Páginas
terça-feira, 30 de janeiro de 2007
domingo, 28 de janeiro de 2007
Procura-se
... a minha vontade de escrever.
É voluntariosa,
fugidia com um gato,
desobediente como os felinos,
É voluntariosa,
fugidia com um gato,
desobediente como os felinos,
raramente dá pelo nome.
A última vez que foi vista,
estava decidida à porta da palavra
saudade.
Suspeita-se que terá entrado
A última vez que foi vista,
estava decidida à porta da palavra
saudade.
Suspeita-se que terá entrado
e
ao descer os degraus até à letra e
perdeu-se
no
labirinto das palavras por escrever.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2007
Janeiro
Em Janeiro, as ausências pesam-me.
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
Numa sala de professores perto de si
Um colega folheava o Estatuto da Carreira Docente já publicado no Diário da República, de resto, era mesmo esse pedaço do diário desta república. Em conversa de circunstância, acrescentei algo de que nem sequer me lembro com exactidão, mas que seria a pergunta retórica em torno das alterações. Um outro atirou recriminador que, eu e o primeiro, estávamos cheios de pressa para que o documento entrasse em vigor. Fazer o quê? O Estatuto da Carreira Docente foi aprovado na Assembleia da República a dezanove deste mês, bom seria que a sua entrada em vigor dependesse da leitura atenta de um colega. Mau grado greves e protestos aquilo vai ditar o futuro de toda a classe docente e, portanto, o mínimo que se pode fazer, é informarmo-nos sobre o que vai agora reger as nossas vidas. Perante este argumento, bem mais breve do que aqui relato, o indignado agarrara-se agora ao argumento de que tal era tarefa da secretaria. Acrescentei que nós, professores, devemos estar informados, independentemente da secretaria, e se, por um acaso, a secretaria se enganasse? facto não muito comum na da escola a que estou ligada até ao fim dos meus dias, para o bem e para o mal, mas que ocorre com alguma frequência noutros estabelecimentos de ensino. O leitor atento do ECD* reiterou que queria estar informado, eu, obviamente, concordei e o outro continuou destilando ódios à Ministra da Educação e sei lá mais o quê, recriminando-nos subtilmente, pelo caminho, pela leitura atenta do ECD, como se tal implicasse a concordância e anuência com o conteúdo do documento em questão. Livrem-se, pois, de ler o ECD, nunca se sabe se não vão ser acusados de traição e arder numa qualquer fogueira ateada com cópias do Estatuto da Carreira Docente.
* Estatuto da Carreira Docente
segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
domingo, 21 de janeiro de 2007
Quero ir de burro
Com coisas destas é claro que quero ir de burro.
Fim
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro
sexta-feira, 19 de janeiro de 2007
Lembrete
A evitar nos próximos tempos:
1. beatas
2. ratos de sacristia
3. papa-hóstias
1. beatas
2. ratos de sacristia
3. papa-hóstias
4. padres
5. diáconos
5. diáconos
6. acólitos
7. falsos moralistas
7. falsos moralistas
8. conselheiros matrimoniais
9. o perímetro da Basílica
9. o perímetro da Basílica
10. o pasquim cá da terra
11. a brigada do NÃO. *
11. a brigada do NÃO. *
* a ordem é arbitrária, pois claro.
quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
quarta-feira, 17 de janeiro de 2007
Ide com o Carlos Sousa ao deserto
Admito. Sou uma chata, esquisita, quezilenta, miudinha, minuciosa, meticulosa, escrupulosa, cuidadosa em tudo o que possa implicar a minha assinatura. Leio, releio, trileio, quadrileio, bisbilhoto as entrelinhas, cusco as letrinhas miúdas, chamo palas cláusulas escondidas, verifico datas, prazos, nomes, vírgulas e asteriscos. Raramente confio em outrem no que respeita a assinar por baixo. Nunca mesmo. Portanto, o suporte digital nunca me deixou grandemente à-vontade. Recusei-me terminantemente a emprestar o meu livro no dito suporte, também por não confiar nas intenções dos subitamente interessados leitores, mas na era da Informação não é fácil mantermo-nos exactamente fiéis a esta premissa: ou confiamos ou não confiamos. Às vezes não confiamos, mas não temos outro remédio e, num mundo onde cada um é rei e senhor da sua sabedoria e raramente permeável a críticas ou reparos, assim é no meu meio profissional, não há grande alternativa. Que havia eu de fazer? Exigir ver uma cópia em papel ou confiar? Pois bem, confiei, até ontem ter verificado que ao meu texto inicial foram acrescentados uns arrebiques e enfeites que até podem soar bem ao autor dos mesmos, mas são falsos, disparatados, desonestos e incoerentes com o restante projecto. É claro que me pareceu mal. É claro que mesmo depois de confrontado o douto ser, que ao que parece é tão douto que de tudo entende, mesmo de uma disciplina que não lhe diz rigorosamente respeito, e confessada a proeza, continuo com isto a remoer-me o juízo. Continuarei, pois, a ser chata, esquisita, quezilenta, miudinha, minuciosa, meticulosa, escrupulosa, cuidadosa, mesmo que de nada me tenha servido.
