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sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Sopa de brócos

Depois do excessos gastronómicos da época nada como uma sopinha para equilibrar a intemperança. Assim sendo, reuni o que havia em casa no intento de me deitar na confecção de algo inofensivo e saudável. Sopa, uma sopinha de legumes pareceu-me uma óptima opção. Descobri para meu gáudio um quarto de abóbora pequena, esquecido pela minha mãe num banco por baixo da mesa da cozinha. Esventrei a abóbora, esquartejei-a sobre a tábua de madeira e, ao metê-la na panela de pressão, juntei-lhe duas batatas mínimas, apenas para melhorar a textura, e uma cebola. Enquanto isto, lembrei-me de que umas verduras também para quebrar a monotonia alaranjada do puré de abóbora ficariam muito bem e, uma vez que ainda não eram oito horas, hora de encerramento da mercearia, fiz-me à estrada e em trinta segundos estávamos à porta da mercearia.
A mãe da dona estava já em processo muito adiantado de arrumação e limpeza do estabelecimento, apurei entretanto que estava a ser ajudada por uma das filhas, a irmã da dona, o que me deixou particularmente feliz. De há umas boas duas semanas a esta parte tinha deixado de ver a irmã da dona da mercearia no estabelecimento. Pior: há uma semana vi-a toda lampeira a sair de um carro, acompanhada por um homem, à porta da churrasqueira, isto em dia de semana e em horário de abertura do comércio. Nesse dia cheguei a casa pesarosa. Então, mas afinal? Foi-se embora? Deixou-me à míngua? Natralmente zangou-se com a irmã, isto porque algures ainda no Verão, tinham feito mudanças na mercearia e, quando elogiei as mudanças, a mulher perguntou Bocê gosta? Eu gosto! Ah, mas a patroa na gosta, sendo que a patroa era a irmã. Na gosta, diz c´assim na bende nada e abeirando-se das caixas de fruta começou a empilhar maçãs e tomates ó, tá a ber? Ela quer é assim… Suspeitei que houvesse ali uma querela que as opunha e muito sinceramente também não entendi a técnica de marketing da dona da mercearia. Que o estabelecimento está sempre cheio é uma evidência facilmente atestável, logo a dona é que sabe e parece saber muito bem.
Quando deixei de ver a irmã da dona na mercearia e comecei a ser atendida pela dona, sua irmã, suspeitei o pior. Comentei as minhas desconfianças com o Hélder e, inconformada com a falta da minha interlocutora preferida na mercearia, lá segui a minha vida. É sabido que as ausências me corroem a alma. Ora esta?! E agora com quem ia partilhar as minhas dores e falar disto ou disto? Mas que coisa, ir-se embora assim. Na verdade, senti-me algo abandonada. A ausência de um tu nas nossas vidas pode mudá-las significativamente, às vezes, irremediavelmente, e, de repente, vi todos os bons momentos passados na mercearia como algo arrumado definitivamente lá no passado. Não era justo. Agora felizmente todas estas cogitações tinham-se provado infundadas e a irmã da dona da mercearia, levemente mais magra, apresentava-se bem disposta à minha frente. Tinha tido uns problemas de saúde Bocê sabe lá as dores quê tenho… e agora estava à espera de uma TAC às costas pra ber o que éi mas felizmente tinha regressado ao seu local de trabalho. Confesso que fiquei algo envergonhada de mim própria. E se a mulher tivesse arranjado um emprego melhor? Um que lhe agradasse mais e lhe apagasse as dores? Se tivesse mudado de vida? Que direito tinha eu de a querer ali apenas para dois dedos de conversa esporádicos? Regressei ao que vinha, sacudindo a culpa para trás das costas. Ora bem, queria espinafres se faz favor… Espinafres, espinafres na tenho mas olhe só se for brócos… ó pá, venham de lá esses brócos e já agora um alho francês. É pa fazer junto? Não, não é para a sopa… Ah, ê nã sêi mas diz que junto é um espectáculo. Vim para casa tranquila e a sopinha de brócos soube-me pelo coração, acredito que mais por quem me vendeu do que por mérito próprio nas lides gastronómicas, apaziguada que estava com a ordem reposta na mercearia. Há gente que não nos pode faltar.

