O coxo não é manco, é coxo. Coxeia para um lado e para o outro com uma flexão ao centro. O coxo não coxeia para cima e para baixo como outros coxos. O coxo não coxeia com igual intensidade, faça chuva ou faça sol, para esquerda ou para direita com uma ligeira flexão ao centro. O coxo é mais novo que o cego, mas algo me diz que, nos dias em o coxo coxeia mais, vê menos que o cego que aquilo é um coxear etilicamente impulsionado. Nesses dias o coxo coxeia muito e coxeia para um lado e para o outro, para cima e para baixo, às vezes cuida-se que se vai estatelar no chão, mas equilibra-se, ergue-se mais um pouco e depois mais uma desequilibradela, à esquerda ou à direita. Mas isto é mais nos dias em que o coxo vê menos do que o cego.
O cego e o coxo têm vidas tranquilas, mais o cego que o coxo, é certo, mas que julguei periclitantes quando apareceram um dum lado e outro do outro lado da rua onde mal cabe um carro. O coxo para a esquerda e para a direita, o cego às bengaladas para a esquerda e para a direita, e o coxo para cá e para lá num equilíbrio instável na berma da rua sem passeios, e eu que deslizava cuidadosamente entre o coxo para a esquerda e para a direita, para cima e para baixo, e o cego, bengalada cá, bengalada lá, pensei por momentos que lá se iam, ou o coxo ou o cego, ou o coxo ou o cego, ou o coxo ou o cego, o cego ou o coxo? O coxo ou o cego? O coxo? O cego? O coxo! Ai, que é o cego e isto até chegar ao cruzamento e ver o coxo para a esquerda e para direita e o cego, bengalada aqui, bengalada ali, pelo espelho retrovisor e a rua a estreitar-se cada vez mais e a desaparecer à medida que me afastava. E ainda há quem diga que a vida na aldeia é aborrecida.