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
Do que não está bem
Eu e o meu pai mantínhamos debates incessantes em torno da língua portuguesa. Nem sempre concordávamos e ele, pouco permeável à mudança, mantinha-se irredutivelmente convicto de que a última revisão da língua portuguesa acontecera em 1945, salvo erro. Portanto, tudo o que fosse dicionário recente mais não era do que isso mesmo, um dicionário recente. Para o meu pai, o dicionário era um mero instrumento de trabalho, nem sempre fiável. Discordámos em torno do stress, acusou-me sem piedade de ter escrito bouquet com acento circunflexo e sem t no final, guerra da qual saí vencedora, e jamais admitiria a libertinagem em torno da língua de Camões. Dou por mim a pensar, amiúde, quem iria sobreviver agora à sua temerária luta contra a TLEBS e todos os dias o vejo de canhenhos na mão à minha espera, pela hora do almoço, dizendo-me Vês? Eu não te dizia? Isso não existe! Querem ser excêntricos e dá-lhes para isto. Ai, Santo Deus!
Era um respeitador exemplar da propriedade alheia, mas no que respeitava à revisão de textos literários e se, após consultas variadas do autor, tal lhe fosse aceite, o que sem excepção acontecia, o meu pai ia pintando o texto com a sua sensibilidade. Muitas vezes dava por ele com os textos no colo, lápis na mão a afirmar Isto não está bem! Telefonadela para cá, consulta para lá, o autor dos livros achava sempre tudo muito bem, ele não teria feito melhor, não o fez, de resto, e as emendas e sugestões foram tomando forma no papel impresso. Palmadinhas nas costas, elogios pungentes, foi maioritariamente o que recebeu, é sabido que a generosidade é um dom alheio ao tecido empresarial português. Sempre lhe disse que o autor devia colocá-lo no livro como co-autor. O meu pai ria-se apenas. Despojado, como sempre, ter-lhe-ão chegado os elogios.
Quando começou a rever os meus textos, assinámos um pacto: nada de modificar o texto, mesmo com a minha permissão, se não teria um outro livro escrito. Assim foi. O meu pai nunca me alterou rigorosamente nada, apenas corrigiu erros e ajudou-me nas vírgulas. Se estiver a ler este blogue, já terá colocado inúmeras e sei que segreda à Ana, de vez em quando, como desta vez.
Hoje pediram-me para dar uma opinião sobre um texto. Chegou-me por mail. Li-o e reli-o, coloquei-lhe asteriscos e observações. Mas ainda assim, algo não batia certo. Dei por mim junto ao teclado a acrescentar pontos e conjunções, uma ou outra informação, a questionar o estilo, a pensar Isto não está bem! Liguei ao autor e disse-lhe Isto não está bem, o autor disse-me para fazer as alterações a contento e fiquei a pensar que não está bem. Não ter o meu querido pai para lhe contar tudo isto não está bem.
Era um respeitador exemplar da propriedade alheia, mas no que respeitava à revisão de textos literários e se, após consultas variadas do autor, tal lhe fosse aceite, o que sem excepção acontecia, o meu pai ia pintando o texto com a sua sensibilidade. Muitas vezes dava por ele com os textos no colo, lápis na mão a afirmar Isto não está bem! Telefonadela para cá, consulta para lá, o autor dos livros achava sempre tudo muito bem, ele não teria feito melhor, não o fez, de resto, e as emendas e sugestões foram tomando forma no papel impresso. Palmadinhas nas costas, elogios pungentes, foi maioritariamente o que recebeu, é sabido que a generosidade é um dom alheio ao tecido empresarial português. Sempre lhe disse que o autor devia colocá-lo no livro como co-autor. O meu pai ria-se apenas. Despojado, como sempre, ter-lhe-ão chegado os elogios.