foto: minha

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Fiat lux

E pronto. Ainda não foi desta que me acorrentei aos portões da Basílica do Palácio. Deviam ser umas oito horas quando o Hélder me chamou Anda cá! anda ver isto! Quando cheguei à porta da rua, o inacreditável aconteceu. Luz. Tínhamos luz! Tínhamos luz na rua! A esta hora estarão a pensar que tem isso de extraordinário. No Portugal contemporâneo poucos serão os lugarejos que não tenham iluminação pública. Ele há a insularidade, ele há o profundistão, ele há o isolamento e a interioridade, mas aqui, a um terço do caminho entre o mar e a cidade de Ulisses, a iluminação pública não deu sinal de si durante quase três semanas, a segunda vez este Inverno. Temi pela vida das minhas bichanas. A vizinha do lado bem poderia ter aproveitado para inadvertidamente passar a ferro um dos seis gatos que possuímos, nós e os restantes vizinhos. Informou apenas que ia atropelando uma pessoa, o que ninguém estranhou, uma vez que conduz com a velocidade da Michelle Mouton pelas ruas da aldeia. Os telefonemas à EDP não se fizeram esperar, estou certa que ao ritmo de mais do que um por dia e, semana após semana, nada, nadica de nada, cada telefonema como se fosse o primeiro e não faltou uma certa dose de sobranceria e arrogância por parte de quem atendeu. No meu derradeiro telefonema, informei a senhora que me atendeu que percebia finalmente por que é que as pessoas se esganiçavam perante as câmaras de televisão, isto por outras palavras, e pelo meio informei-a que seguidamente iria apresentar queixa na DECO, o bicho-papão dos incompetentes deste país e a segurança dos consumidores. Não sei se foi pela visão assustadora de me ver aos gritos na TV, a solução plausível para o regresso da luz esgotadas todas as reclamações, ou acorrentada aos portões da Basílica, outra solução possível, apenas pelo medo da DECO ou pura coincidência, a verdade é que finalmente nos nasceu um sol na rua causador de estranheza e outros incómodos oftálmicos mediante as três semanas de trevas. Lux facta esd.
foto: Viseu
minha

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Do que é sabido

É sabido que sou uma amante indefectível do Brasil, que chorei ao avistar o Rio de Janeiro bem lá do alto, que sorrio até às orelhas quando me falam da Cidade Maravilhosa, que esperei muito para pôr pé no local de onde me acho, que gostaria de ter desfilado no Carnaval Carioca, que adoro caipirinha, que amo feijoada à Brasileira, que cá em casa se come farofa desde sempre e queijo com goiabada idem, que até o MCPelé a cantar Glamurosa me faz sorrir, que Maria Bethânia com o seu Reconvexo me faz chorar, que Fico Assim sem você de Adriana Calcanhotto é um hino ao amor dos meus pais, que da cintura para baixo faço jus às minhas raízes e ao estereótipo, que fico feliz por ainda em tempo de vida do meu pai ter ido ao Rio de Janeiro, que cada vez que venho do Brasil tenho vontade de voltar, que tenho um carinho maior do que estas palavras por quem me visita do outro lado do Atlântico, que a voz do Arnaldo Antunes me impressiona, que gosto seguir o rasto do Delegado Espinosa, que agradeço ao Avenalve por ambos e não só, à Gláucia ela sabe porquê e à Martha pelas visitas e palavras, que me perco por um feijãozinho tropeiro, que daria tudo para agora estar a beber uma água de coco numa dessas praias que me aquecem a alma, que dei por mim a ouvir Jorge Amado a ler em surdina Mar Morto quando me sentei no Maria de São Pedro bem de frente para a Baía de Todos os Santos, em Salvador, que ainda hei-de passar uma tarde em Itapoã com o Hélder, que Paraty é um dos desses lugares mágicos que dificilmente se deixam explicar por palavras, que no Bonfim repousará um fitinha vermelha atada num gradeamento de ferro, ainda na esperança da recuperação do meu pai, que não voltarei ao Bonfim para pagar o que me não foi concedido, que me orgulho quando no Brasil me procuram e me acham meio brasileira, que foi lá que este ano pude finalmente descansar e retemperar forças para seguir em frente, que a música brasileira me ateia o corpo e me eleva a alma, que a probabilidade de se ouvir música brasileira aqui em casa é superior a noventa por cento, que ainda tenho esperança de um dia, ao flanar por Ipanema, me cruzar com Chico Buarque, de olhos cristalinos no Atlântico, que o Budapeste é um dos meus livros preferidos, que querer conhecer Budapeste também teve a ver com Budapeste, que me perco na literatura brasileira, que venho carregada de livros sempre que regresso, que o linguajar brasileiro me amolece a alma, que contagiei esta paixão grande à minha cara-metade e que, hoje quando o meu cabeleireiro brasileiro me elogiou o cabelo com um sorriso genuíno Qui cábêlo! Cábêlo brásilêro!, vim a correr para casa escrever-vos também o que ainda não era sabido.

