ia dar-te uma coisa daquela cor? A mãe retorque. Foi antes do Papá morrer. A filha retorque. E então? Mesmo assim. Algum dia vestes aquelas cores? A mãe dá-lhe. Quem mais, se não tu, ia oferecer-me aquilo? Ainda estava embrulhado num papel de seda. A filha dá-lhe. Mas tens a certeza? A mãe contra ataca. Não tenho a certeza mas só podes ter sido tu. A filha vai à marquise. A filha olha desolada para o presente maldito. A filha abana a cabeça. A filha está desolada. A filha põe uma voz esganiçada. Eu? Eu é que te dei aquilo? A mãe reafirma. Não podia ter sido mais ninguém. A filha entra em desespero. A filha barafusta. A filha diz-se inocente, incapaz de oferecer à mãe algo que lhe assentaria desajustado, as cores estridentes. A filha conclui. Portanto, quando não sabes quem te ofereceu algo, fui eu? A mãe reincide. Foste tu, só podes ter sido tu. Quem mais? A filha responde. Sei lá eu. Eu é que não fui. A filha cogita e alvitra. A mãe reafirma. Foste tu. A filha vive em estado de ansiedade. A filha receia as arrumações sazonais ao guarda-roupa, cómodas e gaveta. A filha receia que a mãe se depare com peças de vestuário inusitado de tempos passados, esquecidos e ultrapassados, echarpes salmão, por exemplo. A quem acham que a mãe vai atribuir a existência de eventuais monos órfãos de presenteador? Teme-se o pior.

domingo, 20 de abril de 2008

O Grito do Ipiranga

De carro? Como de carro? De carro sem mais ninguém? Só tu? E se fosses de comboio ou de expresso? Há expressos a toda a hora e são rápidos. Há necessidade de ires de carro?! É só malucos na estrada. Nós levamos-te lá. É perto. Vamos num instante. Passam a vida a dar acidentes na televisão e nas notícias. Ainda hoje morreu uma mulher num acidente horrível. Não és tu, são os outros, o problema são os outros desencabrestados que por aí andam, sem respeito por ninguém. A estrada está cheia de loucos desvairados. Eu é que sei a aflição em que fico até chegares. E o tempo? Olha que temporal e tu por essa auto-estrada fora sem ninguém. Nem consigo descansar. E se acontece alguma coisa? Mas que mania. Não percebes que eu fico preocupada? Ligas-me, assim que chegares? Sim, filha, ligo-te logo.

sábado, 19 de abril de 2008

Valença


E essa fotografia é tudo quanto temos de Valença. Um calor imenso e a tarde que teimava em cair tranquila sobre um local de que apenas conhecíamos o nome. Horas a olhar o céu à espera que surgisse o pássaro de ferro de volta para Salvador. Memórias de viagem que fazem viajar valer a pena. Para a Martha com um beijo especial.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Blogger says no

Quando o Blogger permitir, aqui ficará a fotografia dos coqueiros e do mar espelhado, o contraponto necessário do temporal que se pôs lá fora e a imagem que me vai acalentando a esperança das férias vindouras, com sol e mar, sem Sócrates, sem Ministra da Educação, sem a epopeia da avaliação e sem o país, claro está.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Como uma árvore

A escrita é como uma árvore. Deve ser podada para que cresça mais forte, aspergida com as experiências vividas para que desponte mais viçosa. Foi isso que fiz à minha escrita. Deixei-a crescer desencabrestada, uns adjectivos fora do sítio, alguns em exagerado número, como os ramos da árvore há que deixar crescer primeiro, outros em desalinho, uns verbos de concordância débil, como as árvores de folhas encarquilhadas na Primavera, pronomes em exagero a exigir um corte urgente, vírgulas ausentes, quem sabe por falta de rega, exclamações desnecessárias decorrentes dos adjectivos abundantes. E, na altura da poda da escrita, desbastei-lhe os adjectivos, cortei-lhe as exclamações como excrescências nas pontas, aparei-lhe os verbos e acertei-lhe os pronomes e demonstrativos. Reguei-a de seguida com a parcimónia dos comedidos, quem sabe assim cresçam as vírgulas, e deixei que o orvalho que se não deixa escrever nestas linhas se ofereça sobre ela na quietude das noites de luar, diz-se que ajuda a que a plenitude floresça em cada palavra. Veremos então se cresce mais forte.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Computer says no