Quando começou a rever os meus textos, assinámos um pacto: nada de modificar o texto, mesmo com a minha permissão, se não teria um outro livro escrito. Assim foi. O meu pai nunca me alterou rigorosamente nada, apenas corrigiu erros e ajudou-me nas vírgulas. Se estiver a ler este blogue, já terá colocado inúmeras e sei que segreda à Ana, de vez em quando, como desta vez.
Hoje pediram-me para dar uma opinião sobre um texto. Chegou-me por mail. Li-o e reli-o, coloquei-lhe asteriscos e observações. Mas ainda assim, algo não batia certo. Dei por mim junto ao teclado a acrescentar pontos e conjunções, uma ou outra informação, a questionar o estilo, a pensar Isto não está bem! Liguei ao autor e disse-lhe Isto não está bem, o autor disse-me para fazer as alterações a contento e fiquei a pensar que não está bem. Não ter o meu querido pai para lhe contar tudo isto não está bem.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
I still have a dream today
And so even though we face the difficulties of today and tomorrow, I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream.
I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal."
I have a dream that one day on the red hills of Georgia, the sons of former slaves and the sons of former slave owners will be able to sit down together at the table of brotherhood.
I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.
I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.
I have a dream today!
I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal."
I have a dream that one day on the red hills of Georgia, the sons of former slaves and the sons of former slave owners will be able to sit down together at the table of brotherhood.
I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.
I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.
I have a dream today!
Martin Luther King
Para que o tempo não apague a memória,
no dia em que completaria 78 anos.
sábado, 13 de janeiro de 2007
sexta-feira, 12 de janeiro de 2007
Devia ser proibido
Devia ser proibido os homens deambularem por lojas de roupa interior feminina ao mesmo tempo das mulheres. Isto porque quando um destes dias repousei a peça de roupa interior que tencionava adquirir junto à caixa registadora, fui contemplada com um olhar perscrutador de um homem jovem. Não sou mulher de pudores excessivos. Tenho alguma inibição, contudo, em alardear o que visto por baixo do que se vê a olho nu. Estendo a roupa interior sempre resguardada dos olhares dos vizinhos, sempre num pequeno estendal de resina e sempre, mas sempre sempre com toalhas ou roupa de maior envergadura à frente. Nas lojas de roupa interior não há estratégia que me valha.
Não sei, mas por exemplo, preferia não saber que o meu vizinho usa boxeurs coleantes ou que a vizinha da minha mãe usa um cuecão de dimensões gigantescas, além de serem brancos e terem os elásticos lassos e distendidos, relaxados, como se diria aqui na região saloia. Digam-me, há necessidade? Isto ficou ainda pior quando um dos meus alunos passou na rua e olhando para mim esboçou um Olá Setora, para logo de seguida se esbarrar com o cuecão de dimensões homéricas da mulher bem virado para a rua e oscilando ao vento, totalmente despudorado e desavergonhado, dado aos olhares passeantes, do mais desprevenido ao mais inquisitivo. O rapaz não se conteve e com ele o outro que o acompanhava, também meu aluno. Nunca mais olhei para a mulher da mesma forma e, se, ou quando, de repente, me cruzo com ela, algo que não acontece frequentemente, viro os olhos e evito o contacto, Cruzes credo! Há necessidade de usar cuecas com os elásticos bambos? Uma ocasião estive para avisá-la Não estenda as cuecas! A Protecção Civil avisou que vem aí uma ventania dos diabos… e isto porque se lhes dá o vento sabe-se lá onde irão parar.
Não me senti à vontade na loja de lingerie, confesso. Anteriormente tinha sido literalmente caçada de tanga na mão por um homem teoricamente respeitável, não fosse ter fixado a peça íntima que eu tinha nas mãos e ter ao lado a mulher passeando loja fora, penduradas num cabide pelas pontas, umas cuecas azul-bebé. Devia ser proibido, pois, devia ser proibido os homens deambularem por lojas de roupa interior feminina ao mesmo tempo das mulheres.