Salvador
foto: minha

domingo, 24 de dezembro de 2006

Friends will be friends

Ontem, enquanto estacionava o carro à porta da casa dos meus pais, um casal com uma criança do sexo feminino passeava-se à minha frente. Não atentei imediatamente nos rostos, apenas um homem e uma mulher. Ela mais alta, mais clara de pele e cabelo aloirado, ele mais baixo e bem moreno, a criança, ao pé do pai, também morena. Não apressaram o passo à medida que o carro se aproximava. Na diminuição da distância física que nos separava, reconheci então os rostos familiares de anos de convívio. Ambos ex-alunos da minha mãe continuaram presentes após a vida escolar e adultos fizeram questão da nossa presença nos momentos importantes da sua vida. Quando souberam da partida do meu querido pai acorreram à minha mãe para com ela chorar e agora, à semelhança do ano passado por esta altura, regressaram com a aura de carinho e almas reluzentes de generosidade. De voz embargada e com os olhos rentes de água, só me restava agradecer-lhes tanto amor e a preocupação de junto da minha querida mãe aquecerem-lhe o Natal compreensivelmente arrefecido.
A partida do meu querido pai separou o trigo do joio, o essencial do acessório, o fundamental do dispensável, seleccionou naturalmente quem ficou nas nossas vidas de quem partiu, sem lágrimas nem lamentos. Só se lamenta quem se ama. Acredito que, onde estiver, o meu querido pai estará surpreendido, às vezes, outras apenas assertivo Eu não te dizia? Os amigos ficaram. A eles dedico estas linhas. Os outros…. Houve outros?

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Geração Patinhas

Nesse dia a minha mãe estava indignada. O filho de uns amigos nossos, quase família, teria feito anos e, tendo recebido imensas mensagens de felicitações pelo aniversário, não respondeu a uma, uminha sequer. Para a minha mãe coisa assim roça a falta de educação. Onde é que já se viu? Mas o rapaz tinha uma razão plausível para este acto. Onde é que já se viu mas é, gastar tanto dinheiro e na hora fez as contas: x sms a y cêntimos tornar-se-iam uma quantia astronómica e incomportável mesmo para quem vive sem qualquer preocupação financeira.
O meu afilhado homem que tem agora uma dezena de anos ficou comigo num dia do passado recente. O irmão não parava de lhe enviar mensagens e embora tenha respondido às duas primeiras sem refilar, as restantes foram acompanhadas pela verificação rigorosa e em tempo real de quanto estava a gastar Olha, já gastei x cêntimos… Olha já só tenho x euros! Quando o irmão chegou ao pé de nós, atirou-lhe recriminador Olha o que me fizeste gastar! Tinha seis euros e setenta cêntimos, agora só tenho cinco euros e noventa. A minha vizinha do lado comentou há pouco a mesma característica no seu filho mais novo. O dinheiro é contado e escrupulosamente guardado ao cêntimo, nada é gasto sem razão.
Numa destas semanas, precisei de facultar o meu número de telemóvel às minhas alunas. Fi-lo pela primeira vez na vida, mas a verdade é que, depois de muito ponderar, concluí que iria simplificar substancialmente a comunicação necessária em virtude de um projecto desenvolvido em comum. Enviei-lhes uma mensagem e que resposta recebi? Nenhuma, zero, nicles. Certo é que a comunicação não carecia de resposta, mas que tal um obrigada, por exemplo? Quando as questionei sobre a recepção da mensagem e concluí que todas a haviam recebido sem piar, repreendi Então e não sabiam responder? O meu reparo foi recebido com apreensão Setora, o telemóvel da setora é um 96… Repondi A quem o dizem! E o vosso um 91! Riram-se meio envergonhadas e ficámos por ali. Passado uns dias na aula, e uma vez que se aproximava o teste, uma delas veio ter comigo para que lhe tirasse umas dúvidas. Abeirou-se de mim e após uma explicações sobre a dolorosa gramática alemã solicitou-me que lhe escrevesse no caderno as ditas. Recusei a princípio, argumentei que desde o décimo ano que andamos a falar daquilo, que o teria já escrito inúmeras vezes. A C. não se deu por achada e continuou Vá lá, setora! Fica com a sua letra… Claro que os professores são, por vezes, um pouco como os pais e têm dificuldade em resistir a uma choradinho bem feito, à voz melada e a expressão franzida dos rostos imaculados. Saquei do lápis e ao centro da página, com letra bem legível e redonda e deixando uma linha de intervalo, escrevi:


Grundstellung = Ordem directa
Umstellung = Ordem Inversa
Endstellung= Ordem Transposta

A C. elogiou-me a letra e, imediatamente após, soltou um reparo acusador Ó Setora, gasta-me a folha toda! Retorqui Forretas! Mas que coisa, meninas! Elas riram-se e, de seguida, a C. desenrolou o rol de tarefas que leva a cabo para não gastar dinheiro. Fiquei impressionada. No futuro, esta geração vai ficar na história como a que conseguiu sobreviver ao efeito Sócrates. Se se paga taxa moderadora apenas nos primeiros dias de internamento, os pais ficarão meses a fio no hospital certamente. Filhos desta estirpe serão até capazes de administrar um laxante aos progenitores e familiares para prolongar a estadia nas instalações hospitalares. Antes isso do que esbanjar dinheiro sem necessidade. Onde é que já se viu gastar tanto?

domingo, 17 de dezembro de 2006

A alternadeira

Sempre tive a Dom Quixote como uma editora séria, menos permeável a lixos encadernados. Afinal é a editora de António Lobo Antunes, de Manuel Alegre também. Foi com espanto que verifiquei que a mesma editora é responsável pela edição do livro da alternadeira do Porto, não por ser alternadeira, cada um leva a vida como sabe e pode, mas pelo nível inexistente das declarações e atitudes com que amiúde nos tem oferecido nos canais televisivos. Ao que parece já não sabem viver sem ela. Tenho um profundo desprezo por mulheres que encontrando num homem a sua fonte de rendimento e que, uma vez seca, vêm para os meios de comunicação fazer-se de vítimas, coitadinhas e que para cúmulo ainda falam em nome dos seus filhos. Mulher alguma, que se digne do seu género, evoca o nome dos filhos nestas situações. Dir-me-ão que nada entendo de maternidade na primeira pessoa, muito provavelmente terei uma ideia mitificada do que é trazer filhos ao mundo, mas a acreditar no sublime com que algumas mulheres descrevem a condição, a maternidade deveria ser incompatível com este lavar de roupa suja mesmo nas barbas de qualquer um de nós, a bem do equílibrio e bem-estar das crianças. Com menos espanto verifiquei que o dejecto em forma de livro, assim e muito bem o classificou Miguel Sousa Tavares, ia já em quarta edição. Que há leitores para tudo nunca houve qualquer dúvida, que há editoras para tudo também já havia pouca margem de dúvida, que afinal as editoras não têm um nome a defender constitui alguma novidade. À semelhança da profissão anterior da autora do livro, a editora tem um critério óbvio, quem lhe der mais dinheiro é quem a tem. Agora digam-me que Portugal até tem coisas boas, que nos outros países também é assim e tal. Pode até ser, mas nada disso retira uma vírgula ao longo texto de idiotices de nível execrável e abjecto com que nos deparamos aqui neste Portugal cada vez mais de pequeninos de espírito.

