Não sou facilmente influenciável
mas sou facilmente sugestionável. Se estiver por aí tranquila e vir um anúncio
pode até ser numa revista brilhante a um vinho, um belo copo com vinho tinto, a
cor e a luminosidade perfeitas conseguidas apenas com as técnicas mágicas de
manipulação de imagem, apetece-me um vinho, tinto pois claro. À temperatura ideai
bebericado de um copo bojudo, sempre de um copo elegante e generoso, odeio copos
pequenos para beber vinho, fará as minhas delícias, o deleite dos tolos que se
inebriam com os sentidos deixando a vida tormentosa aprisionada na despensa a
espernear entre os garrafões de água e os pacotes de farinha. Se ler uma
receita ou vir a imagem apetece-me o que vejo ou o que leio, desde que seja apetitoso
e me atice os apetites indómitos. Pois. Isso. Também.
Desde ontem que desceu sobre mim
esta vontade. Cruzei-me com ele algures em 2010 numa livraria em Edimburgo. Um
ano mais tarde voltei a vê-lo numa livraria em Londres, em mais do que uma, e
posteriormente em Liverpool encontrei-o outra vez. Destas três vezes, o tamanho
e a letra pequena demoveram-me, não sem antes pegar e largar, dar-lhe voltas,
ler lombadas e badanas. Provavelmente ter-lhe-ei metido o nariz. Há lá aroma
melhor que uma pilha de livros novos? Três vezes o vi e três vezes o recusei,
valham-me os deuses que isto de recusar três vezes faz-me lembrar outras
estórias, e ontem depois de ter visto o filme, aqui deitada no remanso de fazer
coisa nenhuma, enquanto o corpo se aninhava no colo da noite, fiquei cheia de
apetite, fome, desejo, ganas, vontade do livro. E assim estou desde ontem.
Doida de fome de um livro. Do livro. Deixava já a Herta Müller que me mantém
entediada e intrigada por ele. E inquieta por não o ter. Eu disse que era sugestionável. Estou faminta.