Não sei, mas por exemplo, preferia não saber que o meu vizinho usa boxeurs coleantes ou que a vizinha da minha mãe usa um cuecão de dimensões gigantescas, além de serem brancos e terem os elásticos lassos e distendidos, relaxados, como se diria aqui na região saloia. Digam-me, há necessidade? Isto ficou ainda pior quando um dos meus alunos passou na rua e olhando para mim esboçou um Olá Setora, para logo de seguida se esbarrar com o cuecão de dimensões homéricas da mulher bem virado para a rua e oscilando ao vento, totalmente despudorado e desavergonhado, dado aos olhares passeantes, do mais desprevenido ao mais inquisitivo. O rapaz não se conteve e com ele o outro que o acompanhava, também meu aluno. Nunca mais olhei para a mulher da mesma forma e, se, ou quando, de repente, me cruzo com ela, algo que não acontece frequentemente, viro os olhos e evito o contacto, Cruzes credo! Há necessidade de usar cuecas com os elásticos bambos? Uma ocasião estive para avisá-la Não estenda as cuecas! A Protecção Civil avisou que vem aí uma ventania dos diabos… e isto porque se lhes dá o vento sabe-se lá onde irão parar.
Não me senti à vontade na loja de lingerie, confesso. Anteriormente tinha sido literalmente caçada de tanga na mão por um homem teoricamente respeitável, não fosse ter fixado a peça íntima que eu tinha nas mãos e ter ao lado a mulher passeando loja fora, penduradas num cabide pelas pontas, umas cuecas azul-bebé. Devia ser proibido, pois, devia ser proibido os homens deambularem por lojas de roupa interior feminina ao mesmo tempo das mulheres.
quinta-feira, 11 de janeiro de 2007
terça-feira, 9 de janeiro de 2007
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
Não mesmo
É sabido que estou em rota de colisão com a Igreja Católica de algum tempo a esta parte. Não me lembro sequer de quando foi a última vez em que entrei numa igreja e ouvi uma homilia interessante, cordata e verdadeiramente cristã. Tenho dias em que me arrependo de me ter casado pela igreja, não que me tenha causado mossa, mas, na verdade, não me revejo no que fazem.
Devia ter desconfiado quando o padre proibiu flores vermelhas e roupa que não fosse imaculada. Tivesse eu dado ouvidos ao diabinho que em mim habita e teria ido vestida de vermelho da cabeça aos pés, mas porque acredito que há gente que não vale a pena, mantive-me fiel a mim mesma, ao meu ainda namorado e pais. Divertido foi mesmo o CPM, Centro de Preparação para o Matrimónio, obrigatório para quem quer ser abençoado por Deus. Nesse tempo longínquo, eu e o Hélder aprendemos ensinamentos valiosíssimos. Sábados à noite, que isto da fé não se faz sem sofrer, e sermões de casais sobre a dificuldade da vida em comum. Sim, porque só se falou das dificuldades. E já agora, será que para aquelas mentes o casamento é uma coisa BOA? Difícil é certo mas que vale a pena, assim se amem e respeitem duas pessoas. Um desses serões foi passado com um casal a dar o seu testemunho. Tinham tido muitos problemas, porque o marido chegava à noite à cama e adormecia e a mulher, coitada, depois não tinha com quem falar e ficava amuada e ele tinha de a namorar muito, até um dia ela ter percebido algo verdadeiramente inaudito: o sono é biológico, não era de propósito que o homem se resvalava nos braços de Morfeu. O homem sorria-se e ela, como boa beata, matinha o ar seráfico. Foi digno de se ouvir, a intimidade da alcova assim desvelada. Acredito que quase tudo o que é descontextualizado soa a falso, ridículo e desajustado, logo, o casal não teria feito figuras tristes, se estivesse caladinho, uma vez que tal episódio só interessa a eles mesmos e, dado que não houve ironia nem comicidade, ficaram expostos ao ridículo com a soneira inveterada. Nem sei como o meu casamento teria sobrevivido, se não fosse tal pérola.