Depois de ter ido todos os dias ou quase à Waterstone´s durante a semana em Terras de Sua Majestade, a Fnac pareceu-me a mercearia da esquina. Obviamente trago a alma cheia de livros: dos que comprei, dos que folheei tranquilamente, dos que queria ter comprado mas que os vinte quilos de bagagem não permitiram e dos que anotei mentalmente para uma outra oportunidade. Tudo isto não foi impeditivo de ir dar uma espreitadela à Fnac à procura de novidades. O passeio foi rápido, nada de novo, nada de muito novo, até porque, desde que o filho do filho do exmo. senhor doutor conselheiro inspector publica livros apenas com o eco do apelido ou com o mediatismo da caixinha mágica, tornei-me muito selectiva relativamente a novos autores portugueses e prefiro jogar pelo seguro. Geralmente ouço o conselho de alguém que considero em matéria de bibliofilia ou gosto pela leitura. Esbarrei, então, no último da Paulina Chiziane, ponderei muito no último publicado em Portugal de Rubem Fonseca e, não fosse a minha pilha de livros a ler parecer a Torre de Babel, tê-lo ia agora lá pelo meio, naturalmente, e estaria a ler uma por uma as mulheres que habitam no livro. Mais irresistível pareceu-me A Mulher que escreveu a Bíblia de Moacyr Scliar, Prémio Jabuti para o melhor romance, e com quem me cruzo nos meus passeios virtuais à Livraria Cultura. Pego no livro, leio a contra-capa, abro-o e deparo-me com um palavreado estranho, uma patranha de que aquela era uma editora para mulheres, uma verborreia que, sendo mulher, não me serve nem me assenta. Para mulheres? Larguei o livro, o Moacyr que me perdoe, esperarei por uma edição brasileira. Senti-me a fazer parte de um grupo oculto e o único grupo a que não me importaria de pertencer e que nem sequer é oculto seria ao FatFighters da série Little Britain. Larguei o livro e vim-me embora, até porque naquele momento o meu sistema operativo respondeu como Carol Beer Computer says no. Deixem lá os livros de seda.

também no Geração Rasca

A dinossáuria

A fotografia marcou a vez primeira em que me vi outra. Num miradouro altaneiro em Graz, na Áustria, há uma década mal medida, nada faria prever que, uns dois meses depois, olhasse para o momento eternizado num rectângulo brilhante e reparasse naquela ao lado da minha colega de profissão. As duas sorrindo, uma conhecida, era ela, a minha colega, a outra parecia eu. O mesmo olhar e o sorriso meio tímido ou cansado, cansado sim, lembro-me agora: aquele não havia sido um dos tempos mais fáceis da minha existência de mulher. Era eu. Havia algo indefinível na expressão. Não que fossem rugas ou o pescoço mais marcado, não era o rosto mais longilíneo. Era algo indizível na aura da imagem, meio crepuscular mesmo com a luz da tarde a iluminar a cidade que servia de pano de fundo à fotografia e assim, sem tanto procurar, o dizer é bem mais imediato que a escrita destas palavras, disse-me e vi-me irredutivelmente velha. E depois vieram episódios vários: passei a ser tratada por senhora, assim vindo do nada, como daquela vez em que num consultório médico, a mãe advertiu a filha Não incomodes a senhora!, ou como num dia em que ao cumprimentar a filha de uma colega, ela me respondeu Olá, senhora! Assim mesmo, sem nome, senhora apenas. O dia em que me sentei em frente ao médico que já não via há anos largos e que ao perscrutar-me com o olhar retorquiu implacável Eu lembro-me de si… Não era assim, não deixou margem para qualquer dúvida naturalmente. Nem o médico, nem quando um dia da semana passada uma aluna se abeirou de mim. Trazia um tom comprometido na voz Stora? O indício inequívoco de que algo aí viria, talvez uma pergunta pessoal, quem sabe. Ó Stora, insistiu, Sim… respondi. E a pergunta veio A Stora… a stora é do tempo dos discos de vinil? E não é que era mesmo?! A stora, eu dinossáuria, eu mesma, euzinha era do tempo do vinil. Se isto não é chamar velha a uma pessoa não sei o que será então.

sábado, 12 de abril de 2008

Bom dia

Acordar a uma hora tardia, abrir as portadas e espreitar o dia, deixar o basculante aberto para limpar a noite dormida. O corpo dolente que se espreguiça lentamente, atirando para trás das costas a semana defunta e descer então ao encontro do pequeno-almoço ainda por fazer. Uma chávena bem generosa de café, o perfume a pairar na cozinha à medida que as gotículas se soltam, duas fatias comedidas de pão dormido na torradeira e o requeijão de Seia, os aromas que se misturam e confundem, o conforto de ser abraçada pela manhã tranquila com o mar lá bem no fundinho da janela da cozinha e a Primavera visível no maçaroco que deu flor. Bom dia!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A viagem nos livros