Natal

Mercado de Natal
Budapeste

Foto: minha

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Factor acessório

Diz-me a C. que não entende as pessoas de quarenta anos. Que não compreende, que não entende, que as pessoas quando chegam aos quarenta anos deixam de fazer sentido. Ressalva, genuína, que a mim não se aplica a convicção, provavelmente por não me conhecer bem ou apenas por eu ser sua professora. Continua com o ar de quem se mantém aquém desse conhecimento dos adultos, embrenhada nos livros, perseguindo como nunca vi antes o seu objectivo. Há dias em que apenas não quer saber e é sorridente como as restantes garotas da sua idade. Diz-me apenas a Setora é amiga e brinda-me com um sorriso. Tivesse eu dezoito anos, a mãe na Moldávia permanentemente deixando ao critério da filha o que fazer, mudando de opinião, hoje vou, hoje fico, amanhã não sei, pensaria exactamente da mesma forma. Há pessoas que não fazem sentido, os quarenta anos são um mero factor acessório.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

O rosto e os cargos

Dizia há pouco Marques Mendes a propósito da morte de Sá Carneiro que tinha morrido um Primeiro-Ministro e um Ministro das Finanças. Nada que me leve muita preocupação. Os homens devem ser mais importantes do que os cargos.

Bater no ceguinho

Nem sempre os professores conseguem medir com exactidão ou prever com rigor o que está para acontecer nas suas aulas. Na verdade, acredito que este será também um dos encantos de se ser professor, a total ausência de rotina e a surpresa que cada minuto, hora ou aula encerra.
Desta feita, estávamos na aula a ler uma entrevista com a
Wangari Maathai, a propósito das questões ambientais. Não obstante as alterações bruscas de clima e as inúmeras advertências em torno deste tema, os alunos continuam a pensar que aquilo é coisa dos livros, muito provavelmente inventada pelos professores para lhes moerem o juízo. Um desses dias quando lhes falei no vórtex de lixo no Pacífico, arregalaram bem os olhos e foram questionando o que acabara de dizer Mas isso é mesmo verdade, stora? Do tamanho do Texas? Sim, sim é verdade, sim é do tamanho do Texas. Estou certa que este assunto não se enquadra nas tipo coisas fixes que eles tanto querem, legitimamente talvez, e, portanto, torná-lo num assunto interessante mesmo com filmes, documentários e uma panóplia infindável de materiais autênticos não se apresenta como tarefa fácil. Na escola aprende-se o que vem nos livros, não o que se passa na vida, logo, tudo o que se situa além da sala de aula está sempre distante e aparentemente não é chamado para dentro daquelas quatro paredes.
Algures, lá para o fim da entrevista, Waangari Maathai reafirma uma tomada de posição controversa relativamente ao VIH/Sida. Ao debatemos a opinião, aproveitei a para chamar a atenção dos alunos pela enésima vez acerca dos perigos de contágio do VIH e reiterei o que sempre reitero junto deles, que nos devemos proteger sempre, e sempre é sempre, sem qualquer excepção. Aprender é também aprender a viver. Eles acataram, disseram que sim, que sabiam, sim, já sabiam, certamente aquela seria também a enésima vez que ouviriam o conselho. Sim, stora sabemos, mas mesmo antes de eu ter tempo para pensar fosse no que fosse, um deles virou-se para o colega e disse, recriminador, Ouviste, João*? O João ouvira. Esboçou um sorriso meio tímido e eu com ele um meio amarelo. O pobre João é o único dentro da sala de aula que consegue destacar-se dos restantes, até de mim própria. Foi pai, já neste ano lectivo, obviamente não por vontade própria, mas por não se ter protegido sempre, tal como eu acabara de acentuar. Tamanha prontidão no processamento de informação deixou-me sem resposta. A mim e ao João.

*nome fictício

sábado, 2 de dezembro de 2006

O maior do mundo

A maior feijoada do mundo, a maior broa do mundo, o maior cachecol do mundo, o maior desfile de Pais Natal do mundo, a maior salada de fruta do mundo, a maior paella do mundo, o maior gaspacho do mundo, o maior Pai Natal articulado do mundo. Em breve Portugal será o maior do mundo a fazer as coisas mais inúteis do mundo.