Saí uma vez de um casamento quando o padre advertiu que, quem só vai à missa ao Domingo, não podia comungar, isto com o ar castigador e acusador de sempre. Nem tal me passou pela cabeça. Ao contrário de muitas pessoas que por lá andam, tento respeitar os ensinamentos e, portanto, não comungo desde os meus dez anos de idade talvez, nem tenciono voltar a fazê-lo nunca mais. No funeral do meu pai, o diácono verborreou até mais não contra os meios de comunicação social. Muito a propósito, de resto, ainda mais se tivermos em conta que o Hélder é jornalista. Na missa do sexto mês, foi-nos pedido dinheiro para financiar os seminaristas, coitadinhos, assim como uns meses antes num baptizado. A última aventura foi quando em Dezembro fomos a um funeral e, vindo do nada, começou uma campanha descarada contra o aborto. Que tal respeitar a família enlutada e as restantes pessoas que acompanharam a pobre D. Silvina? E a D. Silvina? Umas palavrinhas sobre a senhora seriam simpáticas, não? Aproveitar uma ocasião para fazer uma outra coisa em proveito próprio é oportunismo e, portanto, muito duvidoso do ponto de vista de carácter e moral. Incomoda-me profundamente que todas as ocasiões sejam aproveitadas para falar do mesmo. Assim ninguém consegue decidir, mas afinal, assim percebo mais uma vez quem são, afinal, e decido.
Devia ter desconfiado quando o padre proibiu flores vermelhas e roupa que não fosse imaculada. Tivesse eu dado ouvidos ao diabinho que em mim habita e teria ido vestida de vermelho da cabeça aos pés, mas porque acredito que há gente que não vale a pena, mantive-me fiel a mim mesma, ao meu ainda namorado e pais. Divertido foi mesmo o CPM, Centro de Preparação para o Matrimónio, obrigatório para quem quer ser abençoado por Deus. Nesse tempo longínquo, eu e o Hélder aprendemos ensinamentos valiosíssimos. Sábados à noite, que isto da fé não se faz sem sofrer, e sermões de casais sobre a dificuldade da vida em comum. Sim, porque só se falou das dificuldades. E já agora, será que para aquelas mentes o casamento é uma coisa BOA? Difícil é certo mas que vale a pena, assim se amem e respeitem duas pessoas. Um desses serões foi passado com um casal a dar o seu testemunho. Tinham tido muitos problemas, porque o marido chegava à noite à cama e adormecia e a mulher, coitada, depois não tinha com quem falar e ficava amuada e ele tinha de a namorar muito, até um dia ela ter percebido algo verdadeiramente inaudito: o sono é biológico, não era de propósito que o homem se resvalava nos braços de Morfeu. O homem sorria-se e ela, como boa beata, matinha o ar seráfico. Foi digno de se ouvir, a intimidade da alcova assim desvelada. Acredito que quase tudo o que é descontextualizado soa a falso, ridículo e desajustado, logo, o casal não teria feito figuras tristes, se estivesse caladinho, uma vez que tal episódio só interessa a eles mesmos e, dado que não houve ironia nem comicidade, ficaram expostos ao ridículo com a soneira inveterada. Nem sei como o meu casamento teria sobrevivido, se não fosse tal pérola.
Saí uma vez de um casamento quando o padre advertiu que, quem só vai à missa ao Domingo, não podia comungar, isto com o ar castigador e acusador de sempre. Nem tal me passou pela cabeça. Ao contrário de muitas pessoas que por lá andam, tento respeitar os ensinamentos e, portanto, não comungo desde os meus dez anos de idade talvez, nem tenciono voltar a fazê-lo nunca mais. No funeral do meu pai, o diácono verborreou até mais não contra os meios de comunicação social. Muito a propósito, de resto, ainda mais se tivermos em conta que o Hélder é jornalista. Na missa do sexto mês, foi-nos pedido dinheiro para financiar os seminaristas, coitadinhos, assim como uns meses antes num baptizado. A última aventura foi quando em Dezembro fomos a um funeral e, vindo do nada, começou uma campanha descarada contra o aborto. Que tal respeitar a família enlutada e as restantes pessoas que acompanharam a pobre D. Silvina? E a D. Silvina? Umas palavrinhas sobre a senhora seriam simpáticas, não? Aproveitar uma ocasião para fazer uma outra coisa em proveito próprio é oportunismo e, portanto, muito duvidoso do ponto de vista de carácter e moral. Incomoda-me profundamente que todas as ocasiões sejam aproveitadas para falar do mesmo. Assim ninguém consegue decidir, mas afinal, assim percebo mais uma vez quem são, afinal, e decido.