Estava um dia de chuva, diz-se logo no início da narrativa, não um dia de sol como o desfilava na imagem à minha frente das transmissões do Carnaval de Salvador, e, ao contrário de Ivete Sangalo, Sereia não vestia de branco nem tinha um imenso leque de plumas, armado como uma auréola ao nível dos quadris, o cruzamento feliz entre a exuberância do pavão e a elegância do cisne. Sereia envergava uma fantasia em malha metálica que descia até ao chão como uma cauda reminiscente do seu próprio nome, Sereia, os seios e a barriga cobertos de purpurina prateada iluminados pela chuva de Salvador. Sereia, ao contrário de Ivete, tinha cabelos de ouro e olhos cor de mel, era uma boa dezena de anos mais nova do que Ivete, contava apenas vinte e dois, e ao contrário de Ivete, felizmente para esta, Sereia viu chegar o seu fim naquela terça-feira de Carnaval, em pleno desfile, como havia desejado, do alto do trio eléctrico na Avenida Carlos Gomes. Uma bala com a inicial do seu nome pôs fim à carreira promissora e catapultou Sereia, senão aos céus ou às profundezas dos mares de Iemanjá, ao estatuto de mito a que todas as mortes trágicas e jovens obrigam. Salvador chora inconsolável a partida inesperada da promissora estrela, assistimos ao funeral ao som do Olodum no Bonfim e perseguimos Augustão, o detective encarregue de resolver a morte precoce e inexplicável de Sereia, pelas ladeiras e ruas íngremes de Salvador. Acompanhamo-lo inúmeras vezes ao terreiro de Mãe Marina de Ogum e é também pelos seus olhos que contemplamos a Baía de Todos os Santos. Sereia é apenas o pretexto para Salvador se revelar em O Canto da Sereia de Nelson Motta, impregnado de estereótipos -música, mestiçagem e candomblé- mas com um roteiro implícito, uma viagem única à baianidade contemporânea e à qual regressaremos sempre, assim abramos as páginas do livro e a alma à escrita. Talvez por isso, este seja dos livros que mais viaja da estante para a mesa-de-cabeceira, da mesa-de-cabeceira para o sofá ao meu lado. Com ele há sempre um périplo renovado pela cidade do Salvador e um crepúsculo tranquilo sobre a Baía de Todos os Santos.

Elevador Lacerda e Baía de Todos os Santos
Salvador

foto: minha

segunda-feira, 7 de abril de 2008

A morte dos heróis

A caixa mágica e o grande ecrã têm destas coisas: constroem os mitos e destroem-nos com igual facilidade e uma não menos pequena dose de mestria. Charlton Heston eternizou-se com a cena inesquecível da corrida de quadrigas que protagonizou em Ben-Hur. A masculinidade em evidência, o carácter apolínio consubstanciado pelos ideais éticos e morais do homem que jamais perde a elegância nem mesmo numa situação de risco, a heroicidade da personagem e a eterna luta maniqueísta conferiam ao então jovem e auspicioso Charlton Heston, mesmo que transvestido em Ben-Hur, a aura mística que todos os heróis usam. E embora sabendo que não é no Coliseu de Roma que a cena se passa, mas antes no Circus Maximus, onde aconteciam as corridas de quadrigas, a banda sonora dos meus momentos no incontornável monumento da Cidade Eterna é protagonizada também por Ben-Hur, o gáudio do povo em júbilo perante a implacabilidade do César de serviço.
Regressei a Charlton Heston décadas mais tarde. Despido da máscara de Ben-Hur e da verticalidade da personagem, à minha frente desenhava-se uma outra personagem que desconhecia até então. Pela mão de Michael Moore, desvelava-se Charlton Heston, ele mesmo, um outro papel que terá desempenhado nesta sua vida repleta que agora findou. Como presidente da National Rifle Association deixava bem clara a defesa do porte de arma meros dias após o massacre de Columbine. Michael Moore não foi cordato nem misericordioso na representação do herói épico de outros tempos. Longe da imagem transbordante de masculinidade Charlton Heston, envelhecido e decadente, afasta-se num passo dolente e degradado na sua própria casa, tendo deixado por responder algumas questões formuladas e a desilusão na medida dos passos arrastados. Ben-Hur jamais faria tal coisa.


Imagem daqui

terça-feira, 1 de abril de 2008

Nos braços do meu Morfeu

Durmo mal desde que me conheço. Quando, en passant, se me solta a idiossincrasia chovem conselhos: médicos, psiquiatras, comprimidos e mezinhas, aqui e ali um olhar de comiseração, um ou outro de recriminação, o preço a pagar pela aparente destemperança que me caracteriza juntamente com a juba de leoa. Nada adianta dizer que é assim e que, resignada com esta sorte, convivo perfeitamente com as toleimas do meu corpo, ao que parece entretido a boicotar-me o sono desde sempre. Monótono, este meu corpo. As duas últimas noites em que dormi muito bem e acordei fresca que nem um repolho estival foi no dia em que defendi a minha tese de Mestrado, eventualmente pela exaustão e alívio, e na véspera do meu casamento, provavelmente a certeza dos meus passos aniquilara qualquer réstia de angústia. Há muito tempo, portanto. E como se o sono inquieto não bastasse, sonho amiúde com uma plétora considerável de disparates e maluqueiras, portanto, os sonhos bons são como as noites bem dormidas: esporádicas, bem presentes, passíveis de serem contadas pelos dedos de uma mão. Num dos últimos sonhos agradáveis estava em São Tomé e tinha ido comer um cozido de peixe com a deliciosa malagueta verde dos trópicos santomenses. E agora desde há duas noites que sonho com a vida abaixo do Equador. Estava outra vez no Rio de Janeiro, mais concretamente lá para a Lapa e sei-o porque vi passar os Arcos bem perto de mim. Ontem já tinha abandonado o Rio e andava lá para Sul, entre as cataratas de Iguaçú e Buenos Aires. Por este andar ainda vou parar à Terra do Fogo, assim me assistam mais umas noites de onírico deambular.