domingo, 7 de janeiro de 2007
Argumentos
Para quem utiliza como argumento ao Não ao aborto que, se a mãe de Mozart, Beethoven e outros génios mais, deles tivessem abortado, o mundo estaria mais pobre, resta-me devolver o argumento e dizer que, se a mãe da Joana, da Sara, do Daniel, e da Vanessa o tivessem feito, os inocentes teriam sido poupados ao sofrimento hediondo.
sexta-feira, 5 de janeiro de 2007
Dos males que vêm por bem
Nestes primeiros dias do ano houve uma notícia que muito me agradou. Primeiro por uma questão de justiça, segundo, pelas consequências da dita. Foi, pois, com regozijo que ouvi, enquanto tomava o pequeno-almoço há uns dois dias, que os jogadores de futebol iriam pagar impostos como os restantes mortais que o fazem, e que, insatisfeitos com este facto, iriam fazer greve, também como alguns mortais que também a fazem. Não sou amante de futebol. Confesso que vibrei com o Euro 2004, com o Mundial idem, como se pode atestar neste blogue, que até possuo uma T-shirt com a denominação do país, com as cores do mesmo, umas chinelas de uma popular marca brasileira, que elegi o Ricardo como meu favorito, que lamento que o Cristiano Ronaldo não se desenvencilhe da camisola mais vezes, que estranhei ao ver o Figo depilado, que Felipão tem a minha consideração, e que, obviamente, sugeriria o Gilberto Madaíl uma outra coloração de cabelo menos exuberante. Os parcos conhecimentos de futebol não me permitem aprofundar esta já de si distante e superficial relação com o desporto-rei. A parte boa, mas mesmo boa da greve, assim a vi, é que ficaria privada e aliviada de ver futebol ao fim-de-semana, isto se não houvesse uma panóplia de campeonatos a ter lugar por essa Europa fora e a quase certeza de que há sempre um jogo desconhecido de futebol que espera por nós algures num canal de televisão. Pelo menos o penteado de Paulo Bento deixaria de me ensombrar o fim-de-semana, ida de vez a tão famosa tranquilidade. O que me preocupa é que hoje é sexta-feira, véspera de Sábado, antevéspera de Domingo e, até agora, nem mais uma palavra soou, uminha que fosse, voltadas que estão as atenções para outras preocupações do universo futebolístico nacional. Assim não há tranquilidade que valha.
quinta-feira, 4 de janeiro de 2007
O Botas
Eis o que restou da estátua de Ferenc Münnich, Ministro das Forças Armadas, do Interior e de Estado húngaro antes de 1989. Em Março de 1990 a estátua foi pintada de vermelho e decepada por um movimento liderado por György Krassó, regressado de Londres. Nem tudo tem pés e cabeça, alguns só têm mesmo pés.
Parque das Estátuas
Budapeste
Foto: minha
Budapeste
Foto: minha
terça-feira, 2 de janeiro de 2007
Straight from the heart
Na conversa com os outros obtemos, por vezes, o retorno de quem somos e de quem nos tornámos. Nada disto me foi imediatamente perceptível. Apenas na verbalização e, na necessidade de explicar quem era quem, é que me vi cheia de nomes inaceitáveis em qualquer conservatória do registo civil, apenas um ou outro o seriam. Na conversa com a minha mãe, tudo começou a tornar-se claro, particularmente quando ela, após um passeio neste blogue, me perguntava quem era esta/este ou aquela/aquele ou apenas comigo reiterava que A ou B eram muito simpáticas(os), me tinham escrito um comentário muito bonito ou, como várias vezes me fez notar, de resto, como faz nas relações ditas convencionais Tens lá um comentário de X ou Y, já lhe respondeste? Na verdade, a minha entrada na blogosfera veio traçar um novo padrão de relacionamentos que enriqueceram a minha vida e me ajudaram a suportar a perda. Por vós e para vós escrevo estas palavras e por vós e para vós aprendi a moderar as fases negras e sombrias. Com tanto carinho, o sol voltou a brilhar e, com ele, a certeza de que não estarei sozinha. Obrigada.
Subscrever:
Mensagens (Atom)